Primeiro contato

Os anos se passaram desde a trágica perda de Chelsea, mas as cicatrizes ainda perseguiam Free Goshui, que estava levantando de uma noite turbulenta após mais um pesadelo recorrente.

Ao se levantar, Free pegou seus aparelhos auditivos e os colocou no ouvido, visto que na infância, sofrera um acidente que quase o deixou surdo e tirando-lhe oitenta por cento de sua audição, após isso, foi até a sala tomar um pouco de café para iniciar o dia.

— Free, eu tenho percebido que você não tem dormido bem ultimamente, o que está acontecendo? — perguntou Tomone, sua mãe. O tom de sua voz era calmo, mas refletia preocupação.

— A senhora está certa, desde aquele dia eu não consigo dormir direito... — respondeu Free, seus olhos azul-safira refletindo seu cansaço da noite anterior.

— Só de pensar que eu não consegui ajudar a Chelsea quando ela precisou, isso me corrói! —completou ele, com os olhos marejados.

— Ah filho, não foi sua culpa... Ela estava passando por uma luta interna... — Tomone responde abraçando Free.

— Se eu pudesse voltar... — respondeu Free, indo as lágrimas ao lembrar de sua amada irmã.

— Tome um pouco de café... — Tomone responde enquanto serve uma xícara de café para Free.

Após tomar um café reforçado, Free foi até o armário pegar baterias extras para seus aparelhos auditivos, caso eles falhem na escola, e após sair em direção ao colégio, um flashback de sua infância passou na mente de Free como um filme antigo em VHS.

— Free? — chamou Chelsea, sua irmã mais velha.

— O que houve, Chelsea? Está tudo bem? — perguntou Free, com um tom de curiosidade. Sua voz refletia a inocência de sua infância.

— Quero conversar com você um pouco... — respondeu ela, enquanto Free se aproximava e deitava no seu colo.

— Mas antes eu queria te fazer uma pergunta... — completou, acariciando a pelagem branca e densa do irmão.

— Que pergunta? — Free pergunta com curiosidade, os olhos brilhando.

— Você sabe o real motivo que você nasceu com uma força maior que a de muita gente? — perguntou Chelsea, com um tom melódico.

— Não, não sei... — respondeu Free, que não época era só uma criança.

— Eu vou dizer então: você nasceu forte assim, mas foi para ajudar os outros. Os que nascem com alguma espécie de dom ou habilidade especial devem apenas usá-los para ajudar quem se precisa... O poder foi criado para ajudar os fracos, e não para uso pessoal ou para fazer maldade ou semear a bagunça. — explicou Chelsea, tentando segurar o choro.

— Meu sonho é entrar para a polícia militar! — respondeu Free, olhando para Chelsea.

— Eu acredito em você, Free... Um dia você será o melhor policial militar, mas lembre-se, ajude os outros, mesmo que seja só uma pessoa... Ajude quantas puder e se cerque de pessoas que você protegeu ou ajudou... — Chelsea pede enquanto Free se levanta e a abraça.

— Eu prometo, vou usar minha força apenas para ajudar os outros... — respondeu Free, sorrindo um pouco abraçando sua irmã.

— Free... Você é o único e melhor irmão que eu já tive na vida, me perdoe por não ser forte! —  Chelsea responde, chorando já em lágrimas.

Voltando ao presente, Free estava chegando na escola Elmore, e ao chegar na sala de aula em que seria alocado, Free logo entrou nela e ficou observando os rostos da sala, e após checar se seus aparelhos estavam funcionando normalmente e ter a certeza disso, Free deu um passo a frente.

— Free Goshui, não é? Sente perto da senhorita Leonheart! — pediu o professor de química, enquanto Free ia para algumas cadeiras atrás da carteira de Sheele.

Após se sentar, Free ficou observando algo que lhe atraiu a atenção: um dos alunos constantemente ia perturbar Sheele sem motivo aparente ou explicação lógica, mas ela não fazia nada sobre isso.

Observando a situação de longe, Free sentiu uma curiosidade crescente. Por que Sheele estava sempre sendo incomodada daquele jeito? No intervalo, ele pegou sua bandeja e procurou um lugar mais calmo para se sentar. Encontrou uma mesa isolada, de onde era possível ver o clube de jardinagem do colégio. Por coincidência, Sheele estava lá, sentada sozinha, absorta em seus pensamentos enquanto terminava sua merenda.

Free se aproximou, tentando soar amigável, embora sua voz tenha saído um pouco mais alta do que ele pretendia.

— Bom dia, posso me sentar aqui com você?

Sheele ergueu os olhos rapidamente, surpresa, e respondeu em um tom defensivo.

— O que você quer de mim? Sai de perto! Não quero conversa com você, Lean! — a javalina responde com um tom amedrontado.

Free levantou as mãos em um gesto apaziguador.

— Ei, calma! Eu não sou esse Lean... Só estou procurando um lugar tranquilo para ficar no intervalo. — respondeu Free, tentando acalmar a situação.

Sheele piscou algumas vezes, como se processasse a situação, e suspirou aliviada.

— Ah... Você não é o Lean? Me desculpa, achei que era ele vindo mexer comigo de novo. — Sheele responde analisando Free de cima a baixo como um raio x.

— Tudo bem. Meu nome é Free Goshui. Sou novato na sua sala. — disse ele, sentando-se e oferecendo um sorriso amistoso.

Sheele o observou por um momento, parecendo medir suas intenções.

— Você fala um pouco alto... Pode evitar isso? Meus ouvidos são sensíveis. — pediu Sheele, se sentindo desconfortável com o tom de voz de Free.

Free pareceu lembrar de algo e ajustou os aparelhos auditivos em suas orelhas.

— Ah, isso explica... Desculpa. Meus aparelhos devem estar mal regulados. — observou Free.

Sheele inclinou a cabeça, surpresa.

— Você usa aparelhos auditivos? Não sabia... — Sheele responde enquanto Free regula seus aparelhos.

Ele assentiu.

— Sim, mas não sou completamente surdo. Ainda consigo ouvir uns vinte por cento em cada ouvido. — explicou, tentando manter o tom de voz mais baixo dessa vez.

Sheele o encarou com curiosidade, mas não disse nada. Aos poucos, a tensão entre os dois pareceu se dissolver, dando espaço para algo mais leve e menos desconfortável, e foi quando Lean, um leão branco de olhos vermelhos chegou na mesa de Sheele a fim de perturbá-la.

— Olha só! E não é que a javalina gorda e medrosa achou um amiguinho novo! — Lean zomba olhando para Sheele com um olhar de desprezo.

— O que você quer aqui? — Free se levanta e se põe entre Lean e Sheele.

— Sai da frente, tá me atrapalhando! — Lean responde empurrando Free um pouco pra trás.

— Olá, Leonheart! Ainda comendo a merenda! — Lean responde pegando a cabeça de Sheele e jogando no prato de Free.

— Deixa ela. — Free responde com um tom sério e frio, pegando no braço de Lean e apertando um pouco.

— Vai fazer o quê? Meu pai é o diretor desse lugar! — Lean responde enquanto Free tirava a mão de Lean de perto de Sheele.

— Você já irritou demais por hoje. Deixe ela em paz e eu não vou precisar usar a força com você... — Free responde apertando mais o braço de Lean, apenas o suficiente para causar dor a ele.

— Tá bom, tá bom... Que saco! — reclamou Lean, saindo de perto de Free e sumindo no corredor.

Assim que Lean saiu de perto deles, Free foi com Sheele até um bebedouro para tomar uma água para acalmar os nervos, e assim que ela terminou de lavar o rosto, ela ficou se perguntando por que motivo Free a defendeu de Lean.

— Seu nome é Free Goshui, não é? Obrigada por me defender do Lean! — agradeceu Sheele, com um tom grato.

— Eu esqueci de me apresentar não foi? Meu nome é Sheele Leonheart! — completou ela, se apresentando.

— Ah, não tem de quê! Eu só fiz o que era certo naquele momento... — respondeu Free, olhando para Sheele.

— Mas, por que ele faz isso? Ele sempre mexeu com você? — perguntou ele, com um tom de curiosidade.

— Por eu simplesmente ser uma javalina fraca, gorda e feia! E honestamente, eu me odeio por isso! — Sheele responde com os olhos marejados, enquanto deixava algumas lágrimas rolarem.

— A partir de agora, eu vou te proteger dele. — Free afirma com uma voz suave, abraçando Sheele.

— E não diga isso de si mesma, você é uma javalina linda e gentil... — respondeu Free, enxugando as lágrimas de Sheele.

— Muito obrigada, você é o primeiro a dizer isso de mim! — Sheele ressalta ainda chorando um pouco.

— Se depender de mim você nunca mais vai chorar de novo, eu prometo... — Free responde enquanto ainda abraçava Sheele.

Após aquele momento, Free e Sheele foram para a sala que estava um tanto vazia mas estava tranquila.

— Free, posso fazer uma pergunta? — perguntou Sheele, olhando para Free.

— Pode sim! — respondeu ele, olhando de volta e fazendo contato visual com ela.

— Por que você me protegeu do Lean? — perguntou Sheele, com um tom de curiosidade.

— Eu não gosto de caras que agridem mulheres... — respondeu Free, olhando para o pingente da foto de Chelsea em seu colar.

— Quem é na foto? É que desde que te vi notei esse pingente... — perguntou Sheele, com um tom de curiosidade e interesse.

— Minha irmã mais velha... — respondeu Free, mudando sei semblante aos poucos.

— Estranho que não a vi com ela, irmãos geralmente ficam na mesma sala... — comentou Sheele, vendo que os olhos de Free se marejavam.

— Infelizmente, ela não está mais nesse plano... Ela infelizmente se matou por causa do bullying pesado que faziam com ela na escola. — Free responde já em lágrimas.

— Free, eu não sabia disso! Me desculpe por tocar nesse assunto! — respondeu Sheele, chocada ao saber da história.

— Tudo bem, foi minha culpa... Se eu a tivesse ajudado ela estaria aqui comigo! — Free fala ainda em lágrimas.

— Eu fui um irresponsável mesmo! — completou ele, lembrando de como Chelsea partiu dessa vida.

— Eu entendo como se sente, Free... — respondeu Sheele, o abraçando fortemente.

Após ali, as aulas retomaram e na saída, Free e Sheele se encontraram para irem para casa.

— Free, você ficou ressentido que eu perguntei da sua irmã? — perguntou Sheele, o tom preocupado.

— Não, tô tranquilo... — respondeu Free, forçando um sorriso de canto.

— Você não devia guardar tanta mágoa dentro de si, uma hora elas vão transbordar e lhe afogar por dentro! — Sheele fala com um tom preocupado, chegando perto de Free.

— E pensar que ela acreditava que eu seria forte pra ajudar quem precisasse, quando na verdade sou eu quem preciso de ajuda... — respondeu Free, enxugando o rosto.

— Você me lembra um pouco da Chelsea... — ressaltou ele, olhando para Sheele.

— É o nome da sua irmã? — perguntou Sheele, com curiosidade.

— Sim, e... ela era a pessoa mais doce que já conheci na vida e de alguma forma, você me lembra dela... — respondeu Free, lembrando da última conversa que teve com sua irmã.

— Você não precisa carregar esse peso todo sozinho, Free... As vezes a gente tem que dividi-lo... — ressaltou Sheele, pegando na mão de Free.

— É esse o real motivo que o levou a me proteger do Lean? — perguntou ele, com um tom de curiosidade e preocupação.

— Sim, pois eu não quero que outras pessoas passem pela mesma dor que a Chelsea... — respondeu Free, olhando pro céu.

— Entendo perfeitamente sua motivação... — Sheele responde olhando preocupada para Free.

— E sobre o Lean, pode ficar tranquila. De agora em diante, eu vou te proteger dele se ele quiser mexer com você... — afirmou Free.

— Talvez assim eu consiga honrar as memórias da minha irmã... — completou ele, olhando para Sheele.

Após andar algumas quadras, Sheele chegou na sua casa e se despediu de Free com um abraço, entrando em casa.

— Vejo que alguém está bem animada, o que aconteceu hoje? — perguntou Mizuki, mãe de Sheele.

— Conheci um amigo novo, e ele me protegeu do Lean! — comentou Sheele, animada ao contar a história para sua mãe.

— Quando posso conhecê-lo? — perguntou Mizuki, com um tom de curiosidade.

— Não sei, ainda não peguei o número dele! — respondeu Sheele, rindo um pouco.

— E sabe porque ele te defendeu? — perguntou Mizuki, curiosa em saber.

Sheele fez uma pausa, lembrando do desabafo de Free.

— Ele perdeu a irmã por causa do bullying que a sofria, e ele não quer que outros passem pela mesma dor... — respondeu Sheele.

— Ele não gosta que falem sobre isso... — comentou ela.

— Irei evitar falar sobre esse assunto com ele, deve ter sido doloroso a perda de alguém tão importante assim... — respondeu Mizuki.

Após ali, Mizuki e Sheele foram para a cozinha jantar um pouco e enquanto isso, Free chegava em casa depois do dia de hoje na escola, indo para o quarto recarregar os seus aparelhos auditivos.

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