Lorena
Acordei com gosto de sangue na boca e cheiro de morte no ar. A língua cortada, os lábios rachados, os pulsos amarrados num cano enferrujado que roía minha pele como bicho faminto. O chão era puro concreto gelado, encharcado de umidade e ódio. Um porão. Mas não era de filme, não. Era da vida real. E o nome do desgraçado que me trancou ali era Jonas Duarte. Meu pai. Ou melhor… o monstro que me fez nascer e achou que podia me possuir pro resto da vida.
— Acordou, princesa? — a voz dele veio das sombras, debochada, venenosa, nojenta.
Minha garganta ardia, mas segurei firme.
— Como pôde fazer isso comigo? Me prender como se eu fosse um animal? Isso é doença… você está doente. — minha voz saiu arranhada, mas firme. — Você passou de todos os limites.
Ele deu uns passos pra frente, saiu das trevas. Terno alinhado, sapato brilhando, mas o olhar? Vazio. Igual de bicho morto por dentro.
— Limite é coisa de fraco. Eu não sou fraco, Lorena. Eu sou teu pai. E não vou te ver nos braços de um