Victor passou a noite em claro. Não escrevendo. Não falando. Apenas sentado na varanda, olhando para o céu como se esperasse que alguma resposta viesse das estrelas. Desde que ele soube que eu havia lido o caderno, algo mudou. Não entre nós — mas dentro dele. Era como se uma porta tivesse se aberto, e atrás dela estivesse tudo o que ele tentou esconder por anos.
Na manhã seguinte, ele me entregou o caderno. Não com hesitação, mas com uma espécie de entrega silenciosa. — Quero que você leia tudo — disse, sem olhar nos meus olhos. — E depois me diga se ainda acha que vale a pena contar.Li cada página. Não eram textos organizados. Eram fragmentos. Memórias quebradas, frases soltas, imagens que pareciam ter sido arrancadas da pele.“Ele me batia quando eu errava. Ele me batia quando eu acertava demais. Ele me batia quando eu chorava. E quando eu não chorava, dizia que eu estava me tornando frio como ele. Eu não sabia como vencer. Só como sobreviver.”