Capítulo 1 – É só um trabalho.

Juliet Pierce

Alguns meses depois...

Estava no meu quarto me arrumando. Samantha havia conseguido mais um freelancer para nós duas. Ainda preciso de um emprego fixo, mas já fui a cinco entrevistas só neste mês e nada.

Minha reserva está se esgotando, e esses freelas em que a Samy sempre nos coloca ajudam nas contas. Mas, em dois dias, tenho uma nova entrevista, e algo dentro de mim me diz que vou conseguir.

Já faz alguns meses que não tenho notícias do George, e que assim permaneça. O Brooklyn é perfeito. Fiz bons amigos, as crianças adoram e, o mais importante, fica a mais de mil quilômetros de Charleston.

— Querida, vou levar as crianças para casa. — A voz da Celeste ecoou atrás de mim.

— Obrigada. — Eu disse, me virando e segurando suas mãos.

Celeste é minha vizinha, assim como a Samy. E, nos últimos meses, tem me ajudado muito com as crianças, que a chamam de “Vovó Celeste” e ela adora.

— Não precisa me agradecer, eu adoro essas crianças. — Sorri para ela.

— Vou só me despedir deles. — Ela concordou, e seguimos para a sala, onde meus pequenos estavam com a mala pronta.

— Pensei que iam passar só uma noite... por que a mala? — Coloquei as mãos na cintura como se estivesse realmente indignada.

— A vovó Celeste vai nos levar ao parque amanhã cedo. — Disse Laurinha.

— E a senhora sempre dorme até tarde quando trabalha com a tia Samy. — Foi a vez do Heitor.

— Tudo bem. — Respondi, abrindo os braços, e os dois correram para me abraçar. — Se comportem. E amanhã, no parque, não saiam de perto da Celeste.

Os dois assentiram. Abracei apertado meus pedacinhos de amor, os beijei, e nos despedimos. Celeste pegou em suas mãos e seguiu para a porta. Antes de sair, sussurrou um “bom trabalho”, e eu respondi com um “obrigada”, lançando um beijo para ela e para as crianças novamente.

Voltei para o quarto para colocar o salto e terminar de arrumar meu cabelo.

— Ju! — Samy me gritou da sala.

— Tô indo! — Peguei minha bolsa, e coloquei o celular dentro, encontrei Samy, peguei minhas chaves e fomos. Eu quase não uso o carro, mas o tal lugar de hoje era bem distante, e para voltar seria nossa melhor opção.

— Tem certeza que é aqui? — Perguntei, olhando com desconfiança para o local, assim como ela.

— Sim, é o endereço. O Edu disse que é um lugar mais reservado, aberto só a membros. Pediu para falarmos com um homem chamado Atlas.

Assenti, e descemos do carro. Nos ajeitamos e caminhamos até a porta. Não havia maçaneta, nem campainha. Era uma enorme placa de aço escuro, fundida à parede.

Mas estávamos em Hell’s Kitchen. O bairro inteiro gritava ousadia. Um tipo de ousadia que beirava o perigoso.

— Acho que você precisa bater — eu disse, meio em tom de brincadeira, meio séria.

— Será que é um daqueles lugares ultra secretos, cheios de mafiosos? E pra entrar precisa de uma batida secreta tipo toc-toc... pausa... toc-toc-toc? — Samy murmurou, fazendo gestos. Nós duas rimos baixinho, nervosas.

— B**e logo, garota — incentivei, mesmo sentindo meu estômago revirar.

Antes mesmo que ela estendesse a mão, a porta deslizou com um chiado suave, revelando um homem com quase dois metros de altura, ombros largos e expressão de poucos amigos.

— Posso ajudar? — A voz dele era grave e firme, como um trovão abafado.

— Sou Samantha Jones, e essa é Juliet Pierce. Eduardo Garcia quem nos mandou. Seremos garçonetes essa noite. — Ela respondeu, tentando manter a voz estável.

— Deixe-as entrar, Wolf — disse uma voz masculina firme, que ecoou por um visor acima. Um ponto vermelho piscava, indicando que estávamos sendo vigiadas desde que chegamos.

Wolf nos deu passagem, e apenas disse:

— Sigam o corredor até o final.

Assentimos em agradecimento e entramos. O corredor era largo, mas mergulhado em penumbra. O piso de cimento queimado refletia luzes vermelhas muito sutis, saindo de luminárias escondidas nas laterais e criando sombras que dançavam conforme nos movíamos. Era como atravessar um segredo.

Segurei a mão da Samy com mais força.

— Estou começando a achar uma péssima ideia ter aceitado esse emprego — sussurrei.

Ela apenas sorriu, mas não respondeu.

Seguimos pelo corredor escuro, que parecia se estender sem fim. As paredes davam a impressão de estarmos entrando em algum tipo de abrigo subterrâneo ou prisão. O som abafado da música ficou mais forte a cada passo, até que, de repente, o corredor terminou em uma porta espelhada que se abriu sozinha.

Eu parei no mesmo instante.

— Juliet… — Samy sussurrou. Sua voz saiu trêmula, como se ela também não soubesse o que dizer.

Diante de nós, não havia uma simples boate.

O espaço era imenso, com tetos altíssimos e uma iluminação dramática feita de luzes vermelhas e douradas, que criavam sombras misteriosas nas paredes escuras. Mas não era só isso. Havia algo... diferente. Algo quase palpável no ar. Como um segredo sussurrando nos ouvidos.

Meus olhos tentavam absorver tudo de uma vez, mas pareciam não dar conta. Do lado esquerdo, havia um tipo de palco com um pole dance no centro, mas ao invés de dançarinas, havia um casal. Ela estava vendada, usando apenas lingerie, de joelhos. Ele, com o peito à mostra, exibia uma tatuagem que descia do ombro até as mãos. Apenas a observava, como se estivesse decidindo o que faria com ela.

De repente, como se sentisse meus olhos sobre ele, virou-se na minha direção. Tentei desviar o olhar, mas não consegui. Era como se, de alguma forma, ele tivesse me prendido ali.

Desviei rapidamente para o canto oposto. A imagem não ajudou: uma mulher presa pelos braços a uma estrutura de metal arqueava o corpo em resposta a toques leves de algo que parecia uma fita de couro. O homem, como o outro, usava apenas calça, com uma tatuagem parecida. Havia risos. Sussurros. Gemidos. Mas nenhum deles soava vulgar. Era tudo... assustadoramente elegante.

— Meu Deus… — murmurei, sentindo minhas bochechas queimarem. Meu estômago deu um nó.

Era como se tivéssemos atravessado uma porta para outra realidade.

— Ju… que lugar é esse? — Samy sussurrou, apertando minha mão.

Eu apenas balancei a cabeça. Não sabia o que dizer. Não fazia ideia do que era aquele lugar…

Foi então que um homem alto, de blazer escuro e camisa preta com alguns botões abertos, surgiu à nossa frente com uma presença marcante. Ele parecia ter saído de um filme: cabelo preso num coque baixo, olhos castanhos intensos demais para serem ignorados, e um ar tão sério que dava medo de piscar errado.

— Samantha Jones e Juliet Pierce? — A voz dele era profunda e segura.

Assentimos quase em sincronia.

— Sou Atlas. Bem-vindas ao Paradise. — Ele deu um leve sorriso, mas seus olhos não sorriram.

— Nós... — comecei, mas minha voz saiu fraca. Tentei de novo: — Viemos para trabalhar como garçonetes. Eduardo Garcia nos indicou.

— Sim. Fui informado. — Atlas passou os olhos por nós como se analisasse cada detalhe. Não de maneira vulgar, eu conhecia bem um olhar cretino. Ele nos observava como quem precisava ter certeza de que estávamos mesmo no lugar certo. — Imagino que esta seja a primeira vez de vocês em um clube assim.

— Está tão óbvio assim? — Samy perguntou, tentando disfarçar o nervosismo com um sorriso.

— Extremamente. — Ele respondeu sem um pingo de sarcasmo. Apenas constatação.

Meu coração batia forte demais. O perfume no ar era doce e amadeirado, a música vibrava no meu peito, e cada canto daquele lugar parecia esconder algo que eu não estava pronta para ver.

— Venham. Vou mostrar onde podem deixar seus pertences. — Atlas virou-se, nos dando passagem. — Depois, explicarei as regras.

— Regras? — perguntei, engolindo seco.

— Sim. Temos regras aqui, e é estritamente necessário que vocês as obedeçam.

— Não somos quebradoras de regras… — Samy disse nervosa. — A Ju nem mesmo atravessa fora da faixa.

Olhei para ela arqueando uma sobrancelha, como quem diz “o que é isso?”, e claro que ela entendeu, sussurrando logo em seguida:

— Desculpa, tô nervosa.

Atlas observava nossa interação, mas não interveio. Ele parecia se divertir com nosso jeito “inocente”.

— Podemos seguir, senhor Atlas. Nos desculpe. — Ele deu um sorriso de canto, mas não era por simpatia. Era como se tivesse gostado do que eu disse.

Ele nos pediu para continuarmos seguindo. Abriu uma porta:

— Esse aqui é o vestiário de vocês. Podem deixar suas coisas aqui. No banco estão as roupas que vão usar. — Fez sinal para que entrássemos. — Vou dar privacidade a vocês. Assim que terminarem, fiquem aqui na porta me esperando. Não andem pela boate antes de saberem as regras por aqui.

Assentimos e ele saiu, fechando a porta. Dei dois passos. E o que meus olhos viram…

— Minha Nossa Senhora das Mães Solteiras…

— Puta merda! — Samy disse.

E foi nesse momento que eu soube: essa noite estava só começando. Eu só ainda não sabia se seria um pesadelo… ou a melhor experiência da minha vida.

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