9

Isadora

Após assinar o contrato com o Senhor D’Angelo em poucos dias tudo começou a acontecer em minha vida e como um passe de mágica. Um telefonema do banco falando que a hipoteca da casa onde nasci e cresci já estava quitada, os credores que simplesmente sumiram da minha porta e minha mãe que foi transferida para uma clínica particular especializada em oncologia. Finalmente estava respirando aliviada! Os passos seguintes seriam cronometrados. D’Angelo e eu teríamos uma cessão de fotos que contaria a nossa "história de amor" e seu assessor cuidaria dos boatos do casamento do tão cobiçado "Leão dos negócios". No final, ele olhou nos meus olhos e disse: prepare-se para a melhor parte! Perguntei-me se havia algo melhor que deitar a minha cabeça no travesseiro e dormir o sono dos justos sem lágrimas, sem lamentos e sem pensar no dia seguinte? Com certeza não haveria.

— Pronto, a sua mãe já está bem acomodada e será que podemos conversar agora? — Doutora Monique Toledo disse ao se aproximar me tirando dos meus devaneios. Olho para a porta com que acabara de passar e vejo de relance a minha mãe deitada em uma cama estreita de hospital, sendo acompanhada por uma equipe médica e faço sim com a cabeça, a acompanhando até o seu consultório. Assim que entramos na sala, Monique me aponta uma cadeira e eu me acomodo esperando que ela me diga algo. — Conseguimos puxar a ficha da sua mãe do Mayo Clinic. A sua última consulta foi com o doutor Jordan Pilates há cerca de quatro meses. Na época ratava-se de um tumor pequeno e se tivesse seguido com o tratamento talvez o tivéssemos vencido.

— E, o que isso quer dizer?

— Que agora ele está bem maior.

— Então, é o fim? — Estremeço com esse pensamento, mas ela me abre um meio sorriso.

— Eu não disse isso, Isadora. Ainda temos muitos exames para fazer, mas tudo vai depender dela. Sara precisa ser forte agora e principalmente, ela tem que lutar por sua própria vida. Depois disso, o tratamento é essencial.

— Entendi. Esse é o meu número, se puder me ligar para me manter a par de tudo.

— Soube que vai se casar. — O seu comentário me deixa um tanto atônita. — Ah, me desculpe! O Tadeu comentou comigo enquanto agilizávamos uma vaga aqui para a sua mãe aqui. Espero que não se incomode por falarmos sobre você e Heitor. Não é todos os dias que uma garota penetra aquele coração gelado. — Forço um sorriso simpático.

— As pessoas falam de Heitor como se ele fosse inalcançável — comento demonstrando certa intimidade ao usar o seu primeiro nome. — Mas se elas conhecessem aquele coração como eu o conheço. — Deixo a frase no ar e na sequência vejo que alcancei o meu objetivo. Monique arqueou as sobrancelhas perfeitas em admiração.

— Bom, acredito que não estamos falando do mesmo homem! — Ela rebate com um leve tom de humor e sorri em seguida, me fazendo sorrir também. Levanto-me e lhe estendo a minha mão para encerrarmos esse assunto antes que eu estrague tudo falando alguma besteira.

— Eu tenho que ir. — Ela se levanta em seguida.

— Imagino que sim. Dê um abraço no meu amigo.

— É claro. — Saio do consultório, mas não do hospital e vou direto para o apartamento que colocaram a minha mãe. A observo através de uma janela redonda de vidro por alguns instantes. Sara está sozinha agora e usando uma máscara de oxigênio. Também está tomando soro. Contudo, está dormindo e parece bem mais calma agora. Penso em entrar e ficar um pouco mais com ela, mas ao invés disso me afasto e me sento em um banco comprido no corredor, abaixando a minha cabeça para fazer uma prece silenciosa. Deus, eu não posso perdê-la, não posso ficar sozinha nesse mundo!

— Ei, está tudo bem aí? — Uma voz masculina me faz erguer os olhos e encontrar os fascinantes olhos escuros do Senhor D’Angelo. Aturdida, eu me ajeito no banco com uma interrogação martelando na minha cabeça no mesmo instante.

— O que faz aqui? — Ele dá de ombros.

— Eu vim falar com a Monique e finalizar as partes burocráticas pessoalmente.

— Ah! — É tudo que consigo dizer.

— Você está bem? — Ele repete a pergunta.

— É, eu... estou bem!

— Se me esperar só um pouquinho eu posso te levar em casa. — Arqueio as sobrancelhas de uma forma até petulante.

— Não, obrigada! Eu quero aproveitar o pouco que me resta da minha liberdade.  — Levanto-me e dou dois passos para me afastar, porém, sinto a sua mão segurar firme o meu braço e imediatamente ergo um olhar furioso, encontrando um par de olhos determinados.

— Cuidado com o que fará após passar por aquelas portas. Qualquer erro e o contrato será desfeito! — Era para me meter medo, mas não baixei a guarda e abri um sorriso audacioso para ele. Eu não sei o porquê, mas o Senhor D’Angelo tem o poder de arrancar o melhor de mim. De alguma forma me sinto forte perto dele, perco o meu medo de encarar o mundo e de seguir em frente, mas principalmente não consigo evitar de enfrentá-lo de igual para igual.

— Não se preocupe eu jamais estragaria o "nosso relacionamento." — Faço aspas com os dedos e atrevida pisco um olho para ele. Livro-me do seu agarre e caminho para a saída sem olhar para trás. Nossa, posso sentir os seus olhos fulminantes em minhas costas e saber disso deixa a minha boca seca imediatamente.

A verdade é que eu preciso ficar sozinha para pensar na minha vida e nessa prisão de ouro onde ficarei por um ano inteiro. Até lá não serei mais dona de mim mesma e terei que seguir um roteiro que eu não escrevi. Com certeza entrarei em uma briga de cachorros grandes e não poderei sonhar em fraquejar. Não por mim, mas farei tudo isso por ela. Entrar na minha antiga casa não foi fácil e confesso que estou surpresa de ver que tudo está de volta no seu devido lugar, até mesmo o que os credores haviam levado. Suspiro baixinho quando encontro o jornal que Andrew Dixon costumava ler todas as manhãs disposto sobre a mesinha de centro da sala. As janelas estão abertas e as cortinas esvoaça brincando com o vento. Um nó sufoca a minha garganta e abandono essas lembranças para ir ao meu antigo quarto. Preciso pegar algumas coisas minhas lá. No corredor lembro-me de John Dixon, meu irmão cafajeste e rio do seu comportamento extrovertido. Meu irmão tinha o dom de deixar essa família mais alegre. Ele conseguia mexer com todo mundo até mesmo com os empregados da casa e tinha uma facilidade incrível em nos fazer rir, mesmo quando o nosso pai estava carrancudo e preocupado com os negócios da família. Desligo mais essa lembrança e finalmente entro no meu quarto. Não me lembrava mais dessa decoração estilo princesa com suas paredes cor-de-rosa, um teto branco, uma penteadeira com luzes de LED e uma variedade assustadora de perfumes, cremes e maquiagens. Tudo mudou tão rápido que nem percebi. Caminho lentamente pelo cômodo apreciando a vida que não me pertencia mais e paro em frente a uma das janelas de onde tenho a visão completa dos largos portões de ferro pintados de branco, e consequentemente da rua por onde o meu pai passava com seu carro lustroso todas as manhãs quando saía para trabalhar. À noite quando voltava para casa eu sempre corria para encontrá-lo na porta da frente. Solto mais um suspiro, este um tanto melancólico e vou até a penteadeira. Abri uma gaveta e tiro de lá uma caixinha aveludada. Eu a abri com cuidado e encontro o broche que mamãe me deu de presente de quinze anos. Lembro-me que achei esse presente ridículo na época, mas agora ele tem um valor estimado para mim. Me casarei com ele mesmo que estrague todo o look de noiva sofistica. — Penso e rio do meu pensamento.  Guardo o objeto de volta na caixinha e o ponha na minha bolsa para sair imediatamente dali.

Quando todos os problemas vieram à tona e as ameaças dos cobradores, eu tirei minha a mãe de casa e fomos morar em uma casa menor e bem simples. E mesmo não havendo conforto estávamos mais seguras e sossegadas lá. Fazia tempo que não pisava os meus pés nesse lugar, principalmente porque acreditava que já estava perdido para o banco. Santo Senhor D’Angelo! Ralho em pensamentos. Ao chegar na minha atual casa observo um envelope dentro da minha caixa de correio. Contudo, olho de um lado e para o outro da rua antes de pegá-lo e vou para dentro de casa. Assim que passo pela porta largo os meus sapatos de qualquer jeito, enquanto abro o envelope movida de curiosidade e tiro de lá algumas folhas de papel. Um bilhete escapuliu dele e caiu no chão. Curiosa, eu o pego imediatamente e leio a mensagem.

Decore tudo!

Tão cavalheiro! Resmungo mentalmente e bufo, largando tudo em cima da mesa. Um banho, é tudo de que preciso agora!

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