Isadora
Após assinar o contrato com o Senhor D’Angelo em poucos dias tudo começou a acontecer em minha vida e como um passe de mágica. Um telefonema do banco falando que a hipoteca da casa onde nasci e cresci já estava quitada, os credores que simplesmente sumiram da minha porta e minha mãe que foi transferida para uma clínica particular especializada em oncologia. Finalmente estava respirando aliviada! Os passos seguintes seriam cronometrados. D’Angelo e eu teríamos uma cessão de fotos que contaria a nossa "história de amor" e seu assessor cuidaria dos boatos do casamento do tão cobiçado "Leão dos negócios". No final, ele olhou nos meus olhos e disse: prepare-se para a melhor parte! Perguntei-me se havia algo melhor que deitar a minha cabeça no travesseiro e dormir o sono dos justos sem lágrimas, sem lamentos e sem pensar no dia seguinte? Com certeza não haveria.
— Pronto, a sua mãe já está bem acomodada e será que podemos conversar agora? — Doutora Monique Toledo disse ao se aproximar me tirando dos meus devaneios. Olho para a porta com que acabara de passar e vejo de relance a minha mãe deitada em uma cama estreita de hospital, sendo acompanhada por uma equipe médica e faço sim com a cabeça, a acompanhando até o seu consultório. Assim que entramos na sala, Monique me aponta uma cadeira e eu me acomodo esperando que ela me diga algo. — Conseguimos puxar a ficha da sua mãe do Mayo Clinic. A sua última consulta foi com o doutor Jordan Pilates há cerca de quatro meses. Na época ratava-se de um tumor pequeno e se tivesse seguido com o tratamento talvez o tivéssemos vencido.
— E, o que isso quer dizer?
— Que agora ele está bem maior.
— Então, é o fim? — Estremeço com esse pensamento, mas ela me abre um meio sorriso.
— Eu não disse isso, Isadora. Ainda temos muitos exames para fazer, mas tudo vai depender dela. Sara precisa ser forte agora e principalmente, ela tem que lutar por sua própria vida. Depois disso, o tratamento é essencial.
— Entendi. Esse é o meu número, se puder me ligar para me manter a par de tudo.
— Soube que vai se casar. — O seu comentário me deixa um tanto atônita. — Ah, me desculpe! O Tadeu comentou comigo enquanto agilizávamos uma vaga aqui para a sua mãe aqui. Espero que não se incomode por falarmos sobre você e Heitor. Não é todos os dias que uma garota penetra aquele coração gelado. — Forço um sorriso simpático.
— As pessoas falam de Heitor como se ele fosse inalcançável — comento demonstrando certa intimidade ao usar o seu primeiro nome. — Mas se elas conhecessem aquele coração como eu o conheço. — Deixo a frase no ar e na sequência vejo que alcancei o meu objetivo. Monique arqueou as sobrancelhas perfeitas em admiração.
— Bom, acredito que não estamos falando do mesmo homem! — Ela rebate com um leve tom de humor e sorri em seguida, me fazendo sorrir também. Levanto-me e lhe estendo a minha mão para encerrarmos esse assunto antes que eu estrague tudo falando alguma besteira.
— Eu tenho que ir. — Ela se levanta em seguida.
— Imagino que sim. Dê um abraço no meu amigo.
— É claro. — Saio do consultório, mas não do hospital e vou direto para o apartamento que colocaram a minha mãe. A observo através de uma janela redonda de vidro por alguns instantes. Sara está sozinha agora e usando uma máscara de oxigênio. Também está tomando soro. Contudo, está dormindo e parece bem mais calma agora. Penso em entrar e ficar um pouco mais com ela, mas ao invés disso me afasto e me sento em um banco comprido no corredor, abaixando a minha cabeça para fazer uma prece silenciosa. Deus, eu não posso perdê-la, não posso ficar sozinha nesse mundo!
— Ei, está tudo bem aí? — Uma voz masculina me faz erguer os olhos e encontrar os fascinantes olhos escuros do Senhor D’Angelo. Aturdida, eu me ajeito no banco com uma interrogação martelando na minha cabeça no mesmo instante.
— O que faz aqui? — Ele dá de ombros.
— Eu vim falar com a Monique e finalizar as partes burocráticas pessoalmente.
— Ah! — É tudo que consigo dizer.
— Você está bem? — Ele repete a pergunta.
— É, eu... estou bem!
— Se me esperar só um pouquinho eu posso te levar em casa. — Arqueio as sobrancelhas de uma forma até petulante.
— Não, obrigada! Eu quero aproveitar o pouco que me resta da minha liberdade. — Levanto-me e dou dois passos para me afastar, porém, sinto a sua mão segurar firme o meu braço e imediatamente ergo um olhar furioso, encontrando um par de olhos determinados.
— Cuidado com o que fará após passar por aquelas portas. Qualquer erro e o contrato será desfeito! — Era para me meter medo, mas não baixei a guarda e abri um sorriso audacioso para ele. Eu não sei o porquê, mas o Senhor D’Angelo tem o poder de arrancar o melhor de mim. De alguma forma me sinto forte perto dele, perco o meu medo de encarar o mundo e de seguir em frente, mas principalmente não consigo evitar de enfrentá-lo de igual para igual.
— Não se preocupe eu jamais estragaria o "nosso relacionamento." — Faço aspas com os dedos e atrevida pisco um olho para ele. Livro-me do seu agarre e caminho para a saída sem olhar para trás. Nossa, posso sentir os seus olhos fulminantes em minhas costas e saber disso deixa a minha boca seca imediatamente.
A verdade é que eu preciso ficar sozinha para pensar na minha vida e nessa prisão de ouro onde ficarei por um ano inteiro. Até lá não serei mais dona de mim mesma e terei que seguir um roteiro que eu não escrevi. Com certeza entrarei em uma briga de cachorros grandes e não poderei sonhar em fraquejar. Não por mim, mas farei tudo isso por ela. Entrar na minha antiga casa não foi fácil e confesso que estou surpresa de ver que tudo está de volta no seu devido lugar, até mesmo o que os credores haviam levado. Suspiro baixinho quando encontro o jornal que Andrew Dixon costumava ler todas as manhãs disposto sobre a mesinha de centro da sala. As janelas estão abertas e as cortinas esvoaça brincando com o vento. Um nó sufoca a minha garganta e abandono essas lembranças para ir ao meu antigo quarto. Preciso pegar algumas coisas minhas lá. No corredor lembro-me de John Dixon, meu irmão cafajeste e rio do seu comportamento extrovertido. Meu irmão tinha o dom de deixar essa família mais alegre. Ele conseguia mexer com todo mundo até mesmo com os empregados da casa e tinha uma facilidade incrível em nos fazer rir, mesmo quando o nosso pai estava carrancudo e preocupado com os negócios da família. Desligo mais essa lembrança e finalmente entro no meu quarto. Não me lembrava mais dessa decoração estilo princesa com suas paredes cor-de-rosa, um teto branco, uma penteadeira com luzes de LED e uma variedade assustadora de perfumes, cremes e maquiagens. Tudo mudou tão rápido que nem percebi. Caminho lentamente pelo cômodo apreciando a vida que não me pertencia mais e paro em frente a uma das janelas de onde tenho a visão completa dos largos portões de ferro pintados de branco, e consequentemente da rua por onde o meu pai passava com seu carro lustroso todas as manhãs quando saía para trabalhar. À noite quando voltava para casa eu sempre corria para encontrá-lo na porta da frente. Solto mais um suspiro, este um tanto melancólico e vou até a penteadeira. Abri uma gaveta e tiro de lá uma caixinha aveludada. Eu a abri com cuidado e encontro o broche que mamãe me deu de presente de quinze anos. Lembro-me que achei esse presente ridículo na época, mas agora ele tem um valor estimado para mim. Me casarei com ele mesmo que estrague todo o look de noiva sofistica. — Penso e rio do meu pensamento. Guardo o objeto de volta na caixinha e o ponha na minha bolsa para sair imediatamente dali.
Quando todos os problemas vieram à tona e as ameaças dos cobradores, eu tirei minha a mãe de casa e fomos morar em uma casa menor e bem simples. E mesmo não havendo conforto estávamos mais seguras e sossegadas lá. Fazia tempo que não pisava os meus pés nesse lugar, principalmente porque acreditava que já estava perdido para o banco. Santo Senhor D’Angelo! Ralho em pensamentos. Ao chegar na minha atual casa observo um envelope dentro da minha caixa de correio. Contudo, olho de um lado e para o outro da rua antes de pegá-lo e vou para dentro de casa. Assim que passo pela porta largo os meus sapatos de qualquer jeito, enquanto abro o envelope movida de curiosidade e tiro de lá algumas folhas de papel. Um bilhete escapuliu dele e caiu no chão. Curiosa, eu o pego imediatamente e leio a mensagem.
Decore tudo!
Tão cavalheiro! Resmungo mentalmente e bufo, largando tudo em cima da mesa. Um banho, é tudo de que preciso agora!
IsadoraAlguns dias depois…O casamento dos sonhos de qualquer garota. Penso olhando para o longo vestido branco todo em renda francesa, com uma gola alta e delicada, e as mangas que se arrastam por todo o meu braço. Uma linda e delicada coroa cravejada com minúsculas pedrinhas de brilhantes segura um coque cheio que imita lindas pétalas castanhas escuras. Ansiosa, solto um suspiro baixinho e quase imperceptível.— Faz assim com a boca. — O maquiador pede após passar o batom de um tom vermelho suave que combina perfeitamente com a maquiagem para o dia. — Perfeita! — Ele cantarola batendo palmas freneticamente me fazendo abrir um meio sorriso. Não demora muito e estou segurando um buquê de lindos lírios brancos com minúsculos jasmins cor de rosa e entrando em uma igreja toda ornamentada com as mesmas flores, além de tules e laços de seda da mesma cor. Entretanto, nos incontáveis bancos tem um pequeno número de pessoas. Um órgão anuncia a minha entrada e logo todos têm os seus olhos em
Isadora— Acorde, nós já chegamos! — Abro os meus olhos e mesmo desfocados encaro a fachada de uma casa toda de madeira escura, com enormes janelas de vidros transplantes e me ajeito no banco traseiro do carro para ver melhor o perímetro ao nosso redor. Pequenos postes iluminam um pequeno e encantador jardim. Assim que a porta se abre o motorista me ajuda a sair e o perfume das flores-do-campo me envolvem, seguido do vento frio da madrugada.— Onde estamos? — indago, observando a graciosa varanda com um peitoril de madeira escura como o resto da casa e…— Em uma das minhas casas de veraneio. — Ele diz tirando as chaves do bolso da calça. Olho para trás para ter certeza. Árvores altas e juntas demais e pelo barulho que vem lá de trás aqui não tem praias e não vejo piscinas em nenhum lugar.— Isso não me parece uma casa de veraneio — ralho e volto o meu olhar para ele, porém, Heitor não está mais ao meu lado. — Oh, seu idiota, vai me deixar aqui fora? — rosno irritada, quando o vejo den
IsadoraPela manhã acordo um tanto animada e mais cedo do que esperada. Tomo um banho rápido, visto uma minissaia plissada e escolho uma blusa com um nó na altura do meu umbigo e por fim, calço um par de tênis. Amarro os meus cabelos em um rabo de cavalo e ponho os óculos sol. Logo estou saindo do quarto e do corredor também. Na sala encontro o meu "marido" mexendo em uma espingarda. Ele alisa o objeto com bastante esmero e o analisa minuciosamente. Passo meus olhos rapidamente pela calça caqui no seu corpo, pelo coturno negro e subo encontrando uma camisa verde-folha com os três primeiros botões abertos, mostrando parcialmente um peitoral desprovido de pelos. Respiro fundo e adentro a sala chamando a sua atenção para mim. Como esperava o senhor D’angelo para o que estava fazendo e seus olhos percorrem com avidez pelas minhas vestes. É possível notar o brilho em suas retinas e o vejo pressionar os lábios. Mantenho-me séria, mas a minha vontade é de rir com tal provocação. Homens! Con
IsadoraApós um banho longo e quentinho ponho uma roupa confortável e igualmente quente, e saio do quarto de hóspedes. Logo na entrada da sala posso ouvir o som do fogo crepitando na lareira e para a minha surpresa Heitor teve o cuidado de forrar um cobertor grosso e macio no chão e bem próximo ao calor do fogo. Ao me aproximar noto duas taças vazias e uma bandeja com salada, legumes e a carne que caçamos mais cedo. Sofisticado de maneira surpreendente. Penso,— Senta aqui — Ele pede batendo levemente no espaço ao seu lado e em silêncio me acomodo, apreciando o calor bem-vindo. — Você disse que nunca comeu carne de cervo antes. Experimenta, tenho certeza de que você vai gostar. — É difícil não o fitar com admiração. Heitor é o homem extremamente bonito e atraente. E droga a sua pele fica ainda mais bonita com o brilho dourado do fogo. Ele pega uma porção da carne com o auxílio de um garfo e o leva à minha boca.— Hum! — Solto um gemido apreciativo ao sentir o sabor e a maciez da carne
IsadoraTrilhas, banho de cachoeira, escaladas, caças, jantares e brindes ao calor da lareira. Pensando bem direitinho a nossa lua de mel nem foi tão ruim assim. E eu posso até dizer que conheci um lado do Senhor D’angelo que ele faz questão de esconder. Longe dos negócios ele não passa de um jovem surpreendente que tem um bom papo e um sorriso fácil. E que sorriso!— Sairemos em poucos minutos! — Heitor avisa dando duas batidinhas na porta do meu quarto.— Ok! — grito para ele me escutar e foco em arrumar as minhas malas.Então, à primeira vista esse lugar me assustou e muito, e eu fiquei puta da vida só de pensar que ficaria presa aqui sem um celular, TV ou qualquer coisa que pudesse me distrair. Entretanto, confesso que sentirei falta daqui e de toda essa natureza. Dos seus sons e até mesmo da sua companhia, afinal quando voltarmos para a cidade ele voltará a ser o Senhor D’angelo outra vez. Eu sei que sim. — Por Deus, mulher o que está fazendo aí dentro?! — Ele rosna irritado e eu
IsadoraUma semana depois…Deixo o meu corpo cair livremente em cima do colchão macio e solto o ar pela boca de modo audível. Sim, eu estou completa e inteiramente entediada e isso em pouco menos de uma semana! Já conhecia cada andar dessa casa, cada cômodo e cada detalhe da sua decoração como a palma da minha mão, e já não sei mais o que fazer para manter a minha mente ocupada. Desde que voltamos da nossa "lua de mel" Heitor praticamente não para em casa. Salvo na hora de dormir e isso acontece quando eu já estou dormindo e no dia seguinte ele sai antes de eu acordar. Com certeza esse é o contrato perfeito. Nada de cobranças e nada de pegar no meu pé. Simplesmente estou de vida boa e no final de tudo isso ainda recebo uma boa grana pelo meu trabalho. Que saco! O meu celular faz um sinal de mensagem e rapidamente pulo para fora da cama. Um sorriso gigante se abre nos meus lábios quando vejo que se trata da doutora Monique e ansiosa a abro para ler. Na sequência dou alguns pulinhos ani
IsadoraEstaciono o carro na enorme garagem da mansão e, caminho apressada para dentro dela, dando de ombros. Se o mordomo não tiver aberto o bico, D’angelo nem deve estar ciente da minha saída e será como se nunca tivesse saído realmente. E quer saber, não me importo se ele sabe ou não. O fato é que o Senhor D’angelo não se importa comigo. Para ele é como se eu fizesse parte dessa decoração estúpida, apenas mais um troféu para a sua coleção. Abro a porta da sala pronta para subir as escadarias e tomar um banho demorado, mas paro bem no centro do cômodo quando o vejo em seu terno caro e elegante, de costas para mim. D’angelo se vira lentamente e me encara como se pudesse me fuzilar apenas com o olhar. Respiro fundo e sutilmente, e dou mais dois passos para frente, dessa vez sem pressa alguma.— Onde estava, Isadora? — Ele rosna friamente. Meus olhos descem para o copo de uísque em sua mão e depois se erguem para os olhos irritadiços.— Eu fui visitar a minha mãe. — Um sorriso sutil su
IsadoraDo lado de fora da casa acomodo-me em uma espreguiçadeira e encaro o céu noturno desprovido de estrelas. O que eu esperava dessa situação? Merda, eu sou só a porra de um acordo e devia estar satisfeita por ele cumprir com a sua palavra! Heitor não me deve nada, sou eu quem está em dívida com ele. Uma taça aparece no meu campo de visão e através das suas bordas transparentes o vejo. Ele está sério e parece apreensivo. Ajeito-me em cima da espreguiçadeira e recebo a taça da sua mão. Ele se senta na espreguiçadeira ao lado e bebe um pouco do seu vinho.— Como foi com a sua mãe? — A pergunta me pega de surpresa, mas sinto-me aquecida só de fazer tal indagação.— Ela está bem! Só… surgiu uma coisa que… me deixou sem chão.— O quê?— Ela não se lembra do acidente, portanto, não sabe que meu pai morreu e que o Alex foi embora.— Eu sinto muito! Vem cá! — Heitor larga a sua taça de lado e abre os seus braços para mim, e não penso duas vezes em ir ao seu encontro para me aconchegar nel