Contrato de Amor e Ódio
Contrato de Amor e Ódio
Por: Bruna Calil
01

JAX NARRANDO

Existem poucas verdades imutáveis na vida, mas eu encontrei uma delas dentro da minha própria empresa: Eva Sparks tem um anjo e um demônio vivendo dentro dela, e eu nunca sei qual dos dois estará comandando ela quando chego no trabalho. Isso porque, nós disputamos poder o tempo todo.

Minha sala fica exatamente em frente a dela, e nossas mesas estão posicionadas de um jeito que, se minha porta estiver aberta, eu consigo vê-la trabalhar. A Eva não fecha a porta. Nunca. E isso é um saco.

Tudo começou três meses atrás, quando o tio de Eva indicou o cargo de CEO, de um homem que se aposentou, para sua querida sobrinha. Ela aceitou de bom grado e eu não posso negar que Eva faz um bom trabalho. Os funcionários adoram ela, muito mais do que eu, que estou há anos na empresa, isso porque ela é divertida e tem carisma... Mas ela é altamente irritante comigo. Parece que gosta de me provocar desde o primeiro dia de trabalho.

FLASHBACK: TRES MESES ATRÁS

A empresa está em um clima agradável e festivo. Lionel está contente e aguardando a nova CEO da empresa, que irá nos apresentar hoje. Sei que o nome dela é Eva e é sua sobrinha, não sei nada além disso. Espero que seja uma pessoa boa. O café da manhã cuidadosamente preparado pelos funcionários em homenagem ao querido Benjamin, nosso funcionário que se aposentou e abriu a vaga para Eva, demonstra o carinho que todos os seus subordinados tinham por ele. Eva vai ter um trabalho difícil para conquista-los.

Então, o elevador abriu e eu conheci meu pesadelo. De dentro do elevador, uma mulher de corpo esbelto, saia preta levemente rodada, na metade das coxas, uma camiseta branca um pouco larga e acessórios, muitos acessórios. Ela estava de salto alto e com um rabo de cavalo. Com certeza ela parece muito mais uma fashionista do que CEO de uma empresa, suas vestimentas não condizem com o cargo que ela irá assumir.

— Bom dia. — Ela disse, sorridente e com um café na mão. — Não sabia que era tão difícil achar um lugar para estacionar nessa rua.

— Não te deram acesso ao estacionamento? — Questionei e ela olhou para mim.

— Não, eles não acreditaram quando valei quem eu era.

Quis zombar e falar das roupas dela, mas fiquei em silêncio.

Ela foi apresentada para todos, e desde o começo, a equipe parecia muito feliz em recebe-la. Ela foi simpática com todos e muito agradável. Tudo bem, vou ter que engolir o que falei. Apesar de suas vestimentas, com a apresentação que ela fez e todos os títulos que ela possui e experiência, realmente, ela parece ter muita experiência e ser uma pessoa qualificada para o cargo.

A Denver Enterprise é minha vida. Faria qualquer coisa por essa empresa. Aliás, eu acho que o trabalho é a única coisa que me traz um pouco de felicidade, porque minha relação com meu pai e minha mãe é completamente destruída.

FIM DO FLASHBACK

E lá está Eva, trabalhando. Eu não sei porque, mas não consigo parar de olhá-la. Quando ela se levantou, vi a roupa do dia: Além de um belo batom vinho, está com uma calça de alfaiataria larga bege, um cropped branco e um casaco rosa por cima.

Ela veio andando até a minha sala e bateu na porta.

— Sim? — Falei.

— A gente precisa conversar. — Ela disse, séria. — As ideias que você me mandou no email são inviáveis, Denver.

— Não, não são, e é exatamente assim que vai acontecer. — Eu afirmei e me levantei.

Depois que Eva descobriu que eu tenho um pouco de insegurança com minha altura, ela aumentou o tamanho dos saltos que usa, só pra me provocar. Eu tenho um e oitenta, e ela, um e sessenta e cinco. Ela usa saltos de exatos quinze centímetros só pra me olhar nos olhos de igual para igual, como se isso a desse algum poder. Eva quer me intimidar quando o diabinho que habita dentro dela está no comando, e pelo visto, hoje, ele está dando as caras.

— Denver, por favor. — Reclamou. — Corte de gastos é uma coisa, trocar o plano de saúde dos funcionários por um plano porcaria é outra. Pelo amor de Deus! Vocês trabalham com esse convênio há anos, e nunca tivemos problemas.

— Eva, esse convênio está pagando cirurgias plásticas e cobrando de nós! — Ela cruzou os braços ao me ouvir.

— Foram duas reduções de mamas, Denver! Essas mulheres precisavam dessa cirurgia porque sentiam dores nas costas! — Eu neguei com a cabeça.

— Nós vamos cortar o convênio. Foram cirurgias plásticas e acabou. — Ela negou e se aproximou de mim, bastante.

Outra coisa que não gosto em Eva: Ela não respeita meu espaço pessoal.

— Não vamos. — Ela colocou as duas mãos nas laterais dos meus braços. — Olha pra mim. Essas cirurgias foram importantes para essas mulheres. Eu vi o resultado delas dentro da empresa, o desempenho delas melhorou e uma delas parou de faltar. Sabe quantas vezes elas faltavam por dores nas costas? Muitas, Denver. — Ela disse, me olhando nos olhos. E ela me olha de um jeito que parece poder enxergar minha alma.

— Não me olha assim, você sabe que eu odeio essa cara de gato de botas. — Reclamei.

— Não é cara de gato de botas. Eu estou te explicando algo importante. — Eu girei os olhos e dei dois passos para trás. — Deixe as meninas operar, é um investimento no funcionário!

— Você está fazendo esse drama todo por causa de um convênio médico que nem usa. Não se preocupe, Eva, você não vai precisar fazer uma redução de mamas, afinal, você nem tem! — Eu a provoquei.

Eva me olhou com surpresa, e sua boca formou um “o”. Provoquei demais. Estou ferrado, e já aguardo a retaliação.

Eva levou as duas mãos até a barra do cropped e literalmente o levantou, expondo os seios e os mostrando pra mim. Ela os esconde bem, porque são grandes e bonitos. Quando percebi que eu estava olhando, balancei a cabeça e virei para o outro lado.

— Você tá louca? — Questionei.

Ela veio na minha frente, já coberta, e com o dedo apontado para mim.

— Nunca mais fale algo sobre meu corpo que você não sabe, ouviu bem? E outra coisa, se você cortar o convênio, nós vamos brigar na frente de todos os funcionários e eu vou deixar claro que isso foi culpa sua, não minha.

— Tá, Eva, tá! Vai trabalhar, vai!

Eva saiu da sala, e eu passei a mão em minha própria testa. Comecei a suar só de lembrar do que ela fez na minha sala. Fui até a porta, e fechei, para não olhar mais para ela.

A Eva queria entrar na minha mente, e conseguiu. Ela fez de propósito e agora eu não consigo esquecer nem mesmo quando estou com um par de seios diferentes no rosto. Estou com minha namorada, com o rosto nos seios dela, mas não é nela que estou pensando e me sinto um monstro por isso. Quando terminamos de fazer amor, eu me joguei do lado dela na cama e ela se aninhou a mim.

— Como foi seu dia? — Ayleen perguntou.

— Ruim. — Respondi.

— Eva aprontou, de novo? — Questionou.

— Ela está estragando meus últimos dias com bastante frequência. Essa mulher é o demônio. — Girei os olhos ao falar.

— Queria ver a Eva pessoalmente um dia. — Ayleen disse e eu sorri.

— Leva um café pra mim amanhã a tarde. Tenho a impressão de que a Eva vai estar muito nervosa amanhã.

— E por quê? — Ela questionou.

— Cortei um plano de saúde caro para os funcionários e fiz outro. Ela achou que eu não tinha feito, discutiu comigo hoje, mas eu já fiz.

— Pelo que você me fala dela, ela vai surtar. — Eu suspirei ao ouvir.

— Uhum. E o seu dia, como foi?

— Maravilhoso. Minhas fotos ficaram incríveis.

Ayleen é fotógrafa, e é uma boa garota. Estamos juntos há um mês e meio e ela tem me trazido um pouco da paz que a Eva rouba. Era disso que eu estava precisando, afinal. Pouco tempo depois de transar, eu me levantei, vesti minhas roupas e fui para casa... E quando cheguei, vi Eva sentada na escada da minha casa, com uma embalagem na mão.

— Eva? — Questionei. Ela se levantou e suspirou.

— Oi.

— O que você está fazendo aqui? — Perguntei.

— Fui grosseira de novo com você. Eu tô tentando melhorar, tá? — Ela esticou a embalagem para mim, e eu a olhei com desconfiança. — Isso é um pedido de desculpa por ter... Bom você sabe, mostrado os peitos e apontado o dedo na sua cara.

Eu tive que rir. Ela manteve a cabeça baixa, e eu concordei com a cabeça.

— Tudo bem. Está desculpada. O que é isso? — Eu me sentei na escada, onde ela estava sentada anteriormente, e ela se sentou ao meu lado.

— Abre.

Eu abri, e vi um cupcake com confeitos coloridos. Olhei para ela, meio sem entender.

— Está envenenado? — Questionei. Ela sorriu.

— É claro que não! Eu não sou tão maluca assim. — Disse.

— Você é a definição de irreverência, Eva Sparks. Não duvido que tenha colocado um laxante nesse cupcake ou algo assim. — Falei, retirando a embalagem dele. Levei até perto da boca dela, a olhando nos olhos. — Dá uma mordida.

— Como você é desconfiado! É um pedido genuíno de desculpas, Denver. — Eu a olhava sério, ela girou os olhos e abriu a boca, mordendo um pedaço do cupcake.

Depois que ela engoliu, eu mordi um pedaço e senti o sabor de chocolate com um creme de avelã. Era realmente delicioso. Até os confeitos coloridos eram bons.

— Onde você comprou? É meu novo doce favorito.

— Eu fiz. Se esqueceu que eu tinha uma rede de confeitarias? A receita é minha. — Eu mordi mais um pedaço, terminando o cupcake.

— É, você era boa, devia voltar para esse negócio. — Ela riu porque falei de boca cheia.

Eva se levantou, e eu pude olhá-la indo embora. Estava com um vestidinho rodado, alegre, e dessa vez, estava de tênis. Seu cabelo castanho estava solto, e ele é bem longo, ultrapassa a metade da cintura. Ela tem olhos castanhos, e sua pele é branca como a minha.

— Tchau, Jackson Denver. Te vejo amanhã.

— Até, Eva Sparks.

Ela vai amaldiçoar até a minha alma amanhã, quando perceber que o que eu queria fazer, já foi feito. Espero que esse cupcake realmente não esteja envenenado.

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