JAX NARRANDO
Pela primeira vez em anos, cheguei atrasado na empresa. Eva estava no estacionamento, encostada no próprio carro, me esperando com sangue nos olhos.
— Como você ousa? — Ela gritou e veio pra cima de mim. Infelizmente, não a avisaram que ela iria brigar comigo e devia ter ido de salto.
Surpresa, vadia, você vai me olhar por baixo.
— Como eu ouso o que? — Parei na frente dela, a olhando por cima.
— Você sabe muito bem do que eu estou falando. No email, estava dizendo que era uma ideia... E eu cheguei hoje, e todos os funcionários estão perdidos achando que estão sem convênio!
— Eva, foi necessário, eu sinto muito. — Afirmei e saí andando. Ela me puxou pelo braço, me fazendo virar em direção a ela.
— Você vai desfazer isso. — Eu neguei com a cabeça.
— Eu não vou. Sinto muito, Eva, você perdeu. — Falei e comecei a andar em direção ao prédio da empresa.
— Você não passa de um filho da puta egoísta. É isso que você é! Um grande filho da puta egoísta, que vive nessa porra de bolha e não consegue ser legal com as pessoas. — Eu virei de volta, chocado com os xingamentos.
— Que ousadia!
— Ousadia? Você não viu nada. Sabe qual seu problema, Denver? Você é um filhinho de papai mimado.
— Meu pai nunca me mimou, você não sabe nada sobre a minha vida. — Afirmei e ela veio andando em minha direção, apontando o dedo para meu peitoral.
— Você precisa se colocar no lugar dos outros! Tem pessoas que dependem desse convênio para tratar os filhos! — Ele girou os olhos.
— Eva, vai arrumar um namorado e para de pensar na vida dos outros! — Ela fez aquela mesma cara de surpresa que fez quando me mostrou os peitos.
— Você não tem nada a ver com minha vida pessoal! — Resmungou.
— Não tenho, mas sei de uma coisa: Você é uma chata que deve beijar muito mal, e por isso, vive sozinha e se intrometendo nos problemas dos outros. É sério, vai arrumar um namorado, vai beijar na boca que talvez sua chatice se cure!
Eu ia me virar para ir embora, e avistei Ayleen vindo em nossa direção. Minha cara de ódio se desfez. Naquele momento, a vaca da Eva fez o impensável: Ela me agarrou, levou as duas mãos até meu rosto e me roubou um selinho.
E eu fui um imbecil, porque não consegui empurrá-la a tempo. Quando ela afastou o rosto do meu, nós nos olhamos, e só depois, lembrei de Ayleen.
— Ayleen... — Eu olhei para o outro lado da rua, e a vi indo embora. — Você fodeu meu namoro, sua piranha! — Gritei.
Saí andando atrás de Ayleen, com bastante pressa.
— Ayleen, volta aqui! — Eu dizia, andando em passos rápidos.
— Jax, por que você fez isso? — Ela finalmente parou e se virou para mim. — Você me traiu!
— Não. Não! Aquela é a vaca da Eva!
— Por que você beijou a Eva? — Perguntou, totalmente confusa.
— Eu não beijei a Eva! Ela me beijou! Essa mulher é maluca! Por favor, Ayleen, não vai embora. Eu não tenho nada com aquela mulher...
— E por que você não empurrou ela? Você passou um tempo beijando ela, Jax. — Passei a mão em meu próprio cabelo, nervoso.
— Não sei. Eu paralisei. Não esperava que ela fosse fazer algo tão idiota quanto mostrar os peitos. — E aí, eu percebi o que falei. Fechei os olhos e respirei fundo. — Ayleen, por favor, deixa eu me explicar.
— Você tá tendo um caso com ela. Eu não preciso de explicações. — Ela disse, limpando as lágrimas do rosto. — Estou profundamente decepcionada com você. Pensei que você fosse um homem diferente, Jackson Denver... Mas você é como todos os outros.
Ayleen deu um tapa na minha cara e saiu andando.
— Ayleen!
— Vá se foder, Jackson! Seu pau é muito menor do que o do seu ex colega de trabalho! — Ela gritou.
Meu pau? Mas que filha da puta! Ela me traiu?
Eu fui voltando para a empresa, e vi Eva parada na porta, com os olhos arregalados.
— Eu te botei em uma encrenca muito grande? — Questionou.
— Você acabou com meu namoro e fez com que uma mulher gritasse na rua do meu trabalho que meu pau é pequeno. O que você acha, Eva?
— Não foi de propósito. Você me provocou... — Eu suspirei, e fui entrando na empresa. E ela veio me seguindo.
— Você não consegue pensar um pouco, né? Puta merda, Eva, você podia ter só, sei lá, me xingado, mas você sempre consegue fazer a pior coisa que pode no momento!
— Me desculpa! — Disse.
— Dessa vez, por favor, fica longe de mim. Você destrói tudo que toca.
Eu entrei na minha sala e bati a porta. Alguns minutos depois, ouvi batidas na porta.
— Pode entrar. — Falei.
Seis funcionários entraram na minha sala. Eles me entregaram um abaixo assinado, redigido pela chefe do sindicato.
— Senhor Denver, queremos pedir por favor que revogue sua decisão sobre o convênio. Estamos dispostos a fazer um acordo... Mas por favor, não cancele. Esse convênio é bom para todos daqui, nós precisamos dele. — Eu fechei os olhos e peguei os papeis.
— Saiam da minha sala, por favor. — Pedi.
— Nós já entregamos uma cópia para a senhorita Sparks. Conversem, por favor, e decidam o que fazer. Esperamos uma resposta até amanhã.
Eu neguei com a cabeça enquanto eles saíam. Que porra!
Fui até a sala de Eva, depois de alguns minutos, e a vi sentada na própria cadeira, falando no telefone, mas logo ela desligou. Bati na porta e ela olhou para mim. Seus olhos estavam mais brilhantes do que o normal, ela parecia ter chorado.
— Sim? — Ela disse.
— Recebeu isso? — Levantei o abaixo assinado e ela concordou.
— Recebi. Todos os funcionários assinaram, eles estão muito chateados... Falei que seria uma péssima ideia, não falei?
— E agora, o que a gente faz? — Questionei. — O orçamento não está dando. Temos funcionários demais, Eva.
— Nós podemos fazer um limite de gastos e propor a coparticipação para determinados procedimentos. Eu pesquisei esse convênio e isso é perfeitamente possível. — Eu concordei com a cabeça.
— Você venceu, Eva. Faça o que achar melhor. — Eu joguei o abaixo assinado na mesa dela e saí. Ouvi Eva suspirar e entrei em minha sala.
Talvez Eva tivesse razão, mas eu não gosto de dar o braço a torcer. Ela que faça do jeito que quiser, então.
Depois que o expediente acabou, eu tentei ligar para Ayleen, mas ela me bloqueou. Eu não gosto dela tanto assim, mas era uma companhia agradável, então, acabei ficando triste. Fechei meus olhos e sentei na escadaria da minha casa, chateado. Meu gato veio correndo me cumprimentar, e eu passei a mão em sua cabeça.
— E aí, Tom. — Falei, sorrindo para ele. Ele miou, e ficou se esfregando nas minhas pernas... Mas depois entrou.
— Falando sozinho? — Eu levantei os olhos e vi Eva na minha frente.
Ela se sentou ao meu lado na escadaria que leva para a minha casa.
— Era com o meu gato. Ele deve ter te visto e correu pra dentro. — Ela me olhava nos olhos, mas depois abaixou a cabeça.
— Me desculpa por estragar seu namoro. — Ela disse.
— Ela era uma boa garota, Eva. Era simpática... Agradável. Se vestia bem, era discreta. — Eva sorriu levemente.
— Uma garota perfeita. — Ela completou.
— Eu não a conheço o suficiente para dizer isso, mas era uma pessoa realmente agradável. — Afirmei.
— Me desculpa mais uma vez. — Disse. — Te faço alguns cupcakes amanhã.
— Não precisa disso, Eva. Quer dizer... A gente se odeia, não se odeia? Um pouco mais ou um pouco menos de ódio não faz diferença. — Ela ergueu as sobrancelhas e me olhou, surpresa.
— É isso que pensa? Que eu te odeio? — Eva levantou. — Eu não odeio você, Denver. Eu gosto de você, só que você é a porra de um mauricinho mimado que não enxerga as pessoas ao seu redor.
— Está falando por causa do convênio? Você já conseguiu o que queria.
— Não é só por causa do convênio. É porque você não olha pras pessoas... Você as enxerga como números, e isso vai te levar pro buraco. E se você for pro buraco, a empresa vai junto.
Fiquei em silêncio. Eva deu alguns passos para trás.
— Acho que já estraguei seu dia o suficiente. Se você conseguir me perdoar... Me avisa. — Disse, e saiu andando.
Eu não sei o que a Eva quer, nem consigo imaginar. Talvez ela tenha o propósito de me enlouquecer até que eu saia da empresa.