Capítulo 4
Naty Sampaio
Ao amanhecer, levanto-me e tomo um banho demorado. Coloco um vestido florido que Sarah me deu há alguns dias e prendo meu cabelo em um rabo de cavalo. Sigo para a cozinha e encontro Sarah já tomando café.
— Bom dia — disse, sentando-me à sua frente. Tudo o que se passava em minha mente era saber o resultado do teste.
— Bom dia — respondeu, olhando para mim. — Você vai assim? — perguntou, apontando para meu rosto.
— Tem algo de errado com meu rosto? — perguntei, olhando-me no reflexo da faca.
— Não vai usar nenhuma maquiagem? Afinal, provavelmente vai se encontrar com o irmão do pai da Luna — disse, levantando-se.
— Eu não tenho maquiagem — respondi, sem dar muita atenção.
— Vamos resolver isso agora. — Sarah saiu da cozinha e logo voltou com uma maleta nas mãos, colocando-a sobre a mesa.
— Não tente fugir — disse, quando me levantei, e me obrigou a sentar novamente. Suspirei e deixei que ela fizesse o que quisesse. Enquanto ela me maquiava, eu apenas me mantinha atenta às suas ordens. Assim que estava pronta, ela pegou um espelho e me entregou; olhei meu reflexo e sorri, boba.
— Nem lembrava mais como eu ficava maquiada — disse, com lágrimas nos olhos.
— Não chore ou vai borrar a maquiagem — repreendeu-me. Meu rosto estava iluminado e as marcas dos últimos dias haviam desaparecido.
— Obrigada — disse, sorrindo.
— De nada. Mas me ligue quando tiver o resultado do teste — pediu. Assenti e me levantei.
— Já vou indo. Terei de ver o resultado e depois falar com o senhor Murilo — disse, sorrindo fraco.
— Boa sorte. Estou torcendo por você e pela Luna — disse, encorajando-me. Assenti e saí de casa.
Eu não tinha dinheiro para o táxi, então tudo o que me restava era ir a pé para o hospital. As ruas estavam desertas, pois ainda era bem cedo, mas se eu quisesse chegar cedo ao hospital, precisava sair naquela hora. Andando pelas ruas, comecei a ter uma sensação estranha, como se alguém estivesse me seguindo. Acelerei os passos e, quando dei por mim, já estava correndo. Olhei para trás e vi dois homens correndo atrás de mim.
— Não precisa correr, gracinha — disse um deles. Eles já estavam perto e o desespero tomava conta de mim. Eles não paravam de gritar para que eu parasse, mas eu não obedeci. Só parei quando um carro azul parou subitamente à minha frente, e eu coloquei as mãos sobre ele.
— Entra. — Ao olhar para o dono da voz, surpreendi-me ao ver o senhor Murilo. Sem questionar, entrei no carro e vi aqueles dois homens darem meia-volta. Suspirei, aliviada.
— Está tudo bem? — perguntou o Sr. Murilo, entrando no carro.
— Sim. Obrigada — agradeci, ainda recuperando o fôlego. Ele ligou o carro e seguiu pelo caminho que eu estava indo antes.
— O que faz aqui? — questionei, curiosa.
— Ligaram do hospital dizendo que o resultado saiu. Então vim buscá-la para agilizar as coisas — disse, sem me olhar.
Corei, pensando em todas as possibilidades que eu teria de fazer por ele.
— Entendo. Estou rezando para que seja compatível — disse, abaixando a cabeça. Não demorou muito e o senhor Murilo estacionou no hospital. Em seguida, desceu e abriu a porta para mim. Nunca antes um homem havia sido tão cavalheiro comigo, nem mesmo o meu ex. Entramos no hospital e seguimos até a médica da minha filha.
— Senhorita Sampaio, que bom que chegou. Já temos o resultado — disse, com um sorriso doce.
— Qual é o resultado, doutora Chen? — perguntei. Ela sorriu, estendendo-me o resultado. Deixei à mostra para que o senhor Murilo também pudesse ver.
— Positivo. Finalmente encontramos a medula compatível para a Luna — disse, sorrindo. Fiquei tão feliz que a abracei. Não sabia como expressar minha alegria.
— Marque o transplante o quanto antes — disse o senhor Murilo, sério.
— Sim. Irei ver um horário o mais rápido possível. Com licença — disse, retirando-se. O Sr. Murilo se aproximou de mim e segurou meu braço, puxando-me para um canto.
— Este Murilo deseja fazer um contrato — disse, frio.
— Contrato? — perguntei, confusa.
— Sim. Você não poderá dizer a ninguém quem é o real pai da menina, também estará sempre em minha cama e não mencionará as pessoas com quem temos este contrato. Mandarei colocar no contrato que, mesmo quando nos separarmos, a menina continuará sendo minha herdeira e minha filha, não importa o que disserem — explicou.
— Sim. Faça o contrato que eu assinarei, desde que minha menina tenha um futuro garantido — disse, suspirando. Eu sabia que, através daquele contrato, eu estaria selando a minha vida para sempre e já podia imaginar as consequências. Mas, por Luna, valeria a pena.
Murilo Ferri
Ao amanhecer, este Murilo se arrumou e saiu sem tomar café. Quando estava no carro, recebi uma ligação do hospital, obrigando-me a parar para atender. Ao finalizar a chamada, mudei meu curso para a casa daquela mulher. Ela provavelmente não sabia do resultado ou ainda estava dormindo. Mas, para minha surpresa, já estava acordada e fugindo de dois idiotas que provavelmente queriam se aproveitar de uma mulher bonita. Parei o carro e a mandei entrar. Assim que encarei aqueles homens, eles deram meia-volta, evitando confusão. No hospital, recebemos o resultado positivo e decidi mencionar um contrato; claro que colocaria meus termos bem claros e gostaria que ela também colocasse os dela.
— Após sabermos sobre o transplante, iremos até meu advogado para tratar do contrato. Deve colocar seus termos também; não pretendo ser um canalha como meu meio-irmão. Quero que este contrato seja vantajoso para ambos — disse, vendo-a assentir, surpresa com minhas palavras. Pouco depois, a médica apareceu com alguns papéis em mãos.
— Só é possível realizar o transplante daqui a quinze dias. Luna precisará passar por um tratamento específico para receber a medula. Aqui estão o horário do transplante e o dia — disse, estendendo-me um papel.
— E estes são os horários em que poderá visitá-la e também como deverá se vestir para entrar — disse, entregando a Naty outros dois papéis.
— Muito obrigada, doutora Chen — disse Naty, fazendo uma breve reverência.
— Não precisa disso. Tudo o que precisa é focar na sua filha. Nos veremos em breve — disse, retirando-se.
— Vamos até seu advogado agora? — perguntou, caminhando ao meu lado. Suas sandálias faziam barulho no chão, o que me irritava. Ao olhar para seus pés, notei que a sandália já era bem velha e machucava seus pés.
— Sim — disse, simplesmente. Ela permaneceu em silêncio. Entramos no carro e dei partida para o escritório do meu advogado; depois disso, eu ainda precisaria comprar roupas e alguns calçados para esta mulher. Não posso andar com uma mulher malvestida, que nem sequer tem um calçado que não machuque seus pés. Chegamos ao escritório do meu advogado e, novamente, abri a porta para ela descer. Mesmo frio, ainda sei como tratar uma mulher.
— Murilo, em que posso ajudá-lo? — perguntou meu advogado, Meireles, que logo olhou para Naty de forma maliciosa, querendo se aproximar.
— Quero que faça um contrato entre esta mulher e eu. Mas, acima de tudo, quero que não diga a ninguém sobre a existência dele, ou destruirei sua carreira e sua vida — disse, frio. Meireles tremeu e engoliu em seco.
— Sente-se e vamos ver os termos de ambos primeiro; depois darei início ao contrato — disse, sorrindo nervoso. Sentamo-nos, e Naty apertava as mãos, sem saber o que fazer.
— E então, sobre o que será o contrato? — perguntou, com o notebook já em mãos.
— Esta mulher e eu iremos nos tornar um casal para a sociedade; queremos um contrato vantajoso para ambos e que, acima de tudo, seja o mais sigiloso possível — disse, frio, fazendo Meireles sorrir de forma maliciosa.
— Entendo. Digam-me seus termos e, em breve, entregarei o contrato em suas mãos, do jeito que solicitaram — disse, estalando os dedos. Depois deste contrato, não haveria mais volta; eu me tornaria um homem de família e teria muito o que ensinar a esta mulher ao meu lado.