Capítulo 5
Naty Sampaio
Após ir ao hospital com o senhor Murilo e saber o resultado do teste, meu coração se encheu de alegria e eu não consegui me controlar. Abracei a médica da minha pequena; eu não me importava se as pessoas me vissem naquele estado e me achassem maluca. Não ligava para mais nada — naquele momento, tudo o que importava era que minha filha iria viver. Nada poderia tirar a minha felicidade. O senhor Murilo falou com a médica e marcou o transplante de medula para o mais breve possível, o que me deixou muito feliz. Depois de sair do hospital, ele me levou até seu advogado, um tal de “advogado Meireles”, que era um pervertido. Percebi pelo seu olhar malicioso, sempre direcionado para mim; ele até tentou se aproximar, mas o senhor Murilo o cortou. Sentamo-nos, e ele passou a falar sobre os termos do contrato e explicou como seria a nossa situação.
Eu estava muito envergonhada por conta da minha sandália, que era um pouco velha e machucava o meu pé. De vez em quando, o senhor Murilo olhava para os meus pés. Acho que ele percebeu meu desconforto, mas tentei disfarçar ao máximo. Durante os termos, tive de dizer algumas coisas um pouco desagradáveis, já que eu não queria parecer uma interesseira, mas também queria garantir o futuro da minha filha. Redigimos o contrato de forma simples, mas bem esclarecedora, para que nenhum dos dois saísse prejudicado.
Eu estava focada em curar a Luna e fazê-la feliz, não importava quais consequências eu tivesse de sofrer. Não sou interesseira; só penso no melhor para a minha filha, que amo tanto. Não importa se eu for infeliz — por ela, faço tudo. Ver o sorriso brilhante da minha filha novamente é tudo o que eu quero. Depois de tudo resolvido, o senhor Murilo me levou para uma loja de roupas femininas.
— Cuidem bem dela — disse friamente para as duas atendentes que se aproximaram.
— Venha conosco. — Assenti, e logo elas começaram a trazer várias roupas, uma mais linda que a outra. Tive de experimentar todas e mostrar ao senhor Murilo como ficavam, mas a minha vergonha ficou descomunal quando tive de experimentar as lingeries e mostrá-las a ele. Sabia que ele iria me ver assim uma hora ou outra, devido ao nosso acordo, mas ainda assim eu ficava imensamente envergonhada, já que o único que me viu assim foi meu ex-marido. Não o questionei quando ele mesmo escolhia minhas futuras roupas íntimas e me fazia vesti-las; afinal, era o nosso acordo. Vesti todas as peças que ele e as atendentes traziam, juntamente com os calçados — entre eles, tênis, sandálias de salto, rasteirinhas e botas, entre outros. Seu rosto, antes inexpressivo, parecia estar gostando do que via quando eu me trocava.
— Então? Gostou das roupas? — perguntou o senhor Murilo.
— Bem... eu gostei... mas não precisava comprar tanto e... — ele me interrompeu.
— Nada disso! Você é minha mulher agora, e vou torná-la uma verdadeira dama da sociedade. Comprei várias roupas para o trabalho, já que você vai trabalhar para mim. Também irei comprar roupas novas para a nossa filha, quando ela receber alta — disse, fazendo-me olhá-lo surpresa.
— Senhor Murilo... — sussurrei, com os olhos marejados.
— De hoje em diante, este Murilo vai chamá-la de nossa filha. E você trate de me chamar de Murilo. Nada desse “senhor”! Depois do transplante, assim que ela acordar, quero que me apresente a ela como pai dela — disse, me olhando.
— Sim — respondi, um pouco sem jeito.
— Certo, agora vamos. Vou levá-la à minha casa. Vou ligar para a Ana e avisar que não vou hoje à empresa. Tenho muito que lhe ensinar para se tornar uma dama da sociedade e também mandarei redecorar um dos quartos e prepará-lo para a menina, já que vocês duas irão morar comigo a partir de agora — disse, parando em frente a uma mansão.
Murilo Ferri
Após lidar com todos os termos do contrato, levei Naty para as compras e me surpreendi com seu corpo; ela é ainda mais linda do que eu havia imaginado. Vê-la de lingerie sexy deixou-me um tanto excitado. Realmente, ajudá-la foi uma boa decisão, já que poderei usufruir de seu belo corpo e me afastar daqueles velhotes intrometidos. Durante o caminho, expliquei as coisas refinadas e só parei o carro quando chegamos à mansão. Desci do carro e rapidamente dei a volta, abrindo a porta e ajudando-a a sair; não era de meu feitio fazer isso. Mas, se quisesse passar por marido perfeito, teria que fazer. Ela parecia encantada com tudo o que via, enquanto às vezes eu precisava puxá-la para prosseguir o caminho; ela se apaixonou pelo jardim e pelas variedades de plantas nele.
— Eu poderia olhá-lo melhor depois? — perguntou corada, enquanto este Murilo segurava sua mão.
— Sim, depois que se mudar para cá poderá olhar o jardim e comandá-lo, se assim desejar. Também ficará responsável pela decoração e dirá às empregadas como devem preparar as nossas refeições — disse-lhe, fazendo-a abaixar a cabeça.
— Não é necessário que eu faça isso. Afinal, nosso relacionamento é temporário — disse, tímida.
— Quero que haja como se esse relacionamento fosse verdadeiro. Não estou fazendo isso só para ajudá-la; isto beneficiará a nós dois e, se convivermos adequadamente, nosso relacionamento poderá durar por muito tempo. Então, faça apenas o que digo — respondi. Ela assentiu e eu a puxei para dentro da mansão. Assim que entramos na sala, fomos recepcionados pelos funcionários, que nos receberam surpresos.
— Esta é a Naty e ela é minha noiva. Iremos nos casar em breve e quero que ela se adapte a esta casa. Sigam suas ordens, assim como as minhas, e mostrem o resto da casa a ela mais tarde — disse, frio, e todos os funcionários se curvaram.
— Seja bem-vinda, senhora. Estaremos às suas ordens — disseram em uníssono.
— Você pode escolher qual deles quer que a ajude a decorar o quarto de nossa filha. Temos de ter tudo pronto até a alta dela — disse, e os funcionários arregalaram os olhos. Naty, um pouco tímida, se pronunciou.
— Obrigada pela recepção. O se... quer dizer, Murilo e eu nos reencontramos há pouco tempo, e eu não havia contado a ele sobre nossa filha. Por favor, não fiquem surpresos. Espero que nós nos demos bem e que tratem minha filha bem quando ela vier para esta casa — pediu, fazendo uma breve reverência.
Os funcionários pareciam ter gostado dela, o que este Murilo já imaginava, já que Naty é tão gentil com todos. Eu a puxei para as escadas e subimos a passos lentos; ao chegar ao topo, guiei-a até onde seria o nosso quarto e abri a porta, fazendo-a suspirar e observar cada detalhe.
— Este será o quarto que dividiremos. Se desejar redecorar, fique à vontade — disse, e a vi negar. Realmente, este Murilo não gostava que mexessem em suas coisas, mas esta casa necessitava de um toque feminino, e ela teria de o fazer.
— Está perfeito. É tudo tão belo: os quadros, o papel de parede, a cama... tudo neste quarto está em harmonia. Perfeito — disse, e parou em frente à porta do closet, olhando para mim.
— Este é o closet onde mandarei colocar suas coisas. Um lado será seu e o outro, meu — disse, e ela sorriu.
— Esta casa parece um sonho — disse, sorrindo docemente. Ela virou-se para este Murilo, e eu acabei por me perder em seus olhos intensos e cheios de emoção.
— Vamos, irei lhe mostrar o quarto de nossa filha. Você precisará comprar tudo o que ela necessita, pois ele está completamente vazio — disse, e Naty me seguiu. Seguimos para o quarto da frente, abri a porta e ela o encarou.
— Realmente está vazio — disse, adentrando o local.
— Sim. Você deverá escolher o papel de parede e os móveis. Não economize; quero que compre uma escrivaninha para que ela coloque os livros que gostará no futuro e possa estudar. Quando ela sair do hospital, terá de iniciar sua vida como qualquer criança e estudar — disse, sério.
— Sim, já consigo imaginar como decorar este quarto. Posso até ver a Luna dando saltos de alegria por ter seu próprio quarto — disse, rindo. Dei um sorriso imperceptível e o desfiz rapidamente.
— Bom, você deve conhecer o resto da casa. Irei mandar trazer suas coisas para o nosso quarto e, depois, lhe passarei algumas coisas que precisará aprender — disse. Naty sorriu e assentiu, acompanhando-me para conhecer o resto da casa e, depois, para que eu lhe ensinasse sobre a sociedade em que vivo.