Capítulo 3
Naty Sampaio
Depois que o senhor Murilo Ferri saiu do hospital, eu fiquei e fui ver a minha pequena, que estava dormindo. Doeu meu coração vê-la tão pálida e frágil; passei a mão em seus cabelos e pedi a Deus que o senhor Murilo Ferri fosse compatível. Passei um bom tempo com a minha pequena antes de ir embora. Saí do hospital ainda pensativa com tudo o que faria por minha filha; por ela, sou capaz de tudo.
Segui para a casa de Sarah, meu único refúgio depois que vendi meu apartamento. Ela tem sido a minha família, como uma irmã. Graças a ela, que me acolheu quando todos me viraram as costas, no momento em que mais precisei, ela estava lá por mim.
Estava tão perdida em pensamentos que, quando dei por mim, já estava em frente à casa de Sarah. Suspirei antes de finalmente entrar.
— Naty — chamou assim que me viu chegar à sala. Ela me abraçou, tentando me reconfortar, já que sabia que eu havia voltado do hospital. Em seguida, se afastou e me olhou, preocupada.
— Conseguiu encontrar o irmão do pai da Luna? Falou com ele? Ele fará o teste? — perguntou, ansiosa.
— Podemos sentar? Aí te contarei tudo o que aconteceu — disse, e ela assentiu, praticamente me arrastando para o sofá mais próximo, ficando a meu lado, atenta a cada palavra que eu diria.
— Bem... ele aceitou, mas, em troca, me quer como sua noiva e que eu vá para a cama com ele antes — disse, desviando o olhar.
— O quê? Você aceitou esse absurdo? — perguntou, indignada.
— Que escolha eu tenho, Sarah? Ele já fez o teste e, se for compatível, eu irei cumprir com a minha parte, desde que ele faça o transplante — disse, olhando-a. Sarah suspirou.
— Você tem certeza disso? Aceitou sem nem saber se ele é compatível. Não sabe nem mesmo se ele vai ser de confiança; ele pode ser outro cretino igual ao seu ex — disse, preocupada.
— Sim. Eu não tenho tempo para me preocupar com isso. As pessoas podem me chamar de vadia, interesseira, do que quiserem, mas eu preciso apenas salvar a minha Luna. Não vou me importar se ele me mandar embora quando não me quiser mais. Desde que ele mantenha Luna a salvo, nada mais vai importar — disse, com lágrimas nos olhos.
— Não se preocupe, amiga. Eu não irei te julgar; na verdade, estou emocionada com tudo o que você está fazendo. Você está praticamente se vendendo por sua filha. Poucas mães seriam tão guerreiras e corajosas a esse ponto. Está disposta a sacrificar a própria vida pela filha. Eu, em seu lugar, faria o mesmo pelos meus filhos — disse, segurando minhas mãos.
— Ele quer assumir a paternidade de Luna — disse, envergonhada. Sarah me olhou, surpresa.
— O quê? — perguntou, de boca aberta.
— Foi um dos termos que ele me disse. Ele quer se tornar o pai da Luna e, mesmo depois de nós nos afastarmos, ele vai mantê-la como sua filha e pagará os estudos dela — disse, sem olhá-la.
— Aceita, amiga. Luna merece um pai e, se ele está disposto a dar a ela todo o estudo e atender às necessidades dela, você deve aceitar — disse, me fazendo olhá-la. Sorri, agradecida.
— Obrigada por estar me apoiando. Por tudo o que tens feito por mim, minha irmã — disse, com os olhos marejados.
— Somos melhores amigas. Mais que isso, somos irmãs, e irmãs cuidam uma da outra. Sempre estarei ao seu lado, não importa o quê — disse, me abraçando novamente. Naquele abraço reconfortante, todas as minhas dúvidas desapareceram. Eu sabia que estava fazendo o certo por minha filha.
Murilo Ferri
Depois que saí do hospital, segui direto para a empresa buscar alguns papéis importantes e, depois, segui para casa. Apesar de morar sozinho, minha mansão é bem grande; gosto de espaço. Chegando à minha casa, deixei meu carro na garagem e fui direto para meu quarto. Deixei os papéis sobre a cama, junto da pasta, e tirei o paletó, suspirando.
Teria de providenciar um contrato para que aquela mulher não cometesse o erro de tentar sumir depois do transplante; precisarei dela para me tornar o presidente interino da empresa. Como de costume, meu banho já estava preparado. Adentrei o banheiro e me deixei relaxar.
Fechei os olhos, e a imagem daquela mulher me veio à cabeça: sua pele clara e macia, sua boca carnuda, sem qualquer marca de batom, tão natural e tentadora. Como o bastardo conseguiu deixar uma mulher tão bela de lado e se mudar com uma tão superficial?
Eu posso não demonstrar minhas emoções, mas sei valorizar uma mulher capaz de tal sacrifício por sua filha. Jamais disse o que acho das pessoas, mas esta mulher... irei transformá-la em uma verdadeira dama da sociedade, também me certificando de ser um bom pai para a filha dela.
Esta mulher é diferente das que já conheci. Todas eram interesseiras, mas esta não. É uma mulher de respeito: ela não correu atrás do bastardo quando ele a deixou, não pediu dinheiro nem auxílio para cuidar da filha. Tudo o que ela busca agora é salvar sua pequena.
O bastardo realmente não sabe o que perdeu. É difícil encontrar uma mulher como ela. É como encontrar uma agulha em um palheiro.
Quando dei por mim, a água da banheira já estava fria. Suspirei e me levantei, pegando a toalha para me secar. Segui para o closet e vesti um moletom qualquer. Em seguida, desci as escadas para comer algo.
— Precisa de ajuda, senhor Murilo? — perguntou a governanta, já de idade.
— Não. Já pode se retirar para seus aposentos — disse, e ela se curvou, seguindo para fora da cozinha.
Abri a geladeira e peguei uma jarra de água gelada e uma fatia de bolo de chocolate com morango. Não estava com muita fome, então fiquei só com aquilo. Depois de lanchar, voltei para meu quarto, tirei a calça de moletom, ficando totalmente nu. Não gosto de dormir de roupas. Entrei embaixo das cobertas e me permiti dormir.