Capítulo 6 – O Fantasma Chamado Elisa
Os dias seguintes ao jantar foram estranhamente silenciosos. Dante evitava conversas mais longas, e eu fingia que não estava curiosa com a forma como ele quase decapitou Leonardo com um olhar. Mas algo dentro de mim estava mudando. Talvez fosse o jeito como ele me observava quando achava que eu não estava olhando. Ou o fato de que, naquela mansão enorme, a única coisa que me fazia sentir menos sozinha… era ele. Até que numa tarde, decidi quebrar o silêncio. — Dante, posso te fazer uma pergunta? Ele não desviou os olhos do notebook. — Se for sobre o Leonardo, prefiro não responder. Ainda estou considerando mandá-lo para a filial da Sibéria. — Não é sobre ele. É sobre ela… Elisa. A expressão dele fechou-se. Como se o ar tivesse saído da sala. — Onde ouviu esse nome? — No escritório, aquela noite. Vi a foto… vocês estavam sorrindo. Ele fechou o notebook com calma. Calma demais. Aquele tipo de calma que vem antes da tempestade. — Elisa era minha noiva. — Noiva? — Estávamos noivos há três anos. Ela... — ele engoliu em seco — morreu num acidente. Voltava de uma viagem com a mãe. O carro derrapou na estrada. Não houve sobreviventes. Um nó se formou na minha garganta. — Sinto muito, Dante. Ele se levantou, caminhou até a janela e ficou de costas para mim. — Ela era tudo que eu achava que precisava. Inteligente, elegante, determinada. Mas o destino não quis que desse certo. Desde então, preferi manter tudo sob controle. Sentimentos... distrações… compromissos. — E então decidiu se casar com uma desconhecida, por contrato. — completei, com um meio sorriso. Ele se virou, finalmente me encarando. — Você não é uma desconhecida. Não mais. Meu coração falhou uma batida. — E o que eu sou agora? Ele hesitou. Mas antes que pudesse responder, Lucas entrou sem bater. — Com licença, senhor Vasconcellos. O senhor Leonardo está na recepção. Quer vê-lo? — Não. Mande-o embora. — Ele insistiu. Disse que veio se desculpar… com a senhora Vasconcellos. A tensão tomou o ambiente como um veneno invisível. — Pode entrar, Lucas. — falei, antes que Dante pudesse recusar de novo. Leonardo entrou com um buquê de flores e um sorriso tímido. Um pouco exagerado, talvez. Mas fofo. — Helena, eu queria me desculpar se fui... invasivo no jantar. Antes que eu pudesse responder, Dante tomou o buquê da minha mão. — As flores vão para a cozinha. E as desculpas, para o lixo. — ele disse, frio. Leonardo riu, nervoso. — O ciúmes está tão forte assim, Vasconcellos? — Não é ciúmes. É proteção. E território. — Uau. Que romântico. — Não é romance. É contrato. — Dante respondeu, lançando um olhar em minha direção. Um olhar que desmentia cada palavra. Leonardo suspirou. — Bom, fiz minha parte. Se precisar de algo, Helena, estou à disposição. Ele saiu. E o silêncio voltou. — Você é inacreditável, Dante. — Eu disse que não queria ele aqui. — Ele só foi educado! — E você pareceu gostar da educação dele. — Você está com ciúmes. — E você está brincando com fogo, Helena. Me aproximei, parando a centímetros dele. — E se eu estiver? Vai me demitir da sua vida? Ele me puxou pela cintura num impulso. Nossos rostos estavam tão próximos que eu podia sentir a respiração dele. — Cuidado. Eu posso começar a esquecer que esse casamento é só um contrato. — E se eu quiser que você esqueça? Os olhos dele queimaram os meus por um instante eterno… e então ele me soltou, dando um passo para trás. — Vai se arrumar. Temos uma coletiva de imprensa em duas horas. E, por favor, sem flores. ---