Capítulo 4 – O Quarto, o Silêncio e o Segredo
O carro deslizou pelos portões da mansão como se pertencesse a outro mundo — e, de certa forma, pertencia. Era o mundo de Dante Vasconcellos. Luxuoso, silencioso e perfeitamente decorado... como ele. A casa era enorme. Clara demais. Fria demais. Como se tivesse sido criada para impressionar, mas não para viver. — Bem-vinda ao lar, senhora Vasconcellos. — ele disse, abrindo a porta para mim como se fosse um mordomo britânico com cara de modelo. — Obrigada. — murmurei, tentando não tropeçar no salto. Ele me guiou pelos corredores. Mármores, quadros caros, e um silêncio que dava medo. — Aqui é seu quarto. Parada na porta, encarei o cômodo. Enorme. Com uma cama que parecia ter sido feita para um rei e uma televisão que dava inveja a qualquer cinema. — Você vai dormir onde? — No quarto ao lado. Interligado. Por segurança. — respondeu, seco. — Por segurança? Vai me vigiar enquanto durmo? — Confie em mim, Helena. Eu tenho coisas melhores pra fazer do que observar você resmungar em sonhos. Cruzei os braços. — Resmungar? — Você fala dormindo. Descobri isso no avião quando voltamos da coletiva de imprensa. Fiquei vermelha até a alma. — Espero não ter dito nada comprometedor. — Só declarou guerra ao despertador três vezes. Nada que já não soubéssemos. Suspirei e entrei. Ele ainda ficou na porta. — Amanhã temos um jantar com a diretoria. Vista algo elegante. E evite... sorrir demais. — Sorrir demais? — Vai parecer que está feliz com o casamento. — E isso seria um escândalo? Ele hesitou um segundo. — Seria... contraditório. E foi embora. --- Horas depois – madrugada A casa era silenciosa demais. E eu, curiosa demais. Dei uma volta discreta pelo corredor, pés descalços no chão de madeira. Estava prestes a voltar quando vi uma porta entreaberta. Era o escritório dele. A curiosidade venceu o bom senso. Entrei. Estantes com livros grossos. Pastas organizadas. Uma lareira apagada. E sobre a mesa… uma foto. A única foto da casa, até então. Peguei. Dante sorria. De verdade. Ao lado de uma mulher de olhos claros e cabelo castanho claro. Ela o abraçava como se fossem um casal feliz. A legenda: “Eu e Elisa – Barcelona, 2019.” Elisa? Antes que eu pudesse entender mais, ouvi passos. Velozes. Pesados. — O que está fazendo aqui? Virei como se tivesse sido pega roubando um banco. Dante estava parado na porta. Sério. Frio. Mas… os olhos dele estavam diferentes. Como se algo tivesse quebrado. — Eu… me perdi no corredor. Vi a porta aberta e… Ele veio até mim, tirou a foto da minha mão e a recolocou na gaveta. — Elisa foi importante. Ponto. — Vocês eram um casal? Ele respirou fundo. — Era. Ela morreu. Senti o chão sumir. Minha boca se abriu, mas nenhuma palavra saiu. — Boa noite, Helena. — ele disse por fim, virando-se e saindo. Fiquei ali, parada, com o coração apertado. O casamento era falso. Mas o passado dele… era muito real. ---