Mundo ficciónIniciar sesiónO elevador espelhado subia silenciosamente até o último andar da Vilar Corporation, mas o coração de Luna não acompanhava o mesmo ritmo. Ele batia rápido demais, descompassado, ansioso, quase irritante.
Ela tentou respirar fundo, mas a imagem que surgia toda vez que fechava os olhos era sempre a mesma: Damian Vilar olhando para ela por cima da mesa de recepção, como se já soubesse das escolhas que ela faria antes mesmo que ela pensasse nelas. — Você não deveria estar nervosa — murmurou para si mesma. — Ele só quer falar sobre ontem. No máximo, vai te dar uma bronca elegante. Mas Luna sabia que tinham coisas que não se resolviam com lógica. Especialmente quando envolviam homens que pareciam moldados sob medida para arrancar equilíbrio das pessoas. O elevador abriu com um toque discreto. Ela saiu, dando de cara com uma recepção luxuosa: mármore claro, plantas estrategicamente posicionadas, obras de arte que provavelmente valiam mais do que todos os salários que ela recebera na vida. A recepcionista sorriu de forma polida: — Bom dia. A senhorita seria…? — Luna Reis. Tenho horário às onze. A mulher checou a agenda e assentiu. — Claro. Pode entrar, o senhor Vilar está à sua espera. A porta de vidro fosco se abriu automaticamente. E lá estava ele. Damian Vilar. Encostado à mesa de trabalho, mangas dobradas, sem gravata. Um visual que deveria deixá-lo mais humano, mas que, de alguma forma, só o tornava mais inacessível. Ele ergueu os olhos quando ela entrou e, algo naquela expressão, um quase sorriso escondido, fez Luna se perder por um segundo. — Pontual. Gosto disso. — Ele fechou uma pasta e fez sinal para que ela se aproximasse. — Sente-se, Luna. Ela obedeceu, mesmo sem entender por quê aquele comando soava como algo impossível de recusar. — Antes que você pergunte — ele começou —, não a chamei aqui para discutir o que aconteceu ontem. — Ah — Luna soltou, aliviada e decepcionada ao mesmo tempo. — Então não está aqui para me demitir de um trabalho temporário. O canto da boca dele subiu levemente. — Ainda não. Ela piscou, sem saber se aquilo era uma provocação, uma piada… ou ambos. Ele se sentou na cadeira à frente dela, cruzando as pernas com elegância calculada. — Vamos direto ao ponto. Preciso de sua ajuda. Luna arqueou a sobrancelha. — Minha ajuda? Com o quê? Eu mal te conheço. — Sim, e exatamente por isso você está aqui. Ele puxou uma pasta e deslizou até ela. Lá dentro, fotos de Damian em eventos, relatórios financeiros, recortes de revistas. E, no centro, um papel com letras grandes: FUSÃO INTERNACIONAL — APROVAÇÃO FINAL — O conselho de uma empresa europeia quer garantir que eu tenha… estabilidade emocional antes da assinatura final — Damian disse, como se estivesse repetindo a frase de alguém de quem discordava. — Estabilidade emocional — Luna repetiu, ainda tentando entender. — Você está dizendo que… eles querem provas de que você é confiável. Pessoalmente. — Exato. E alguém teve a brilhante ideia de insinuar que eu não sou “um homem de relações duradouras”. Luna tossiu para não rir. — E você não é? Ele abriu um sorriso frio. — Não é o ponto. Ela cruzou os braços, mais confortável. — E onde eu entro nisso? Damian respirou fundo, apoiando os antebraços na mesa. — Eu preciso de alguém… convincente. Alguém com quem eu possa ser fotografado, visto, observado. Alguém que pareça disposta a estar ao meu lado por motivos que não envolvam dinheiro, status ou interesse político. Ele a encarou. Intenso. Afiado. Estável. — E você foi a única pessoa nos últimos meses que me disse “não” sem tremer. Isso chamou minha atenção. Luna arregalou os olhos. — Eu só estava fazendo meu trabalho ontem. — Sim. E você não mudou o tom quando percebeu quem eu era. — Não tinha motivo para mudar — ela rebateu. — Você estava sem crachá. Damian inclinou o rosto, deixando escapar um sopro de riso — rápido, raro. — Exato. É por isso que quero você. Ele então se recostou. — Preciso que você finja ser minha noiva por trinta dias. Luna abriu a boca. Fechou. Abriu de novo. — Você enlouqueceu? — Possivelmente — Damian respondeu, sem hesitar. Ela passou a mão no rosto, tentando processar. — Damian, eu não… não sou atriz. Não sou modelo. Não tenho… roupa para isso. E você mal me conhece. Eu mal te conheço! Você realmente acha que alguém vai acreditar que estamos noivos? Ele entrelaçou as mãos. — Se eu acreditar, eles acreditarão. — Não é assim que funciona! — É, sim — ele disse, com aquela certeza irritante de quem está acostumado a vencer qualquer discussão. Luna balançou a cabeça. — Eu não posso aceitar isso. Não faz sentido. Eu já tenho problemas suficientes. Ele então pegou outra pasta e colocou diante dela. Um envelope timbrado. Luna reconheceu imediatamente: era a carta de desligamento da antiga empresa — aquela que a demitira injustamente, tirando dela o único salário fixo que tinha. — Como você…? — Ela engoliu seco. — Eu tenho recursos — ele disse simplesmente. — E posso resolver isso em menos de vinte e quatro horas. Você voltaria a ter todos os direitos trabalhistas reconhecidos, inclusive o pagamento retroativo e um pedido formal de desculpas. Ela sentiu o estômago revirar. — Não é justo. Você está usando meus problemas para me convencer. — Estou oferecendo soluções — ele corrigiu. — E não pedi nada ilegal, apenas atuação. Você será paga. Muito bem paga. Luna o encarou com mais firmeza. — E se eu disser não? Damian não mudou a expressão. — Então você levanta, sai por aquela porta e nunca mais nos vemos. Eu vou arrumar outra pessoa. — Ele fez uma pausa. — Mas não será tão convincente quanto você. O silêncio entre eles ficou denso. Pesado. Quase elétrico. Luna apoiou as mãos no joelho, respirando fundo. Queria odiar a proposta. Queria levantar e ir embora. Queria ser forte o suficiente para não considerar. Mas a realidade pesava mais que o orgulho. A conta atrasada. O aluguel subindo. O currículo parado. A injustiça engasgada. E, no meio disso tudo… aquele homem que parecia capaz de mover qualquer obstáculo com um único telefonema. Ela levantou os olhos. — Trinta dias? — Trinta dias. — E tem regras? — Algumas — ele admitiu. Luna estreitou o olhar. — E quais são? Damian enumerou com a voz tranquila: — Sem envolvimento físico desnecessário. — Sem sentimentos. — Sem expectativas após o prazo. — E você deve morar no meu apartamento durante o período. Para manter a aparência. — Morar com você? — Temporariamente. Luna riu — um riso curto, quase incrédulo. — Você acha mesmo que isso é simples? — Não, Luna — Damian disse, pela primeira vez com um tom que parecia quase… humano. — Mas é necessário. Ela o encarou por mais alguns segundos. E então percebeu: não era apenas ele avaliando se ela era a escolha certa. Ela também estava avaliando se Damian Vilar era alguém em quem ela poderia confiar — mesmo que fosse a pior ideia do mundo. Finalmente, ela respirou fundo. — Damian? — Sim. — Se eu aceitar… você me garante que vai cumprir tudo que prometeu? Ele sustentou o olhar dela. E respondeu com a firmeza que só alguém acostumado a comandar tempestades poderia ter: — Eu não faço promessas que não posso cumprir. Luna sentiu um arrepio percorrer a coluna. Aquela frase soava como aviso. Ou como destino. Ela estendeu a mão. Damian fez o mesmo. Quando os dedos se tocaram, um choque — leve, inesperado — subiu pela pele dela. Damian percebeu. Ela percebeu. Mas nenhum dos dois recuou. — Então está feito — ele disse. Luna respirou fundo, sabendo que acabara de entrar no tipo de acordo capaz de mudar tudo. — Está feito — repetiu. E, naquele instante, sem perceber, eles quebraram a primeira regra. Porque nenhum contrato sobrevive ao primeiro toque.






