3. Sob o mesmo teto

Luna ficou parada em frente ao prédio por alguns segundos antes de conseguir se convencer a entrar.

O lugar era… outro mundo. Vidros espelhados, um lobby que parecia recepção de hotel cinco estrelas, e um segurança que a cumprimentou pelo nome antes mesmo que ela abrisse a boca.

Damian realmente não fazia nada pela metade.

Ela ajeitou a alça da bolsa no ombro, respirou fundo e caminhou até o elevador privativo que ele indicara mais cedo.

Cartão de acesso, porta fechando, subida silenciosa.

Cada andar que passava fazia seu estômago afundar um pouco mais.

Quando a porta finalmente se abriu, Luna só conseguiu soltar um murmúrio:

— Meu Deus…

O apartamento era enorme. Piso de madeira, janelas que iam do chão ao teto, vista panorâmica da cidade com luzes piscando como constelações.

Nada ali era improvisado. Nada era simples.

Tudo gritava poder.

E ele estava ali, no centro da sala, como se pertencesse perfeitamente àquele cenário.

Damian Vilar não precisava de palco. Ele era o palco.

Ele virou quando ouviu o elevador e seus olhos se prenderam aos dela com uma calma que parecia treinada.

— Chegou no horário certo — ele disse, com um aceno curto. — Gosto disso.

— Você sempre fala isso? — Luna retrucou, tirando os sapatos devagar. — Parece até que ensaiou.

Damian ergueu uma sobrancelha.

— Não ensaio. Constato.

Ela revirou os olhos, mas não conseguiu segurar um pequeno sorriso. Algo nele tinha uma facilidade irritante de causar reações.

Damian caminhou até ela com passos firmes.

— Preciso te mostrar algumas coisas antes de começarmos oficialmente. — Ele fez um gesto com a mão. — Venha.

Luna o seguiu até a cozinha moderna, cheia de detalhes em inox, e maior do que o apartamento inteiro em que ela havia crescido.

— Aqui você pode usar tudo. Geladeira, forno, bebidas… — Ele a olhou rapidamente, como se analisasse algo que não disse em voz alta. — Se quiser pedir comida, tem uma lista de restaurantes associados na gaveta.

Luna piscou.

— Você está… tentando ser anfitrião?

— Não. Só estou evitando que você se perca ou morra de fome.

— Ah. Simpático.

— Eu sou simpático — Damian respondeu, muito sério.

O que fez Luna rir sem conseguir controlar.

Ele pareceu surpreso por um segundo — surpreso por gostar do som — antes de seguir para o corredor.

— Aqui — ele abriu a porta do quarto de hóspedes. — Esse será o seu espaço.

Luna entrou e ficou sem palavras.

Cama grande, roupa de cama impecável, closet vazio esperando por ela, banheiro privativo com toalhas mais macias do que qualquer coisa que ela já tocou.

— Damian… isso é demais.

— É necessário — ele respondeu. — Precisamos parecer convincentes.

Ela virou, cruzando os braços.

— E você acha que “convincente” significa me colocar num quarto cinco estrelas?

— Convincente significa não deixar brechas — Damian rebateu. — Se alguém vier aqui, se alguém investigar, se alguém olhar… nada pode parecer improvisado.

Luna engoliu seco.

O acordo de repente parecia muito mais real.

Ele ainda a observava — e havia algo diferente nos olhos dele naquela hora. Não arrogância.

Uma espécie de cálculo silencioso, como se estivesse tentando decifrar o que fazer com ela.

— Tem mais uma coisa — Damian disse, encostando-se ao batente da porta. — Precisamos estabelecer limites.

— Certo — Luna assentiu, firme. — Vamos lá.

— Primeiro: nada muda na sua vida pessoal sem sua aprovação. — Ele fez uma pausa. — Eu não vou controlar seus horários, suas ligações, nem seus compromissos. Você não é propriedade minha.

Luna respirou mais fundo, surpresa com a clareza dele.

— Segundo: quando estivermos em público… teremos contato. — Os olhos de Damian desceram sutilmente para os lábios dela antes de voltarem a encontrar os dela. — Necessário, mas controlado.

Luna sentiu o coração acelerar — irritantemente.

— Contato como… mãos dadas?

— E possivelmente mais — Damian respondeu com naturalidade, embora sua voz tenha ficado ligeiramente mais baixa. — Dependendo da ocasião.

Ela pigarreou.

— Certo. O que mais?

Damian hesitou por um segundo. Um único segundo — quase imperceptível — mas suficiente para quebrar a armadura dele.

— Terceiro: você não precisa ter medo de mim.

Luna franziu o cenho.

— Eu não tenho medo de você.

Ele deu um passo na direção dela, lento, deliberado. A distância entre eles diminuiu até que ela pudesse sentir o perfume dele — madeira escura, algo quente, caro e perigoso.

— Não? — Damian perguntou, quase em sussurro. — Nem um pouco?

Luna respirou devagar.

E respondeu com a mesma honestidade ousada que o surpreendera no primeiro dia:

— Não. Você só me deixa… alerta.

A troca de olhares durou mais do que deveria. Intensa. Quase imprudente.

Uma regra perigosamente próxima de ser quebrada ali mesmo.

Damian foi o primeiro a recuar um passo, como quem lembra do próprio autocontrole.

— Ótimo — ele disse, recuperando o tom neutro. — Começamos amanhã às oito da manhã. Temos a primeira aparição pública no almoço de negócios.

— Tudo bem — Luna concordou, embora a cabeça estivesse girando.

Damian virou-se para sair, mas antes de desaparecer pelo corredor, disse:

— Luna…?

Ela ergueu o rosto.

— Hm?

— Obrigado por ter aceitado. — A expressão dele suavizou apenas um segundo. — Não é tão fácil quanto parece.

Luna mordeu o lábio.

— Eu sei.

Damian assentiu e então completou:

— Boa noite, Luna.

Ela esperou até que ele se afastasse antes de deixar escapar o ar que estava segurando.

Sozinha no quarto impecável, com o peso do acordo e a presença dele ainda queimando no ar, Luna teve certeza de uma coisa:

Nada — absolutamente nada — seria simples sob o mesmo teto.

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