Capítulo 3

— Senhorita Mareu?

Não, não, não, não…

— Você quer me explicar o que está fazendo?

Queria? Não. Podia? Também não. Precisava? Infelizmente, sim.

— Tomando… banho?

A resposta saiu patética, constrangida, e eu queria que o chão de mármore se abrisse e me engolisse junto com a espuma.

Senhor Novak continuou parado na porta, os olhos verdes fixos em mim com uma mistura de incredulidade e irritação.

Engoli seco e tentei me explicar:

— Eu tive um pequeno acidente trocando o Liam... O menino tem uma mira certeira, sabe? Mas ele já está bem, está dormindo, e eu achei que poderia… tomar um banho rápido antes de… continuar… eu...

Quanto mais eu falava, pior ficava. As palavras saíam atropeladas, sem nexo, e eu só conseguia pensar em como aquilo tudo parecia ridículo.

— E você achou que o meu banheiro era o lugar ideal para isso?

A voz dele era controlada, seca, cortante.

Porta elegante. Quarto enorme. Banheiro de mármore.

Claro que não era o quarto da babá. Babá nenhuma tinha banheira de mármore. Eu já devia saber disso desde o momento em que vi a cama king-size.

Mas não. Meu cérebro patricinha tinha ido direto para a porta mais bonita, como se eu ainda fosse dona de alguma coisa.

— A governanta disse que meu quarto era conectado ao do Liam e deixou minhas malas lá… — tentei explicar, a voz falhando. — Eu vi duas portas e… eu… escolhi a errada.

Ele arqueou uma sobrancelha, o tom ficando ainda mais gelado:

— Escolheu a mais luxuosa. Suponho que tenha parecido a opção mais óbvia para o seu quarto.

O sarcasmo na voz dele cortou fundo.

Era, de fato, bem parecido com o meu antigo quarto na mansão Valença. O detalhe é que lá eu era dona da casa. Aqui, eu era a funcionária. Pequenos detalhes que meu cérebro ainda não tinha aceitado.

— Eu sinto muito, senhor Novak — disse, a voz baixa. — Não foi minha intenção invadir a sua privacidade. Eu só… precisava de um banho.

Ele deu um passo à frente, a postura rígida, a expressão dura.

— Esta casa tem regras, senhorita Mareu. E limites. Você é responsável pelas crianças, não por circular pela parte privada da casa como se fosse dona dela.

Cada palavra saía precisa, calculada, cortante.

— Da próxima vez que tiver qualquer dúvida, fale com a governanta, não com a sua intuição.

Fez uma pausa, me encarando.

— Agora, saia do meu quarto imediatamente.

Ok, sair imediatamente era uma ótima ideia.

Comecei a me mexer na banheira, a água chacoalhando, e vi os olhos dele registrarem o movimento. Por uma fração de segundo, nossos olhares se cruzaram. Ele percebeu. Eu percebi que ele percebeu.

Senhor Novak desviou o olhar imediatamente, virando de costas com um movimento brusco.

— Não tão imediatamente — corrigiu, a voz um pouco mais tensa.

E saiu do banheiro, fechando a porta atrás de si.

Fiquei ali, sozinha, queimando de vergonha, o coração batendo descompassado.

Ótimo, Mareu. Ótimo trabalho. Primeiro dia e você já invadiu o quarto do patrão e quase deu um show de nudez.

Saí da banheira o mais rápido que consegui, procurando desesperadamente por uma toalha. Encontrei um roupão pendurado na porta, daqueles grossos, caros.

Me enrolei nele, ainda pingando água, e só então lembrei.

A roupa limpa.

Que eu tinha deixado em cima da cama.

Que agora eu sabia que não era a minha cama.

Puta que pariu.

Respirei fundo, apertei o nó do roupão e abri a porta do banheiro com toda a dignidade que ainda me restava. Ou seja: nenhuma.

Senhor Novak estava no quarto, em pé perto da janela, mexendo no celular, fingindo que eu não existia.

Plano A: atravessar o quarto em silêncio, pegar minhas coisas e sumir. Plano B: não existia plano B. Eu deveria ter ficado na banheira e morrido afogada.

Dei o primeiro passo. Depois o segundo. O chão de madeira estava gelado e escorregadio por causa da água que eu ia deixando pelo caminho.

Quase consegui.

Quase.

Até que meu pé bateu numa mesinha lateral. A mesinha tremeu. Um porta-retrato caiu de lado com um barulhinho alto demais para o silêncio constrangedor do quarto.

— Desculpa — murmurei, sem olhar para ele. — Eu já estou indo…

Acelerei o passo em direção à porta que dava acesso ao quarto do Liam.

E foi nesse momento que a gravidade decidiu participar ativamente da humilhação.

Meu pé escorregou na água. Senti o mundo virar. E antes que eu pudesse cair de cara no chão, uma mão forte segurou meu braço.

A outra mão... bem, a outra mão acabou exatamente onde não deveria estar.

No meu peito. Por cima do roupão. Mas ainda assim...

Congelamos.

Eu, Senhor Novak, o tempo, o universo inteiro.

Nossos olhos se encontraram por um segundo que pareceu durar uma eternidade, enquanto ele me ajudava a ficar de pé novamente.

Limpou a garganta, a voz saindo um tom mais baixo:

— Eu disse claramente para não morrer e nem deixar ninguém morrer, lembra?

Eu estava vermelha. Completamente vermelha. Da raiz do cabelo até a ponta dos pés.

— Desculpa — consegui dizer, a voz saindo fraca. — De novo. Eu… vou tentar seguir viva. E seca.

Me soltei dele com um movimento brusco, apertei o roupão ao redor do corpo e finalmente alcancei a porta.

Abri, entrei no quarto do Liam e fechei atrás de mim, encostando as costas na madeira, o coração disparado.

Clac.

O som do trinco sendo girado do outro lado.

Ele tinha trancado a porta do lado dele.

Murmurei baixinho, ainda tremendo:

— Puta que pariu, Mareu, você tá muito ferrada.

Foi quando ouvi.

Uma risadinha. Baixinha. De criança.

E só então percebi que não estava sozinha com Liam no quarto.

Uma menininha de uns seis anos estava encostada na grade do berço, me observando com aquela expressão curiosa e divertida. Ela inclinou a cabeça para o lado, analisando meu estado: descabelada, de roupão molhado, pingando no chão, ainda ofegante.

— A última babá durou três dias — disse, com aquele jeitinho precoce e sério demais para a idade.

Fez uma pausa dramática.

E então completou, com um sorrisinho de canto:

— Você vai bater o recorde?

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