253. Acima do Medo
Lúcia Donovan
O barulho das turbinas vinha como um mar ao longe, constante, embalando o corpo do Samuel enquanto ele mamava. Eu estava com ele no colo, a manta leve cobrindo os pés, e sentia a boca pequena dele puxando, ritmada, como se o leite fosse a única verdade do mundo. A cabine tinha aquele cheiro misto de tecido novo e ar filtrado, as luzes em tom morno, quase um entardecer particular. A Eliza, no assento em frente, desenhava nuvens no caderno com o urso de sentinela. “Essa é a nuvem número três”, ela disse, sem olhar pra mim. “A que sabe guardar segredos.”
“Guarda bem guardado, minha estrela”, respondi baixinho.
Ouvi passos na escada do jato e ergui o rosto. Primeiro apareceu o cabelo preso da Moira. Ela entrou com o Jack no colo, bochecha vermelha de quem chorou e dormiu no mesmo minuto. Atrás dela, a Dona Helena e a Olivia, segurando uma mochila e um suspiro.
“Posso?”, Moira perguntou, já fazendo cara de quem não aguardaria permissão pra me abraçar.
“Vem.” Eu ri fraco, porq