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Capítulo 4 — O Casamento e o Primeiro Olhar

A manhã do casamento chegou com uma suavidade desconcertante, como se o mundo quisesse ignorar o peso do que estava prestes a acontecer. O céu estava limpo, sem uma nuvem à vista, e o ar fresco da primavera invadia a casa com uma suavidade que parecia irônica diante da tensão que Clara sentia. O dia deveria ser especial, mas, para ela, parecia apenas um rito de passagem forçado.

Clara se olhou no espelho do quarto que agora dividia com Enrico, o rosto pálido, com a maquiagem impecável que Daniela, assistente de Enrico, fizera questão de aplicar. O vestido de noiva, que ela escolheu sem muita emoção, parecia mais uma armadura do que um traje de celebração. O tecido branco e a renda delicada contrastavam com a frieza de seus pensamentos. O espelho refletia a imagem de uma mulher que estava prestes a dar um passo irreversível em sua vida, mas que não sabia se ainda conseguia se reconhecer no reflexo.

A casa estava calma. Sua mãe havia ficado na cozinha, preparando um café que ninguém beberia. Seus irmãos estavam entretidos com seus próprios dilemas, alheios ao peso do casamento. Clara não sentia raiva deles, nem ressentimento. Apenas uma indiferença vazia. Nada disso parecia real. Apenas um pesadelo do qual ela não conseguia acordar.

O carro de Enrico chegou pontualmente ao meio-dia, um modelo luxuoso e de aparência impessoal. Daniela abriu a porta para Clara, e ela entrou sem dizer uma palavra. Não havia necessidade de mais despedidas ou conversas. O que restava agora era seguir o fluxo, esperar que a cerimônia terminasse e enfrentar o que quer que fosse depois.

O trajeto até o local do casamento foi curto, mas para Clara, parecia uma eternidade. Ela observava pela janela, tentando encontrar algum vestígio de emoção, mas tudo o que via era a cidade distante, como se ela estivesse prestes a ser deixada para trás.

Chegaram a uma mansão imponente, de fachadas brancas e jardins bem cuidados. Clara nunca imaginou que um dia estaria ali, naquele espaço de luxo e ostentação, se sentindo como uma intrusa. A cerimônia seria íntima, como havia sido prometido, mas o luxo ao redor só destacava a sensação de desconforto que ela não conseguia evitar.

Quando Clara entrou no salão, os poucos convidados se levantaram. Os olhares eram breves, educados, mas sem o afeto que ela esperava. Enrico estava ali, à sua espera, com um terno escuro que parecia feito sob medida, a postura impecável e o sorriso rígido. Ele se aproximou de Clara com um olhar calculista, mas com o que Clara reconheceu como uma sombra de preocupação. Ele não queria aquilo tanto quanto ela, mas ambos estavam ali, presos por um destino que os obrigava a seguir em frente.

A cerimônia foi rápida. As palavras do sacerdote se perderam no ar. Clara mal prestou atenção no que ele dizia, seu foco estava em outra parte. Sentia uma pressão no peito, uma dor silenciosa que não podia expressar. Aquelas promessas eram vazias, e ela sabia disso. Assinou o papel sem hesitar, sentindo que estava perdendo algo irreparável, algo que nunca mais poderia recuperar.

Enrico, ao contrário, parecia aliviado. Com a cerimônia concluída, ele sorriu novamente, dessa vez com mais sinceridade. Ele estendeu a mão para Clara, e ela a pegou com relutância. Não havia como negar que ele era um homem de presença. Mas, ao mesmo tempo, ele era um homem de compromissos e interesses, e Clara agora sabia que fazia parte desses interesses.

A recepção foi ainda mais impessoal do que a cerimônia. Poucos convidados conversaram com Clara. A maioria estava mais interessada nos negócios que Enrico comandava do que na recém-casada. Clara sentiu-se isolada, cercada por rostos que sorriam para ela como se estivessem cumprindo uma obrigação, como se sua presença ali fosse apenas mais uma formalidade.

Ela e Enrico trocaram poucas palavras durante a festa. Ele estava ocupado com os investidores e parceiros de negócios, enquanto Clara se mantinha distante, tentando se acostumar com o ambiente. O espaço era luxuoso, mas para ela, tudo parecia falso, vazio. Sentiu falta de sua antiga casa, com sua simplicidade acolhedora e suas conversas sinceras. Aqui, tudo parecia ser movido por interesse, por uma necessidade de agradar os outros, de manter uma fachada impecável.

Quando a noite caiu, Clara foi conduzida ao quarto do casal. A casa era tão grande e silenciosa que, por um momento, ela se sentiu ainda mais sozinha do que antes.

Enrico entrou no quarto poucos minutos depois. Ele parecia cansado, mas ao mesmo tempo, tranquilo. Ele se aproximou de Clara e a olhou com um sorriso gentil.

— Agora, você está segura. Tudo o que prometi, você tem. Nada mais vai te faltar.

Clara olhou para ele, sem saber o que dizer. Não havia conforto em suas palavras. Não havia alívio. Ela apenas assentiu, tentando disfarçar a angústia que se formava em seu peito.

O silêncio se estendeu entre os dois. Clara se deitou na cama, ainda vestida com o pesado vestido de noiva, e fechou os olhos, desejando que o tempo passasse rapidamente.

Mas o silêncio não durou muito. Enrico se deitou ao seu lado, e Clara sentiu o peso de sua presença ao seu lado, mas de uma maneira estranha e distante. Ele estava ali fisicamente, mas mentalmente, ele já havia se distanciado dela.

Ela sabia que a vida ao seu lado seria uma sucessão de contratos e obrigações. E mais uma vez, ela se perguntava se algum dia seria capaz de se encontrar novamente em meio a tudo aquilo.

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