Congelo diante das palavras dele. Agora, com seus lábios quase roçando nos meus, é impossível não sentir a tentação de pedir exatamente por isso, mesmo contra minha vontade. — Você está… — murmuro, incapaz de terminar a frase. — Estou o quê? Ele se afasta ligeiramente, o suficiente para que seus olhos acompanhem cada reação minha, mas ainda perto o bastante para que eu não consiga raciocinar direito. — Muito enganado — finalmente consigo sussurrar. — Não vou pedir. Então, pare de me provocar. Ettore esboça um sorriso malicioso, me fazendo perceber que ele sabe exatamente o que está fazendo comigo. — Talvez eu esteja… — admite, levantando a mão para tocar meu rosto, deslizando o polegar pela minha bochecha. — É tão fácil te provocar, Piccola. O apelido, dessa vez dito sem a frieza habitual, faz meu coração acelerar ainda mais, se é que é possível. — Não me chame assim — peço, fechando os olhos por um instante. — Por quê? — ele questiona, aproximando-se ainda mais. — Porque te
A luz do sol atravessa as frestas da cortina e me acorda de um sono que demorou a chegar. Abro os olhos devagar, tentando me situar. O luxo do quarto de hotel me lembra depressa: estou casada. Com Ettore Bianchi. Viro o rosto e encontro o lado da cama vazio, os lençóis frios. Respiro aliviada. Não estou pronta para encará-lo depois de ontem à noite. Depois daquele beijo. Balanço a cabeça, tentando não reviver o momento, mas é inútil. Os flashes da noite anterior voltam como um filme em câmera lenta. O beijo. O desejo. A humilhação de ser rejeitada. Minha mão toca instintivamente a aliança no dedo, sentindo o peso frio do metal contra a pele. Um contrato selado. Uma prisão dourada. Ouço a porta do banheiro se abrir e meu coração dispara. Penso em fechar os olhos, fingir que ainda estou dormindo, mas já é tarde. Ettore surge no quarto, de calça social e camisa branca, o cabelo ainda úmido do banho. Por um instante, ele se parece com aquele veterano despreocupado por quem me a
“Ettore Bianchi” Todos os membros do conselho já estão sentados quando entro na sala de reuniões do Grupo Bianchi. Olhares que variam entre curiosidade e desaprovação me seguem enquanto cruzo a sala. Meu tio Alessandro, irmão mais novo do meu pai, é o único que sorri genuinamente ao me ver. — Bom dia — cumprimento, ocupando meu lugar na cabeceira da mesa. — Segunda-feira, cedo demais para quem esperava adiar o inevitável, certo? Alguns murmúrios desconfortáveis ecoam pela sala, enquanto minha assistente distribui as pastas com a pauta da reunião. — Antes de começarmos — continuo, a voz firme —, agradeço o apoio nos últimos dois meses. Não foram fáceis, mas estou aqui para honrar o legado de meu pai. — Honrar o legado de Victor Bianchi é exatamente o que discutiremos hoje — a voz de Giorgio Ricci, pai de Isabella, corta o ar com desdém. Giorgio sempre quis que eu me casasse com sua filha. O fato de eu ter escolhido uma Montesi deve ter sido um golpe em seu ego inflado. — Etto
“Liz Bianchi” Voltar à empresa após o casamento está sendo estranho. É como se eu tivesse mudado da noite para o dia, como se carregar o sobrenome Bianchi me transformasse numa pessoa completamente diferente. Agora, após o almoço, tento novamente ignorar os mesmos olhares que me receberam pela manhã. Mas, no fundo, nem posso culpá-los. Em uma empresa que sempre teve os Bianchi como rivais, ver a filha do dono carregando esse sobrenome deve parecer uma traição. Respiro fundo antes de entrar na minha sala, mas mal abro a porta e sou recebida por um abraço quase sufocante. — Finalmente! — Giulia exclama, me puxando para dentro e fechando a porta atrás de nós. — Já estava quase enlouquecendo de ansiedade. — Estou vendo — respondo, deixando a bolsa sobre a mesa. — Para estar aqui na sua folga… — Eu não ia esperar até amanhã para saber! Agora comece a contar: como foi a noite de núpcias? — Não aconteceu nada, Giu — minto, evitando seu olhar enquanto me sento na cadeira. Ela arque
“Alguns dias depois…” O Grande Hotel de Milão está deslumbrante esta noite. Lustres de cristal refletem a luz dourada, criando uma atmosfera de opulência que combina perfeitamente com o evento. — Lembre-se, esses investidores são cruciais para a expansão na Ásia — Ettore comenta, colocando a mão levemente nas minhas costas enquanto entramos no salão. — Precisamos impressioná-los, especialmente o Sr. Tanaka. Ele é tradicionalista, valoriza muito a família. — Serei a esposa perfeita esta noite, Sr. Bianchi — respondo, alisando meu vestido azul-marinho. — Exatamente como tenho sido. Encaro Ettore por um segundo antes de abrir um sorriso forçado, que, para meu próprio espanto, está surgindo com mais facilidade. Talvez eu esteja realmente aprendendo a atuar tão bem quanto ele. Os primeiros minutos se resumem a apresentações que fazem minhas bochechas doerem de tanto sorrir. Sr. Tanaka e sua esposa, vindos do Japão; os irmãos Chen, de Singapura; representantes de Hong Kong e da Cor
Por um segundo, o mundo inteiro parece congelar. A encenação. O teatro que deveríamos estar cumprindo agora é descoberto por uma cena impossível de ser explicada. Ettore solta meu queixo, e nos viramos juntos, encontrando Giulia parada na entrada da varanda, os olhos faiscando de indignação. — Isso não te diz respeito — Ettore finalmente responde, num tom controlado, frio. — É um assunto entre mim e minha esposa. — É um problema meu quando vejo minha amiga sendo tratada assim — Giulia rebate, parando ao meu lado. — Especialmente por um homem que deveria protegê-la, não humilhá-la. — Giu, está tudo bem — murmuro, tentando amenizar a situação. — Foi só um desentendimento. — Mesmo assim! — ela exclama, indignada. Então, sem desviar o olhar de Ettore, aponta o dedo para ele: — Liz foi obrigada a aceitar esse absurdo, mas isso não te dá o direito de tratá-la como um objeto. Ettore a encara em silêncio, o maxilar travado, como se estivesse decidindo se vale a pena responder ou
A porta se fecha atrás de nós com um clique que ecoa pelo corredor silencioso. Eu o encaro por um momento, só então dando um passo para trás ao perceber o que ele fez — e onde estamos. — Você está no quarto errado — digo, mantendo a voz firme, mesmo com meu coração martelando no peito. — Sei exatamente onde estou — ele responde, sem desviar o olhar. O silêncio entre nós se estende, denso, carregado. Eu, tentando entender o que ele pretendia me trazendo para cá. Ele, como se ponderasse o próximo passo. — Afinal, o que você quer aqui, Ettore? — pergunto, quebrando o clima sufocante. — Essa nova postura… essa confiança — ele diz, se aproximando um pouco mais. — Não esperava por isso. — Lamento desapontá-lo, Sr. Bianchi — retruco, com uma calma que não sinto nem de longe. — Não me desapontou — rebate, e um sorriso malicioso brinca em seus lábios. — Muito pelo contrário. Ele dá mais um passo, e seu perfume me envolve antes que eu consiga recuar. — Você deveria… ir —
“Ettore Bianchi” Minha voz corta o silêncio do escritório, fazendo Liz tremer e apertar as folhas que segurava, visivelmente assustada. Ela vira o rosto na minha direção, estreitando os olhos para tentar me encontrar na penumbra. Estou aqui há pelo menos meia hora, sentado na poltrona no canto escuro do escritório, um copo de whisky na mão, perdido em pensamentos tumultuados. Pensamentos sobre lábios macios, cabelos sedosos e a versão de Liz que agora me desafia em vez de recuar. Ela só não me viu antes porque se distraiu demais olhando os desenhos medíocres que o departamento me entregou hoje. — Eu… estava indo para a biblioteca — ela explica, colocando novamente os papéis sobre a mesa. — Mas vi a porta aberta. Me levanto da poltrona e me aproximo lentamente, ainda segurando o whisky na mão. — Então decidiu fuçar nas minhas coisas — completo, parando a uma distância segura. Perto o suficiente para sentir seu perfume, longe o bastante para não perder o controle novam