Thiago, percebendo a resistência do amigo, não perdeu tempo.
— Alessandro, se você não for até ela, eu mesmo vou puxar assunto em seu nome. — Nem pense nisso — respondeu Alessandro, lançando aquele olhar sério de comandante, mas que não intimidava Thiago. Com uma risada marota, Thiago levantou-se. — Então vai lá, comandante. Considere essa sua ordem de missão. Alessandro suspirou fundo. Parte dele queria simplesmente ignorar. Ele se levantou, ajeitou a camisa e caminhou em direção ao bar. A cada passo, sentia o coração acelerar de uma forma que não sentia em campo de batalha. Quando finalmente se aproximou, a mulher virou-se devagar e encarou seus olhos. — Parece que esse lugar não é exatamente o seu estilo — disse ela antes que ele pudesse falar qualquer coisa. Alessandro arqueou uma sobrancelha, surpreso com a percepção. — O que te faz pensar isso? Ela sorriu de leve, sem desviar o olhar. — Seu corpo está aqui, mas sua postura é de quem ainda está em serviço. Analisa cada detalhe, cada pessoa… Como se estivesse em alerta. Aquilo pegou Alessandro de surpresa. Poucas pessoas conseguiam ler sua forma de agir tão rápido. — Talvez você esteja certa — respondeu ele, firme. — Mas isso não significa que eu não possa tentar relaxar. — Então prove — disse ela, brincando com o canudo do copo. — Aceita uma bebida? Alessandro a observou por alguns segundos, como se estivesse tentando decifrar um enigma. E, pela primeira vez em muito tempo, deixou um sorriso sincero escapar. — Proposta aceita. Enquanto Thiago, de longe, observava satisfeito, Alessandro e a misteriosa desconhecida davam início a uma conversa que prometia mudar o rumo daquela noite… Alessandro aceitou a bebida e se recostou levemente no balcão. A música pulsava ao redor, mas entre eles parecia existir um espaço próprio, onde o tempo corria diferente. — Então — disse ele, fixando os olhos nela — já que você me analisou tão rápido, acho justo eu saber seu nome. Ela sorriu, como se gostasse daquele desafio. — Isabela. — Alessandro — respondeu, estendendo a mão. — Eu sei — disse ela, apertando a mão dele com firmeza. — Seu amigo fez questão de falar alto demais quando te chamou de “comandante”. Alessandro lançou um olhar de lado para Thiago, que ria de longe e ergueu o copo em um brinde zombeteiro. Ele balançou a cabeça e voltou a encarar Isabela. — Ele exagera. Prefiro ser apenas Alessandro, pelo menos aqui. Isabela se inclinou um pouco mais, o rosto iluminado pelas luzes coloridas. — Então vamos deixar o comandante lá fora. Aqui dentro, você pode ser só um homem que resolveu se dar uma chance. A frase ecoou dentro dele. Alessandro não estava acostumado a se despir do posto, das responsabilidades, mas havia algo na forma como ela dizia que o convidava a baixar a guarda. — Você fala como quem já viveu muito — observou ele. Ela deu um gole na bebida e o encarou, séria por um instante. — Já vivi o suficiente para saber que a vida não espera. Se você não se permite, ela passa por cima sem pedir licença. Alessandro ficou em silêncio, absorvendo aquelas palavras. Era raro alguém o desarmar tão rápido. Ele não se lembrava da última vez que uma simples conversa mexeu tanto com sua mente. — E você, Alessandro — disse Isabela, quebrando o silêncio — vai continuar observando de fora ou vai se arriscar a entrar na dança? Ele soltou um riso baixo, quase incrédulo. — Eu não sou exatamente um bom dançarino. — Ainda bem que eu sou — ela respondeu, pegando sua mão sem pedir permissão. — Vem comigo. E antes que pudesse recusar, Alessandro já se via sendo puxado para a pista, a música vibrando em volta, os olhares se cruzando. Pela primeira vez em muito tempo, ele deixou o controle escapar de suas mãos — e, surpreendentemente, estava gostando disso.