PONTO DE VISTA DE TRENTTive que sair no meio do maldito almoço. A primeira refeição da Elise como minha Senhora no clube... e lá estava eu, deixando ela sozinha naquela porra de salão cheio de olhares curiosos e de vadias ressabiadas. Mas não era qualquer ligação. Era o Doyle.Fechei a porta do meu escritório com um empurrão do ombro e atendi o telefone, jogando meu peso na cadeira de couro atrás da mesa."Fala."Do outro lado da linha, a voz de Doyle veio firme, como sempre."Iron, só pra te avisar que está tudo pronto pra gente dar entrada nos papéis da adoção da Mel."Fechei os olhos por um segundo, soltando o ar com força pelo nariz."Tem certeza que essa merda vai funcionar?""Tenho um contato no tribunal que me deve um favor. A assistente social já emitiu a ordem de busca, mas com os papéis certos e o timing que estamos armando, você vai ter a custódia antes que qualquer um apareça pra levar a menina.""Essa porra tem que dar certo, Doyle. Perder a Mel acabaria com a Elise. E i
Estávamos no meio da conversa quando ouvi três batidas na porta. Graves e certeiras.Sabia que era ela. Como se o destino fizesse questão de anunciar."Pode entrar, Amor." Falei alto o suficiente. Grave virou o rosto na mesma hora.Elise entrou com o queixo erguido, os olhos sérios e aquele olhar que atravessava qualquer um, até mesmo eu."Vou dar espaço pra vocês." Grave murmurou e saiu, passando por ela com um aceno leve. A porta se fechou atrás dele.Ela ficou ali parada por um segundo, os olhos me encarando. Depois ajeitou uma mecha do cabelo macio atrás da orelha e se aproximou."Você já deve ter conhecido a Sabine." Falei antes que ela precisasse perguntar."Oh, sim." Ela respondeu com um sorrisinho irônico. "É sobre isso que eu gostaria de falar com você."Me encostei na beirada da mesa, cruzando os braços."Pelo que escutei, há um passado entre você, Grave e ela." Ela continuou, direta. "Devo me preocupar com ela?"Soltei uma risada alta e rouca, balançando a cabeça."Foda-se
Não esperei por Trent.Sabia que ele não poderia estar fisicamente comigo naquela situação. Aquela parte do nosso plano eu teria que fazer sozinha.Peguei um táxi e segui o trajeto inteiro com o coração batendo alto no peito, como se tentasse me alertar de que algo estava prestes a dar muito errado. Do lado de fora, a cidade escurecia em tons acinzentados, e tudo o que eu conseguia pensar era: onde diabos minha mãe estava?Quando o táxi parou na frente do prédio, já era quase noite. O céu tingido de roxo profundo refletia exatamente como eu me sentia por dentro. Transtornada. Quase sem ar.Paguei a corrida e subi os degraus como se estivesse indo para uma sentença.Assim que entrei no saguão do prédio, meus olhos encontraram Mel.Ela estava sentada em uma cadeira, com a mochila nas costas, os pés balançando no ar e os olhos marejados. Ao lado dela, Samanta — a assistente social — segurava uma prancheta com alguns papéis. Tudo nela parecia frio, prático demais. O cabelo preso num coque
A fumaça do cigarro ainda dançava no ar quando bateram na porta do meu escritório. Dei uma última tragada antes de responder:"Entra."A porta se abriu, revelando Naja, meu braço direito, com a cara sempre séria e a postura de soldado."Chefe, o advogado tá aí. Disse que precisa falar com você. É importante."Assenti com a cabeça. "Manda entrar."Doyle apareceu segundos depois. Estava suado, a gravata torta, os olhos inquietos. Um rato bem alimentado, mas ainda assim... um rato."Fecha essa porta, senta aí... e pega uma bebida na estante antes que eu ache que você veio me encher o saco à toa."Ele obedeceu, derramando Whisky num copo com mãos um pouco trêmulas, antes de se acomodar na cadeira de frente pra mim."O que foi agora?" perguntei, acendendo outro cigarro com calma."Eu tenho notícias." Ele molhou os lábios com o álcool antes de continuar. "Iron me pediu pra preparar os papéis... Ele quer adotar a irmã de Elise. A menina. Mel."Soltei uma gargalhada alta e seca. O tipo de ris
PONTO DE VISTA DE TRENT Levei Elise pra dentro de casa.O lugar tava do jeito que eu deixei da última vez que estive ali — coberto de poeira, com aquele cheiro de madeira velha e memórias. Nada que ela merecesse. Então fui até a dispensa, achei um balde, pano, e comecei a dar um jeito na merda toda.Ela não disse nada, só me seguiu. Pegou um pano seco e foi tirando o pó dos móveis enquanto eu passava pano no chão. A gente não trocou uma palavra, mas o silêncio dizia tudo. O ar tava denso. Como se ela estivesse carregando o mundo nas costas.De vez em quando eu olhava pra ela. Os olhos perdidos, a expressão dura. Algo dentro dela tava gritando, e aquilo tava me matando devagar."O que tá errado, Amor?" perguntei, parando com o pano na mão.Ela me olhou, mas não respondeu de imediato. Caminhou até o sofá e se sentou com os ombros curvados, trazendo os joelhos pro peito como uma criança tentando se proteger do mundo."Estou preocupada com a minha mãe" sussurrou, a voz embargada. "Ela co
PONTO DE VISTA DE ELISETrent ainda estava lá fora, encostado em uma árvore, pensativo. A brisa mexia nos fios rebeldes do cabelo dele enquanto ele terminava de fumar, o olhar perdido em algum ponto além do rio. Sabia que aquela ligação tinha sido importante, que devia ter sido com Grave — dava pra ver no jeito como seus ombros carregavam um novo peso.Por dentro, meu peito ainda doía.Mas já era hora de parar.Prometi pra mim mesma, ali mesmo no sofá onde me deixei afundar antes: chega de chorar. Chega de me lamentar. Eu sempre fui uma chorona nos momentos difíceis. Mas agora… agora era diferente. Eu não podia mais ser só a garota assustada que se encolhe num canto esperando as coisas melhorarem. Não com ele ao meu lado. Se Trent era o rei dos Ceifadores, então eu precisava ser — e me comportar — como a rainha dele.E isso exigia mudanças.Levantei do sofá, fui até a cozinha, lavei os poucos pratos que restavam, finalizei a faxina com os panos de limpeza, organizei o que pude. A casa
Minha mão aperta ainda mais a arma."Quem é?" minha voz sai mais firme do que eu esperava. Tensa, mas não frágil.Silêncio.Mais uma batida. Dessa vez, duas."Eu perguntei quem é!" repito, mais alto, o coração socando meu peito.Do outro lado da porta, finalmente, uma voz rouca responde:"Eu vim em paz, moça. Só quero conversar."Engulo seco. A voz não me é familiar. Masculina. Cansada. Mas tranquila demais pra um estranho."Conversar com quem?" pergunto, firme, sem abrir."Com o Trent. Eu sabia que o encontraria aqui"Estreito os olhos."Ele não tá. Vai embora."Silêncio de novo. Puxei lentamente a cortina da porta da frente, o coração disparado e a respiração presa na garganta. Meus olhos focaram no homem que estava parado na varanda. Ele era alto, ombros largos, a pele bronzeada pelo sol e o cabelo loiro puxado para trás com um toque de pomada. Usava um terno caro, bem cortado, que não combinava nem um pouco com o cenário rústico da casa no meio do nada.Engoli em seco.Merda.Ele
PONTO DE VISTA DE ELISE"Anda logo, Troy, a gente precisa voltar antes que percebam." Termino de abaixar a saia do uniforme de garçonete do bar onde trabalho.Troy coloca a camisa, ajeita o cabelo desgrenhado e me lança um sorriso. Tento sorrir de volta, mas meu estômago está embrulhado. Sei que, quando sair desse depósito, vou encarar os olhares dos outros funcionários. Olhares de pena. E nojo.Ninguém sabe que estamos juntos há dois anos. Na verdade, ninguém sabe nem que eu existo fora daqui. Sou só a funcionária que, de vez em quando, desaparece com o chefe.Antes que ele abra a porta, respiro fundo."Quando você vai me apresentar pra sua família como sua namorada?"Troy congela. Me olha como se eu tivesse dito algo absurdo."Já falamos sobre isso, não falamos? Muito em breve você vai conhecer minha família."Seguro a alça da saia com os dedos, tentando não parecer tão decepcionada."Muito em breve..." repito, com um sorriso vazio. "Você disse isso há seis meses, Troy. E eu ainda s