Eu já estava acostumada com o caos que se espalhava pelos corredores, mas nada me preparou para o que vi naquele dia. Enquanto caminhava pelas laterais do pátio, tentando compor minha expressão de dor e vulnerabilidade – a personagem que eu sabia interpretar tão bem – meus olhos foram atraídos para o estacionamento. Lá, num recanto pouco iluminado, Ethan e Isabella se encontravam.Fiquei escondida atrás de um carro, respirando fundo para não revelar que estava ali. A cena se desenrolava com uma tensão palpável: Isabella, com a arrogância que sempre acompanhava sua imagem de perfeição, discutia com Ethan de maneira acalorada. Seus rostos, iluminados pela luz fraca do local, mostravam mais do que simples desentendimento; revelavam um embate de vontades, onde cada palavra tinha o poder de virar o jogo.— Você acha que pode me vencer, Ethan? - Vejo ele se aproximando dela, e vi o brilho de desafio nos olhos dele — Eu não preciso vencer, Isabella. Eu só preciso deixar você se destruir soz
A semana passou rápido. A fofoca da traição já havia esfriado, mas eu e Ethan não paramos com nossos planos. Isabella ainda tentava melhorar sua situação, mas o estrago já estava feito. Trair uma amiga nunca cai bem para uma mulher — palavras dos outros, não minhas.Sentada na biblioteca, olhava para Ethan, que, pela primeira vez, parecia realmente concentrado em estudar. Eu nem sabia que ele era capaz disso. Fiquei observando-o por um tempo, notando como ele era bonito. Mais bonito que Henry, na verdade. E nem estou dizendo isso só porque Henry me traiu — é apenas um fato.Segurei um suspiro e voltei para o livro que estava tentando terminar, um romance. Uma ironia, considerando o desastre que era minha vida amorosa.— Ethan, e se eu me apaixonasse?Ele piscou algumas vezes, como se não tivesse certeza se tinha ouvido direito.— Se você… o quê?Cruzei os braços, inclinando levemente a cabeça.— Se eu me apaixonasse. Você sabe, sentimentos, borboletas no estômago, essas coisas. Todo a
A verdade é que eu já esperava que Lilith encontrasse aquela foto.Eu a conheço bem o suficiente para saber que ela não suporta não ter todas as peças do jogo nas mãos. Então, no momento em que seus olhos brilharam com aquela mistura de fúria e curiosidade, eu soube: ela tinha descoberto.Mas o que me pegou desprevenido foi o jeito que ela me olhou.Não foi com superioridade. Não foi com desprezo. Foi com algo que parecia… decepção.— Você foi a peça do jogo da Isabella. — Sua voz carregava um misto de surpresa e acusação. — Essa foto foi quando ela conseguiu te manipular. Seus olhos não estão tristes, você estava feliz. Você não era um jogador, era um observador.A forma como ela disse aquilo me irritou mais do que deveria.— Engraçado como você sempre quer me colocar em algum papel, Lilith. — Cruzei os braços, sustentando seu olhar. — Peça, observador, jogador… talvez eu tenha sido um pouco de tudo.Mas Lilith não se deixou distrair.— Para de fugir, Ethan. Me conta a verdade.Ela q
LilithEu sabia que tinha pegado pesado, mas era a única maneira de arrancar algo dele.Ethan saiu da sala sem olhar para trás, mas eu não ia deixá-lo fugir tão fácil.— Ethan, espera. — Alcancei seu braço, segurando-o antes que ele fosse embora. — Vamos conversar.Ele suspirou fundo antes de finalmente me acompanhar de volta para a sala.O silêncio entre nós era pesado. Ethan me encarava, como se estivesse esperando alguma reação.Mas, pela primeira vez, eu não sabia exatamente o que sentir.Ele dizia que Isabella o criou. Que eu não tinha nada a ver com o monstro que ele se tornou.Mas então por que eu sentia que, de alguma forma, tínhamos nos tornado espelhos um do outro?— Se não for falar nada Lilith estou indo embora. — Então é isso? — Cruzei os braços, mantendo minha expressão fria. — Você só está jogando para destruir?Ele sorriu de lado, um daqueles sorrisos perigosos.— E você não?Ele me pegou ali.Porque, no fundo, ele estava certo.Minha vingança contra Henry, contra Is
Ethan está na minha casa, folheando alguns dos meus rascunhos. Ele estuda cada detalhe com atenção, e eu apenas observo. Porque, apesar de tudo, ele reconhece algo que muitos não enxergam. — Você é muito inteligente, Lilith. Sorrio de canto. — Sempre fui, Ethan. Mas o problema foi quando Isabella chegou. Solto um suspiro, desviando o olhar. — Fiquei tão obcecada em vencê-la que esqueci de tudo o que realmente importava. Você sabia que eu cuidava dos eventos da escola? Aqueles projetos e festivais? — Minha voz vacila por um instante. — Eu era responsável por tudo. E amava isso. Os eventos nunca eram genéricos ou sem graça. Eu sempre fazia algo diferente, algo que ninguém esquecia. Um arrepio percorre minha pele ao lembrar de como fui descartada. De como as meninas simplesmente me tiraram do cargo sem hesitar, sem nem ao menos olhar para trás. — Isabella me tirou até isso. Ethan fecha o caderno e me encara, pensativo. — A cada dia eu entendo mais a sua revolta com ela.
Ethan soltou um suspiro, cruzando os braços enquanto me analisava com aquele olhar intenso que começava a se tornar familiar. — E como exatamente você quer que isso aconteça? Senti um arrepio de animação percorrer meu corpo. — Primeiro, Isabella precisa acreditar que sou só uma sombra do que fui. Vou deixar que ela ache que estou derrotada, sem rumo. — E Henry? Cruzei os braços, inclinando-me levemente para frente. — Ele ainda tem sentimentos por mim. Se eu jogar direito, ele vai começar a duvidar das escolhas que fez. Ethan riu, um som baixo e cheio de diversão. — Então vamos mexer no ego dele? — Sempre funciona. Ele arqueou uma sobrancelha. — E se Isabella perceber? Sorri de lado. — Isabella pode ser esperta, mas ela tem um defeito: quando acha que já venceu, baixa a guarda. Ethan esfregou o queixo, pensativo. — E então, quando ela baixar a guarda… Meu sorriso ficou ainda maior. — Nós derrubamos a rainha. O brilho nos olhos de Ethan denunciava que
— Filha. — Minha mãe entra no quarto sem bater, como sempre. Seu olhar desliza até Ethan e ela sorri de lado. — Ethan, não é nem mais surpresa você estar aqui.Ele devolve o sorriso com a mesma naturalidade de sempre.— Olá, Angeli.Minha mãe cruza os braços, lançando um olhar curioso para nós dois.— Então, quando vocês vão me contar o que realmente está acontecendo?Reviro os olhos, mas Ethan apenas ri, sempre tão despreocupado.— O que a senhora acha que está acontecendo? — Ele pergunta, divertido.— Acho que vocês estão aprontando alguma coisa. — Ela estreita os olhos para mim. — E, conhecendo você, Lilith, aposto que tem a ver com a escola.Cruzo os braços, fingindo desinteresse.— Mãe, por favor. Você sempre diz que eu sou uma boa estrategista.Ela bufa, mas um sorriso de orgulho passa pelo seu rosto.— Só não se meta em confusão demais, mocinha.— Eu? Confusão? — Coloco a mão no peito, fingindo indignação. — Sou um anjo.Ethan ri, balançando a cabeça.— Sim, claro. O anjo do ca
— Sabe, Ethan, muita gente considera o xadrez um jogo de velho ou um jogo chato. Mas a verdade é que a vida é um grande tabuleiro de xadrez. Isso é algo que aprendi com meu avô. Ele me ensinou a jogar xadrez.— E pelo visto, você aprendeu bem. — Ethan comentou, fechando o livro e me encarando com aquele olhar penetrante, o mesmo que sempre usava quando estava prestes a dissecar minhas palavras.Dei de ombros, pegando uma peça invisível no ar.— Meu avô sempre dizia que, no xadrez, o rei é a peça mais importante, mas a rainha… — Sorri de canto. — A rainha é a mais poderosa.Ethan inclinou a cabeça, como se estivesse avaliando minhas palavras.— E você se considera a rainha?— Me considero alguém que sabe jogar. — Respondi, mordendo o canto do lábio. — E alguém que nunca esquece uma jogada.Ele soltou uma risada baixa.— Isso soa como uma ameaça.— Não. — Cruzei as pernas, apoiando os cotovelos nos joelhos. — É uma promessa.Por um momento, o silêncio preencheu o quarto. Eu podia sentir