Agora que eu havia decidido pela lua de mel, comprei as passagens na hora.
Antes de partir, resolvi voltar para arrumar minhas coisas. Afinal, já estou casada — não dá mais pra morar na casa do meu ex.
Estava dirigindo quando a tela do celular acendeu: era o Matheus.
Normalmente, depois que ele me colocava na lista negra, eu precisava passar dias me humilhando até ele, magnânimo, me desbloquear. Agora, em menos de 24 horas, ele já estava ligando — só podia ser por causa da Júlia.
Atendi. A bronca veio como uma avalanche:
— Quem te deu permissão pra bloquear a Júlia? Você sabe que ela é sensível, e ainda faz isso pra provocar?
— Vai pro bar agora pedir desculpas pra ela!
Mesmo decidida a seguir em frente, ainda doeu ver Matheus defendê-la com tanta devoção, como se ela não pudesse sofrer nem um arranhão.
— Não acho que fiz nada de errado. Não vou me desculpar. Além disso, eu já me cas...
— Não vai? — Matheus me interrompeu, rindo com escárnio. — Rafaela, quem te deu coragem pra me enfrentar? — Esqueceu que sua avó ainda está internada no hospital da minha família? Se não chegar aqui em meia hora, vou mandar expulsarem ela!
Ele sempre soube atacar onde mais doía. Entrei em pânico.
— Desconta em mim! Mas não mexe com a minha avó!
O telefone já tinha sido desligado.
Com as mãos tremendo, fiz a volta no carro. Eu sabia que ele não estava brincando — por Júlia, Matheus era capaz de qualquer coisa.
Minha avó era tudo o que eu tinha. Não podia deixá-la em perigo.
Pisei fundo no acelerador. Assim que cheguei na porta do bar, uma moto virou bruscamente na minha frente. Tentei desviar e acabei batendo o carro contra um pilar.
A dor no peito foi imediata. Tive certeza: minhas costelas tinham rachado. Mas não havia tempo. Saí do carro cambaleando e corri para dentro.
O garçom se assustou ao me ver ensanguentada:
— Senhorita, quer que eu chame uma ambulância?
Agarrei seu braço, desesperada:
— Onde está o Matheus? Me leva até ele!
A porta do camarote se abriu. Entrei, coberta de sangue e poeira, diante de uma sala lotada e animada — que imediatamente ficou em silêncio.
O rosto do Matheus empalideceu. Ia se levantar, mas...
— Ai! — Júlia gritou e se jogou nos braços dele, assustada.
Matheus, aflito, cobriu os olhos dela com a mão. Quando olhou pra mim, seu olhar terno se transformou em desprezo.
— Rafaela, você tá tentando assustar quem com esse show todo?
— Mandei você vir se desculpar, não fazer cena pra traumatizar a Júlia!
Sem responder, fui até Júlia e, sob o olhar desconfiado de Matheus, abaixei a cabeça:
— Me desculpa. Eu não devia ter te bloqueado.
Desbloqueei ela ali mesmo. Olhei o relógio: vinte e nove minutos desde a ligação.
O sangue escorria pela testa e embaçava a visão. Me virei para Matheus:
— Agora? Só não mexe com a minha avó. Vou providenciar a transferência dela para outro hospital...
Antes que eu terminasse, o rosto dele escureceu:
— Então você só veio por causa da sua avó?
Claro que sim. O que mais seria?
Sorri, amarga. Não havia mais ilusões.
Ele ainda quis dizer algo, mas Júlia exclamou:
— Meu sapato... Tem sangue!
Ela olhou pra Matheus, manhosa:
— Foi aquele salto que você comprou especialmente pra mim. Agora estragou...
Matheus passou o braço pela cintura dela:
— Limpa pra ela!
Alguém me deu um empurrão por trás. Quase caí de joelhos diante da Júlia. Me apoiei no balcão, mas derrubei um copo — o conteúdo respingou nela.
— Ai! Rafaela, eu sei que você não gosta de mim, mas precisava me molhar de propósito?
Ela espirrava sem parar, encharcada. Matheus tirou o paletó e a cobriu com ele. Depois me lançou um olhar gélido:
— Nunca imaginei que você fosse tão cruel. Teve coragem de maltratar a Júlia bem na minha frente!
— Eu juro que não foi de propósito! Alguém me empurrou...
Mas ele nem me ouviu.
— Já que você não tem limites, vou expulsar sua avó do hospital! Talvez assim aprenda a se comportar!
Entrei em pânico. Agarrei sua manga:
— Pode me punir como quiser! Só não machuca minha avó!
Ele pegou Júlia no colo. Com um chute, me afastou. Acertou exatamente onde eu tinha batido no carro. Senti uma dor cortante subir do peito.
— Matheus! Por favor! Deixa minha avó em paz! Eu me ajoelho, eu me humilho! Não quero mais me casar! Fica com a Júlia!
Mas ele já tinha saído — sem olhar pra trás.
Caída no chão, mal conseguia respirar. Alguns amigos dele me cercaram, rindo:
— Gente, olha isso. Igualzinha a um cachorro.
— Já que o Matheus não liga, que tal a gente se divertir um pouco?
Assustada, recuei até o canto da parede:
— N-não cheguem perto!
Quando aquelas mãos iam se aproximar, alguém interrompeu:
— O Matheus proibiu de encostar nela. Vocês ouviram o que ele disse? Ele ainda vai casar com outra pessoa.
Desanimados, os caras foram embora, rindo e combinando o próximo rolê.
Juntei forças e me levantei, tropeçando pra fora daquele inferno.
Só pensava em uma coisa: salvar minha avó.