Correndo contra o tempo, finalmente cheguei ao hospital da Família Alves.
Assim que estacionei, vi uma cadeira de rodas velha abandonada do lado de fora — e nela, sentada, estava minha avó!
No meio do inverno, vestindo apenas o pijama de hospital, eu não sabia há quanto tempo ela estava ali fora. Seu rosto estava pálido de frio, os olhos cerrados com força.
Cambaleando, corri até ela. Meus dedos tentavam, em vão, aquecer suas mãos geladas, enquanto as lágrimas desciam sem controle. Gritei, desesperada:
— Vovó, olha pra mim! A sua neta veio buscar você! Abre os olhos, vamos pra casa!
Implorei à enfermeira na entrada:
— Por favor, deixa ela entrar primeiro, só por um momento! Eu já estou providenciando a transferência, mas salva ela antes, por favor!
A enfermeira hesitou.
— Senhora Almeida, este é um hospital particular da família Alves. Nós realmente... não podemos fazer nada.
Com as mãos tremendo, peguei o celular e tentei ligar para Matheus.
Liguei várias vezes. Ninguém atendeu.
Quando meu coração já estava gelado, a ligação finalmente caiu.
Um fio de esperança surgiu, e supliquei com toda a humildade:
— Matheus, eu já pedi desculpas pra Júlia! Você quer que eu me ajoelhe? Tudo bem! Só deixa minha avó voltar pro hospital, por favor!
— Ela já tá muito velha... não aguenta mais tanta coisa.
Minha voz já se desfazia num choro. Mas no momento seguinte, minha garganta travou.
Do outro lado da linha, quem atendeu foi Júlia, com a voz melosa de sempre:
— Rafaela, o Matheus tá no banho, não pode atender agora. Daqui a pouco ele retorna, tá?
— E ah, recebi seu pedido de desculpas. Mas olha, não faz mais isso, tá? Você sabe que o Matheus me protege demais.
Com aquela provocação disfarçada de doçura, mordi o lábio até sentir gosto de sangue.
Quando a ligação foi encerrada, eu já sabia: não havia mais esperança.
Olhei para minha avó, ainda desacordada, e o desespero tomou conta de mim. Minhas pernas quase não me sustentavam.
Se eu soubesse que bloquear a Júlia causaria uma vingança tão cruel por parte de Matheus, nunca teria feito isso!
Levantei a mão, com vontade de me estapear.
Mas antes que conseguisse, alguém agarrou meu pulso com firmeza.
Era Thiago.
Ele chegou apressado, abriu a porta do carro e disse com voz firme:
— Entra. Já resolvi toda a papelada. Vou levar sua avó pro Hospital Municipal.
Ele agiu com rapidez, colocou minha avó no banco de trás e ligou o aquecedor no máximo.
Sentei-me ao lado dela, ainda trêmula.
— A doença da vovó precisa de medicamento importado... eu não sei se o hospital vai ter... — Murmurei.
Thiago respondeu com tranquilidade:
— Já mandei trazer do exterior. Chega hoje à noite, de avião.
Fiquei atônita. Eu nunca tinha falado nada sobre a medicação.
Como ele sabia?
E mais — por que ele estava ali? Por que já tinha providenciado a transferência?
Mil perguntas engasgaram na minha garganta.
Apenas mordi os lábios e murmurei:
— Obrigada.
A mão de Thiago apertou o volante. Seu olhar, sério, se aprofundou:
— Entre marido e mulher... não existe “obrigado”.
Alguns dias depois, os sinais vitais da vovó finalmente se estabilizaram.
Nesse tempo todo, Matheus não ligou nem uma vez.
Quem não parava de mandar mensagens era Júlia — fotos, selfies com Matheus, tentativas patéticas de me provocar.
Mas eu já não me importava.
Thiago disse:
— O melhor tratamento pra sua avó é fora do país. Já organizei tudo. Se você quiser, podemos embarcar agora.
Assenti sem hesitar. Ela era minha única preocupação — não havia mais razão para eu ficar.
Só que meus documentos ainda estavam na casa do Matheus. Precisava voltar lá pra pegá-los.
Assim que girei a chave da porta, ouvi gemidos vindos do quarto.
Entrei.
As roupas estavam espalhadas pelo chão, desde a entrada até o corredor.
Aquele par de saltos altos — ainda manchado com meu sangue — foi jogado na porta do quarto.
Quando eu demonstrava ciúme da Júlia, Matheus me olhava com desprezo, dizia que eu tinha o coração podre.
Alegava que Júlia era como uma irmã.
Mas quem, nesse mundo, vai pra cama com a própria irmã?
Foi o estalo final.
A última corda que me prendia, se rompeu.
Fechei o punho, me obriguei a não ouvir, não olhar. Fui direto ao escritório pegar meus documentos.
Na saída, dei de cara com Matheus.
Ele ainda estava marcado, o corpo suado.
O desejo nos olhos não tinha sequer sumido.
Ao me ver, seu rosto oscilou, e ele se apressou em dizer:
— O que você tá fazendo aqui?
Baixei os olhos. Não respondi.
Talvez pela primeira vez, ele percebeu a própria sujeira. E tentou se explicar.
— Eu bebi demais... foi sem querer.
Senti um leve cheiro de álcool — quase imperceptível.
Me lembrei que ele sempre se orgulhou de beber sem cair.
Assenti com frieza.
Eu só queria sair dali.
Mas ele não se mexia da porta.
Me encarava, tentando decifrar minha expressão.
— O que aconteceu hoje... foi um acidente. — Disse em tom grave.
— Nosso casamento continua como combinado. No mês que vem.
— Matheus! — A voz dengosa de Júlia veio lá do quarto.
Matheus não virou. Continuava me olhando.
Para evitar mais confusão, respondi:
— Tá bem. Como você quiser.
Ele relaxou, satisfeito com minha aparente obediência. Olhou para a pasta nas minhas mãos.
— O que você pegou aí?
Meu coração disparou, mas mantive a calma.
— Um relatório médico.
Ele franziu a testa.
— Você se machucou muito naquele acidente de carro?
Deixei-o acreditar nisso. Era melhor assim.
— Nada grave. Eu mesma vou ao hospital.
Antes que ele falasse mais alguma coisa, ouviu-se um baque vindo do quarto, seguido da voz manhosa de Júlia:
— Ai, Matheus! Esse chão tá tão escorregadio...
Ele ficou tenso, esqueceu de mim e largou:
— Amanhã eu te levo ao hospital.
Virei-me em silêncio.
Matheus, você não vai mais me encontrar.
Hoje... eu vou embora de vez.
Chegando ao aeroporto, Thiago já me esperava com minha avó.
Puxei minha mala e estava prestes a caminhar até eles quando uma voz rangente me parou:
— Rafaela! Onde você pensa que vai?
Ao me virar, vi Matheus ofegante, os olhos cheios de raiva.
Thiago deu um passo à frente, passou o braço pela minha cintura e disse, calmo como sempre:
— Com licença. Estou levando minha esposa para embarcar.