Início / Romance / Casamos Com Outros… E Viramos Estranhos / Capítulo 2 Uma jogadora de mão cheia
Capítulo 2 Uma jogadora de mão cheia
— Carta de demissão. — Carolina disse a verdade, como sempre. Ela nunca o enganava.

Ele já lhe dissera que detestava mentiras, mesmo aquelas ditas por bondade.

O semblante de Matheus escureceu ainda mais.

— Da próxima vez, não importa de quem seja a carta de demissão, entregue direto ao RH. Não faça o que não é da sua alçada. Se anda com tempo demais, vá visitar sua avó.

A porta se fechou com força. O sorriso de Carolina se desfez pouco a pouco.

— Matheus… Essa carta de demissão é minha. — Murmurou, sozinha.

Às 18h, Carolina acompanhou Matheus até a casa da família Silva. Assim que o carro estacionou, Tatiane veio correndo, com o cachorrinho branco nos braços.

O olhar que ela lançou a Matheus estava cheio de alegria e de um leve constrangimento doce.

Mas o animalzinho, por outro lado, parecia não gostar dele: latiu furiosamente, sem parar.

— Toby, não faça escândalo, este é o papai. — Disse Tatiane.

A expressão de Carolina se contraiu levemente. Ela lançou um olhar rápido a Matheus.

Ele nunca gostara de cães ou gatos. Era alérgico ao pelo deles.

Mas, no momento seguinte, Matheus estendeu a mão e deu um leve toque na cabeça do cachorro.

— Toby, não é? Se continuar bravo comigo, vou pedir para a mamãe te mandar embora.

Carolina ficou imóvel, encarando aquela mão que acariciara a cabeça do cachorro. Por dentro, foi como se alguém tivesse derramado limonada em seu coração. Azedo e frio.

Anos atrás, ela criara um gato. Mesmo mantendo-o sempre na gaiola, Matheus mandara que o doasse por causa da alergia.

E agora, ali estava ele… Conversando e tocando no cachorro de Tatiane.

Então, a alergia dele podia se “curar” quando se tratava da pessoa que ele amava.

— Theus, meus pais já estão te esperando lá dentro. — Disse Tatiane com sua voz doce e suave.

Bailarina, tinha o corpo delicado e flexível, e até o modo como olhava as pessoas parecia conter uma elasticidade quase sedutora.

Uma mulher assim… Quem não se encantaria?

Até Carolina, sendo mulher, se pegava observando Tatiane por mais alguns segundos.

Os dois seguiram de mãos dadas, trocando gestos e olhares carinhosos, enquanto atrás deles Carolina e o motorista carregavam sacolas e caixas de presentes.

Aquela visita nada mais era do que uma reunião entre as duas famílias para acertar os detalhes do casamento. Carolina, sentada a um canto, abriu o caderno e começou a anotar rapidamente, registrando cada ponto.

Profissional. E impecavelmente dedicada.

— Acho que era isso que conseguimos pensar. — Disse Gustavo Silva, pai de Tatiane.

Nesse momento, Carolina já havia preenchido quase um caderno inteiro de anotações.

Ainda assim, Débora, mãe de Tatiane, perguntou com ar desconfiado:

— Senhorita Carolina, anotou tudo mesmo? Não esqueceu de nada, certo?

— Mãe, não precisa se preocupar tanto. A senhora nunca ouviu aquele ditado? “Um Theus é fácil de achar, mas uma Carolina é rara.” — Tatiane olhou para Carolina com um sorriso. — É justamente por ser tão competente que a senhorita Carolina conseguiu ficar ao lado do Theus por tantos anos.

Depois, balançou de leve o braço de Matheus.

— Não é, Theus?

— Fiquem tranquilos, senhor e senhora Silva, a Carolina é muito cuidadosa. — Respondeu Matheus, lançando a Carolina um olhar rápido, mas carregado de um aviso silencioso para que não cometesse nenhum erro.

Como Tatiane dissera, Carolina estava com ele havia anos. Dos assuntos mais públicos aos mais íntimos, ela sempre resolvera tudo pessoalmente, sem jamais falhar.

Qualquer um poderia duvidar dela. Menos Matheus.

E ainda assim… Um olhar de advertência?

O coração de Carolina, já sem calor, esfriou um pouco mais.

— Theus, por que não deixamos a senhorita Carolina ser minha madrinha de casamento? — Sugeriu Tatiane de repente, sorrindo para ela. — Você aceita, senhorita Carolina?

Carolina pensou no seu compromisso para aquele dia.

— Sinto muito, mas não estarei disponível.

— Theus. — Disse Tatiane, manhosa. — Não deixa ela marcar nenhum outro compromisso. Quero que vista o traje de madrinha e fique ao nosso lado, testemunhando a nossa felicidade.

Matar alguém por dentro… Tatiane era uma especialista nisso.

Por fora, parecia doce e inofensiva; por dentro, já empunhava a faca invisível, eliminando Carolina como rival.

No caminho de volta, Carolina permaneceu em silêncio. Matheus, por sua vez, massageava a testa, como se estivesse exausto.

Quando o carro entrou na Villa do Bosque, Carolina, no tom formal e respeitoso de sempre, disse:

— Boa noite, senhor Matheus.

— Estou com alergia. Ache o creme para mim. — Respondeu ele, tirando a gravata enquanto falava.

Na pele do pescoço, os pontos vermelhos já apareciam, salpicando a região do pomo-de-adão.
Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App