Capítulo 2

O almoço foi um festival de gentilezas desconfortáveis e silêncios constrangedores. Henrique mal tocou na comida, a famosa feijoada de Dona Marta, enquanto Bárbara comia com apetite, parecendo alheia à tensão que pairava no ar. O pai de Bárbara, Seu Antônio, um homem calado e de olhar cansado, dirigia a Henrique algumas palavras educadas sobre a colheita e o clima, enquanto Dona Marta tentava preencher os vazios com perguntas sobre a vida na cidade grande.

Henrique respondia com monossílabos, a mente distante. A simplicidade daquela casa, a genuína hospitalidade daquela família, tudo aquilo era tão diferente do seu mundo que o deixava desconcertado. Ele observava Bárbara discretamente. Ela raramente falava, mas quando o fazia, suas palavras eram ponderadas e inteligentes. Não havia nela um traço de subserviência, de interesse, o que atiçava ainda mais sua curiosidade.

Após o almoço, Seu Antônio se desculpou e saiu para cuidar da lavoura. Dona Marta recolheu os pratos da mesa, deixando Henrique e Bárbara sozinhos na pequena sala. O silêncio voltou, pesado e expectante.

— Você não parece muito feliz com esse casamento — Bárbara disse, quebrando o silêncio com uma voz calma.

Henrique a encarou, surpreso com a franqueza. — Você está errada. Estou em êxtase — respondeu, com uma ironia cortante.

Bárbara não se deixou intimidar. — Não minta para mim, Senhor Mancini . Vejo nos seus olhos o mesmo desconforto que sinto no meu coração.

Henrique a fitou, intrigado. Aquela mulher não era o que ele esperava. — E por que você aceitou? — perguntou, a voz mais suave do que pretendia.

Um traço de tristeza cruzou o rosto de Bárbara. — Minhas razões não lhe dizem respeito. Assim como as suas não me dizem respeito e nem me interessam. Estamos presos nisso, quer queiramos, quer não. O melhor a fazer é… tentar sobreviver a isso. E fazer a vontade dos nossos pais.

A palavra “sobreviver” ecoou na mente de Henrique. Ele nunca precisou sobreviver a nada. Tudo em sua vida sempre lhe foi dado de mão beijada. Mas ali, naquela pequena casa, diante daquela mulher de olhar firme, ele sentiu uma pontada de… respeito. Respeito pela força que ela emanava, pela dignidade que carregava em cada gesto.

— Talvez… possamos fazer um acordo — disse Henrique, hesitante.

Bárbara arqueou as sobrancelhas, esperando.

— Um acordo para… tornar essa situação menos insuportável para ambos — continuou ele, as palavras saindo com dificuldade. — Podemos manter as aparências, cumprir com as obrigações sociais… e viver nossas vidas separadamente. Diante de todos assumiremos um casamento sólido, mas quando estivermos dentro da nossa casa, ou melhor dizendo, da minha casa, viveremos como dois estranhos.

Bárbara o observou por um longo momento, seus olhos castanhos penetrando a máscara de arrogância que ele usava há tanto tempo. — E o que acontece quando um de nós… se apaixonar? — perguntou ela, a voz quase um sussurro.

A pergunta pegou Henrique de surpresa. Apaixonar-se? Aquilo nunca fez parte do plano. -- Isso nunca vai acontecer, senhorita Bárbara, -- ele exclamou com arrogância, -- depois do casamento iremos morar na cidade grande e você irá deixar esse lugar. Desculpa a sinceridade, mas você não é o tipo de mulher que pode chamar atenção de um homem..

Barbara olhou para ele intrigada, e mordendo os lábios inferior, ela respondeu: -- Não estou procurando seu coração, senhor Henrique. Tenho outras razões para aceitar esse casamento, e se apaixonar por um homem igual a você, não está nos meus planos, pode ficar tranquilo, você não me interessa, -- um sorriso sarcástico deslizou nos lábios de Barbara.

Henrique imaginava que a aceitação dela para o casamento seria somente pelo dinheiro fácil. Sendo a esposa de Henrique Mancini e Nora de Hermano Mancini trairia muito dinheiro e vida boa que nunca teria sendo filha de agricultores, assim pensava ele.

Ela se virou para sair da sala, mas Henrique segurou firme seu braço.

-- O que eu tenho que não te interessa? -- o tom de voz de voz Henrique era um misto de curiosidade e raiva. Na verdade, as palavras de Barbara o deixou intrigado. Nenhuma mulher foi ousada o suficiente para questiona-lo,mas Bárbara Sousa fazia isso com frequência mesmo sendo o primeiro encontro entre eles.

Ele sempre acostumava ficar com qualquer mulher que quisesse. Mas se casar não estava nos seus planos, mas como existia esse acordo entre o seu pai e o pai de Barbara, Henrique, pensava na herança que havia de receber se cumprisse o acordo.

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