Cinco anos atrás...
William Wueinnox entrou em seu apartamento em Seul, afrouxando a gravata e dobrando as mangas da camisa social até os antebraços. Exausto, mas satisfeito, ele havia acabado de pedir sua namorada em casamento. A vida parecia finalmente entrar nos trilhos. Enquanto se jogava no sofá, o telefone tocou, ecoando pela sala silenciosa.
— Alô? — atendeu com um suspiro.
— William, meu filho! Que bom que atendeu! — a voz animada de Kaia Wueinnox, sua mãe, atravessou o oceano com entusiasmo. — Estou morrendo de saudades. Hael e eu estamos encerrando os negócios aqui em Lisboa. Infelizmente ainda não voltaremos para casa. Seu pai quer tentar abrir uma filial na Grécia, mas vou tentar o convencer a voltamos para pelo menos ver você, querido.
William sorriu, mesmo sabendo que a provável volta dos pais significava uma enxurrada de expectativas.
— Que bom, mãe. Já sou adulto, mas vai ser bom ter vocês por perto. Isto, se a senhora conseguir convencer o pai a fazer uma pausa e voltar para casa.
— Claro que sim, meu amor. E então, alguma novidade?
William hesitou. Passou a mão pela nuca, nervoso.
— Eu... vou me casar.
O grito de felicidade do outro lado da linha quase o fez afastar o telefone da orelha.
— Meu bebê vai se casar! Estou tão feliz! E com quem? Quando será a cerimônia? Quero organizar tudo!
— Mãe, calma. Vai ser só no civil. Nada de festa.
— Ah, mas eu queria tanto estar presente... — lamentou Kaia. — Pelo menos me mande fotos. E diga que ela é maravilhosa!
— Claro, mãe. Você vai adorar quando conhecê-la.
William desligou o telefone se sentindo ainda mais feliz, pois a coisa que mais amava no mundo era ver sua mãe feliz. Como fez agora, depois de informar sobre seu casamento.
Só que o que William não sabia, era que não teria casamento algum. Pois dias depois, ele descobriu que sua namorada o havia lhe traído mais de uma vez, o que o fez cancelar o casamento e romper qualquer laço com ela. Mas, os telefonemas de sua mãe continuavam e ele não querendo desapontá-la, continuou com a mentira de já estar casado e foi vivendo a vida.
Presente:
O sinal vermelho refletia nas ruas molhadas de Stormnight , iluminando o interior do carro de luxo estacionado na faixa de pedestres. Dentro dele, William Wueinnox mantinha os olhos fixos na luz à frente, os dedos relaxados sobre o volante. Seu semblante era tranquilo — até o celular vibrar sobre o painel.
Ao ver o nome na tela, suspirou. Mais uma vez, teria que sustentar a mentira.
— Pronto?
— William, meu filho! Como você está? — a voz animada de Kaia Wueinnox atravessou a linha com o entusiasmo de quem não falava com o filho há meses.
— Estou bem, mãe.
— E minha nora? — ela riu, como sempre fazia ao tocar no assunto.
— Também está bem
— E minha netinha? — William fechou os olhos por um segundo. Aquela era a parte mais difícil.
Três nos atrás...
— Seraphine, se minha mãe ligar... pode fazer um favor? — ele perguntou, parado à porta da sala de reuniões.
— Qual? — ela respondeu, sem levantar os olhos dos relatórios.
— Finja que é minha esposa. Só... não conte a verdade. Ainda não tive coragem de dizer que não estou casado.
Seraphine ergueu o olhar, incrédula.
— William, já se passaram dois anos. Você ainda não contou?
— Me desculpe se não sou o filho perfeito. Só... finja. Por favor.
Ele entrou em sua sala, tentando se concentrar nos contratos do dia. Mas quando ouviu o telefone tocar e viu Seraphine atender, soube que a mentira estava indo longe demais.
A porta da empresa se abriu e uma garotinha de dois anos entrou correndo, seguida por uma cliente mais velha. William observou em silêncio.
— Bom dia, Kaia — disse Seraphine ao telefone, com um sorriso forçado. — Fico feliz em poder falar com a senhora.
Ela olhou para ele, com um olhar que misturava reprovação e cumplicidade.
— Ah, sim, seu filho está ótimo, não se preocupe.
Seraphine desviou o olhar ao ver a criança subir na mesa de centro. Quando a menina se desequilibrou, Seraphine correu até ela, ainda com o telefone na mão, e a pegou no colo.
— Nyx, filha, não faça isso — disse, sem perceber o que acabara de falar.
William congelou. Caminhou até ela e arrancou o telefone de suas mãos, torcendo para que sua mãe não tivesse escutado. Mas era tarde demais.
De volta ao presente...
— Ela está bem, mãe — respondeu, com um suspiro pesado. A mentira já não parecia tão inofensiva.
— Querido, tenho uma surpresa! Seu pai e eu estamos voltando. Vamos te visitar. Quero conhecer minha nora... e minha netinha.
— O quê?! — William quase gritou.
— Nos vemos em uma semana. Mande um beijo para Seraphine e Nyx.
A ligação caiu. William permaneceu imóvel, o celular ainda na mão. O coração acelerado. A mentira que ele sustentou por anos estava prestes a se tornar seu maior pesadelo.
Agora, teria que encenar o papel mais difícil da sua vida. E convencer Seraphine Ravenny a ser sua esposa mais uma vez.
O problema? Seraphine não era sua esposa. Era sua assistente. E a história do casamento... era uma mentira. Uma farsa inventada para acalmar Kaia, que vivia cobrando um neto e uma esposa perfeita para o filho. William nunca imaginou que essa mentira voltaria à tona.
Principalmente agora, com Kaia e Hael voltando para a Stormnight... e trazendo presentes para a neta que acreditam existir: Nyx.
William desligou o telefone com um sorriso forçado. O que começou como uma desculpa inocente agora exigia uma solução real. E só havia uma pessoa que poderia ajudá-lo a sustentar essa farsa: Seraphine.
A mulher que ele sempre considerou “sem graça demais” para seu mundo..., mas que, por algum motivo, estava cada vez mais presente em seus pensamentos.