Capítulo 06

Irina

Sabe aquele momento em que você percebe que subestimou alguém?

Pois é. Esse foi meu erro com Pietro Kuhn.

Quando me casei com ele — ou, melhor, fui forçada a me casar com ele —, pensei que ele fosse apenas um playboy arrogante com mais charme do que cérebro. Alguém que confiava tanto no próprio sorriso que nunca precisou realmente lutar por nada ou pensar em algo minimamente inteligente para se dizer.

Mas Pietro estava provando ser... surpreendentemente persistente.

E, agora, aqui estou eu, segurando o telefone enquanto meu pai — o poderoso Ivan Luzhin — basicamente me dá ordens para sair com meu próprio marido, afinal, o divórcio não era uma opção para uma Luzhin.

— Irina, eu sei que você não queria esse casamento. Sei que não é fácil para você, mas Pietro é seu marido. Você sabe bem disso.

— Eu sei, pai.

— Então faça a sua parte. Ele parece estar tentando. Não torne isso mais difícil do que precisa ser.

Suspirei, mordendo o lábio enquanto encarava o chão do quarto. É claro que Pietro teria ligado para meu pai. Ele sabia exatamente o que fazer para me colocar contra a parede. Aquele desgraçado.

— Tudo bem. Eu entendo pai, mas sinceramente...

— Irina — ele deu uma pausa —, filha, você sabe o quanto eu te amo e sabe que se eu pudesse, teria arrancado a cabeça dele fora, antes de te forçar a se casar com um traste como o filho mais novo dos Kuhn, mas... Thomas já estava casado, e como ele era tudo que restava, não tivemos opções.

— Eu sei...

— Então, Irina, pelo bem da família... aceite o convite desse pobre coitado.

Suspirei.

— Certo, papai... eu vou jantar com ele. Mas isso não significa nada.

Do outro lado da linha, ouvi meu pai suspirar, aliviado.

— Ótimo. E, Irina... não esqueça quem você é. Você é uma Luzhin. Isso significa algo. Mesmo nesse casamento.

— Eu sei.

Ele desligou e fiquei ali parada por um momento, processando o que acabara de acontecer.

— Muito bem, Pietro. Você venceu essa. Mas isso não vai ficar assim.

Minutos depois eu desci para o lobby do hotel, encontrando Pietro encostado em uma coluna, casual como sempre. Ele estava impecável, com uma camisa preta bem ajustada e aquele sorriso que parecia dizer: "Eu sou irresistível, e você sabe disso." Detestável.

— Está pronta para jantar comigo hoje, querida esposa? — ele perguntou, como se isso fosse algo completamente normal e para surpresa dele, eu suspirei antes de responder.

— Nem um pouco. Mas estou aqui, não estou?

Ele pareceu desconcertado por um segundo antes de pigarrear e responder.

— Está. E, honestamente, você está absolutamente linda.

Revirei os olhos, passando por ele e indo em direção à saída do hotel.

— Só vamos acabar logo com isso — resmunguei.

***

O restaurante era elegante, mas simples, com luzes suaves e uma vista espetacular para o mar. Tudo gritando "romântico", o que, claro, só me deixava mais irritada, e para completar, Pietro havia “providenciado” para que nos servissem em um deck afastado do restaurante. Um lugar que obviamente nem fazia parte do restaurante de tão isolado que era.

— Não me diga que você planejou tudo isso sozinho — comentei, enquanto ele puxava a cadeira para mim.

— E por que eu não teria planejado?

— Porque você não é exatamente o tipo de pessoa que pensa nos detalhes.

Ele se sentou, parecendo ofendido.

— Isso é injusto. Eu posso ser muito detalhista quando quero. E, neste caso, eu quero.

— E por que você quer tanto, Pietro? Por que está tão empenhado em me incomodar?

Ele hesitou por um segundo, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras.

— Porque estamos casados, Irina. E, se é para estarmos presos nisso, prefiro que funcione.

Eu ri, seca.

— Funcionar? Você acha que é só isso? Um jantar, algumas palavras bonitas e pronto? Que a gente vai esquecer tudo o que aconteceu e fingir que somos um casal feliz?

— Não espero que você esqueça nada. Só espero que... me dê uma chance, mesmo que não sejamos um grande casal, o que nos impede de nos tornarmos amigos?

Havia algo na voz dele, uma sinceridade inesperada que quase me fez acreditar. Quase.

— Eu vou jantar com você, Pietro. Mas não se engane. Isso não significa que você venceu.

— Eu nunca achei que seria fácil. Mas já é um começo.

O jantar foi, para minha surpresa, menos terrível do que eu esperava. Pietro, apesar de todo o charme e arrogância, era um bom ouvinte quando queria. Ele evitou assuntos delicados, se manteve leve, e, de alguma forma, conseguiu me fazer rir uma ou duas vezes.

Mas eu não estava pronta para baixar a guarda.

Enquanto a sobremesa chegava, ele inclinou-se ligeiramente para frente, com aquele olhar que eu já sabia que significava problemas.

— Sabe, Irina, eu acho que você me subestima.

— E por que não deveria?

— Porque eu posso ser muitas coisas, mas não sou tão ruim quanto você acha.

— Ah, claro. Você só arruinou a minha vida. Mas, tirando isso, é um santo.

Ele sorriu, um sorriso cheio de ironia.

— Eu não estou dizendo que fui um santo. Longe disso. Mas, se você me desse uma chance, poderia ver que não sou o monstro que você imagina.

Cruzei os braços, olhando para ele com ceticismo.

— E por que eu faria isso, Pietro? Por que deveria dar uma chance para alguém como você?

Ele não respondeu imediatamente. Em vez disso, se recostou na cadeira, como se estivesse avaliando algo.

— Porque, apesar de tudo, eu quero que isso funcione. E acho que você também quer, mesmo que não admita.

Eu ri de novo, balançando a cabeça.

— Você é inacreditável. Mas... parabéns, ao menos você conseguiu esse jantar. Não porque acredito em você, claro, mas porque você fez questão de envolver meu pai nisso. E, Pietro, só para deixar claro: isso não vai ficar assim, eu não vou deixar essa brincadeirinha, de graça.

Ele levantou a taça de vinho, como se estivesse brindando.

— Mal posso esperar para ver o que você tem planejado.

Eu encarei a taça dele por um momento antes de pegar a minha, batendo levemente contra a dele.

— Você vai se arrepender de ter aparecido na minha frente, Pietro Kuhn.

— Luzhin — ele ronronou. — Teoricamente agora, eu sou um Luzhin, querida.

 

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