Sean
O som do chuveiro é constante, abafado. Alex está lá dentro; vejo o contorno do seu corpo pelo blindex embaraçado, sentado no mesmo sanitário que, minutos atrás, ela abraçava como um amigo de infância. Ainda sinto o gosto do alerta que veio com o enjoo dela. Tento me convencer de que foi só a geleia, o café, o cansaço… mas há algo diferente no ar, impossível de negar — e pior se eu indagar.
Na cama, a bandeja do café está esquecida, o aroma de tangerina misturando-se com o cheiro do sabonete que ela sempre usa. É um perfume que me acalma e me atormenta ao mesmo tempo — porque carrega nela um mistério que eu ainda não alcancei.
Olho para o celular dela, jogado na cama, a tela virada para o colchão.
Por segundos penso em pegá-lo — e odeio o homem que sou por pensar nisso.
Maldito vício disfarçado de proteção.
E eu sei que, se encostar naquele aparelho, talvez encontre respostas que não quero ler.
Mas algo em mim… desconfia.
Não é ciúme. É instinto.
Alex carrega segredos nos olho