LARA
A luz da manhã entra preguiçosa pelas janelas, aquecendo o mármore da cozinha como se quisesse suavizar a rotina de uma casa que não nasceu para ternura.
Mas, por algum motivo, hoje ela insiste.
O aroma de café recém-passado se mistura com o das torradas e do bolo que Eliza deixou sobre a mesa. Dorian está sentado na ponta, lendo o jornal físico como se não existissem telas no mundo. Expressão concentrada, meias pretas — e ainda assim, consegue parecer perigoso.
Catarina Vega entra na cozinha como uma tempestade ensolarada: óculos escuros enormes, cabelo preso num rabo impecável e um moletom de grife que ela faz parecer alta-costura.
— Bom dia — ela canta, exageradamente animada. — Vocês não vão acreditar na minha manhã.
Dorian ergue os olhos por cima do jornal.
— Espero que envolva terapia. Ou um pedido de desculpas a alguém que você intimidou.
— Engraçadinho — ela responde, puxando uma cadeira e se servindo de café. — Não, envolve o silêncio absoluto do homem que jurou me prote