Não sei quanto tempo fico ali, no bar, com a taça apertada entre os dedos e o vinho queimando minha garganta como se quisesse arrancar de dentro tudo o que estou tentando esconder. Mas sei o instante exato em que tudo muda.

É quando levanto os olhos e o vejo. Dorian. Ainda cercado de gente, ainda com aquele ar blasé que ele consegue sustentar em qualquer ambiente, como se tudo girasse em torno de si e ele fosse apenas um observador entediado. Mas o que realmente me chama atenção não é a forma como ele segura o copo, nem o corte perfeito de seu terno.

É o sorriso.

Um sorriso malicioso, preguiçoso, que aparece no canto da boca quando uma mulher se aproxima dele. Ruiva. Alta. Um vestido colado ao corpo que deixa pouco para a imaginação. Ela toca seu braço, diz algo no ouvido dele, e ele sorri. Para ela.

E então me olha.

Diretamente. Como se soubesse.

Como se tivesse feito aquilo só para mim.

Meu corpo inteiro reage como se tivesse sido atingido. Meu coração dispara, minhas mãos suam, min