Clarice Spencer
Quarta-feira, 3h14 da madrugada
O silêncio da madrugada transformava meu apartamento na Beacon Street num mausoléu, não desses frios e impessoais, mas de mármore negro, adornado com flores murchas cheirando a saudade. O skyline de Boston, espalhado à minha frente pelas janelas panorâmicas, parecia zombar de mim com suas milhares de luzes piscando. Cada lâmpada era um lembrete incandescente de que a cidade seguia vivendo lá fora… enquanto eu apodrecia aqui dentro, sangrando por onde ninguém vê.
O uísque no copo de cristal perdeu o gelo havia horas, mas continuava firme na minha mão. Eu o erguia, observando o líquido âmbar cintilar à meia-luz, e imaginava que fosse o coração de Evan Médici: quente, caro, raro e meu por direito. Quando finalmente encostei o vidro nos lábios, não senti o sa