O camarim ainda cheirava a lavanda e luz quente, mas Irina não se sentia ali.
O segundo encontro com o cliente novo e gentil, havia terminado há pouco. Seu corpo ainda carregava o suor da dança, a marca invisível de olhos que invadiam mais do que deveriam. Sentia-se observada mesmo sozinha, como se os espelhos da sala anterior a seguissem até ali.
Ela havia acabado de vestir um robe novo, tentando se recompor diante da penteadeira, quando alguém bateu suavemente na porta.
— Senhorita Irina? — chamou uma voz feminina do lado de fora.
— Sim? — respondeu, sem se virar.
— Entrega para a senhorita. Acabou de chegar pelo correio, com seu nome. Direto para cá.
Irina franziu o cenho. Ela nunca recebia nada ali. O estúdio era discreto, seletivo. Ninguém além dos coordenadores conhecia seu nome verdadeiro, e todos os “clientes” sabiam que Afrodite era o limite do que poderiam ter.
Ela se aproximou com cautela, como se a caixa pudesse explodir ao menor toque. A fita fora amarrada com perfeição.