Apartamento de Irina | 17h22 – Dia do encontro
O som do relógio era uma tortura.
Tic. Tac. Tic. Tac.
Cada segundo parecia um sussurro perverso do destino, marcando não o passar do tempo, mas a aproximação de algo inevitável. O apartamento estava silencioso demais, tão silencioso que o tilintar de um botão de perfume caindo sobre a penteadeira soou como um tiro.
Irina permanecia imóvel diante do espelho, mas o reflexo que a encarava era estranho, quase estrangeiro. Ela não via a si mesma, via Afrodite. Ou pelo menos o espectro que precisava encarnar naquela noite. A mulher que usava a dor como véu, o prazer como armadura, e o mistério como escudo.
Segurava um cabide de veludo preto com mãos que tremiam levemente, apesar de todos os seus anos de prática. O robe escolhido escorria em cetim sobre a pele, insinuando mais do que escondendo, e a lingerie preta era quase uma obra arquitetônica de tiras, rendas e intenções ocultas. Tudo milimetricamente calculado. Mas nada… absolutamente nada