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Capítulo 4 - A Casa Onde Nada Era Meu

Capítulo 4 — A Casa Onde Nada Era Meu

A casa era maior do que Lara imaginara.

Demasiado grande. Demasiado silenciosa. Demasiado perfeita para alguém como ela.

O carro parou em frente a um portão alto, de linhas modernas. Lara olhou pela janela, sentindo um nó apertar-se-lhe no estômago.

— Vive aqui sozinho? — perguntou, tentando quebrar o silêncio pesado.

— Sim — respondeu Rafael, sem a olhar.

O portão abriu-se lentamente, revelando uma propriedade iluminada com precisão quase cirúrgica. Nada parecia fora do lugar. Nada parecia vivido.

Quando entraram, Lara saiu do carro com cautela, como se estivesse a invadir um espaço proibido.

— Isto parece um hotel — comentou.

— Não gosto de improvisos — respondeu ele, enquanto caminhava em direção à entrada. — Aqui, tudo funciona.

Ela seguiu-o, sentindo os próprios passos ecoarem no chão de mármore.

— Onde… onde vou ficar? — perguntou.

Rafael parou junto à escada.

— O quarto de hóspedes — disse. — É no segundo andar.

— Hóspedes — repetiu ela, com um sorriso nervoso. — Engraçado. Sou sua esposa, mas fico como visita.

— Prefere o meu quarto? — perguntou ele, arqueando ligeiramente a sobrancelha.

Lara corou de imediato.

— Não.

— Então estamos de acordo.

Subiram em silêncio. O quarto era amplo, elegante, impessoal. Tons neutros. Cama grande. Tudo demasiado perfeito.

— Pode usar tudo o que está aqui — disse Rafael. — Amanhã alguém trará roupas adequadas.

— Roupas adequadas? — franziu o sobrolho. — Para quê?

— Para o papel que vai desempenhar.

— Não sou uma boneca para vestir.

Rafael virou-se lentamente para ela.

— Não — disse. — Mas é uma esposa que vai ser observada.

— Por quem?

— Por todos.

Lara sentiu um arrepio.

— Isto está a ficar sufocante.

— Vai habituar-se — respondeu ele. — Ou aprende a fingir bem.

— Fingir não é viver.

— Para alguns de nós — disse ele, aproximando-se — é a única forma de sobreviver.

Ela desviou o olhar.

— Quando começa… tudo isto? — perguntou.

— Já começou.

— Refiro-me a eventos. Pessoas. Aparências.

— Amanhã — respondeu Rafael. — Um jantar. Apenas alguns investidores próximos.

— Amanhã?! — Lara arregalou os olhos. — Não estou preparada.

— Ninguém está — disse ele. — Mas não tem escolha.

— Essa frase outra vez…

— Vai ouvi-la muitas vezes.

Ela respirou fundo.

— E as regras? — perguntou. — Aqui dentro… continuam as mesmas?

— Aqui dentro — respondeu ele — são ainda mais importantes.

— Quartos separados.

— Sim.

— Privacidade.

— Dentro do possível.

— Não entra no meu quarto sem permissão.

Rafael inclinou ligeiramente a cabeça.

— Não tenho esse hábito.

— Ainda bem.

O silêncio instalou-se. Lara sentia a presença dele mesmo quando não falava. Como se ocupasse espaço demais.

— Preciso de tomar banho — disse ela, por fim. — Foi um dia longo.

— Claro.

Ela caminhou até à porta, mas a voz dele fez-lhe parar.

— Lara.

Virou-se.

— Há algo que precisa de saber — disse Rafael, sério. — Aqui, nada acontece por acaso.

— O que quer dizer?

— Que tudo o que fizer… será interpretado.

— Não posso nem relaxar?

— Pode — respondeu ele. — Desde que não esqueça quem é.

— E quem sou eu agora?

O olhar dele fixou-se no dela.

— A minha esposa.

Lara entrou no quarto e fechou a porta, encostando-se a ela. O coração batia-lhe forte demais. Aquilo não era apenas uma casa. Era uma prisão elegante.

No duche, deixou a água cair sobre o corpo, tentando lavar o peso do dia. Mas não adiantava. O contrato parecia colado à pele.

Quando saiu, vestiu um robe e sentou-se na cama. O silêncio era ensurdecedor.

Um leve toque na porta fez-lhe prender a respiração.

— Sim? — respondeu, cautelosa.

A porta abriu-se apenas o suficiente para Rafael espreitar.

— Precisa de alguma coisa? — perguntou.

— Não — respondeu ela rapidamente. — Estou bem.

Ele observou-a por alguns segundos.

— Parece tensa.

— Imagine porquê.

— Isto vai ficar mais fácil — disse ele.

— Duvido.

— Não precisa de confiar em mim — continuou. — Só precisa de cumprir o acordo.

— E se eu falhar?

Rafael abriu a porta um pouco mais.

— Então aprendemos.

— Isso soa a ameaça.

— Soa a realidade.

Ele ia sair quando Lara falou, sem pensar:

— Por que razão escolheu mesmo isto?

Rafael parou.

— Já respondi.

— Não — insistiu ela. — Disse o que precisava. Não o que sentia.

Ele virou-se lentamente.

— Sentimentos complicam — respondeu. — E eu não posso dar-me a esse luxo.

— Nem mesmo agora?

— Especialmente agora.

Fechou a porta, deixando-a sozinha outra vez.

Lara deitou-se, olhando para o teto. Tentou convencer-se de que aquilo era temporário. Um ano. Apenas um ano.

Mas algo lhe dizia que aquela casa não deixava ninguém sair igual.

Minutos depois, ouviu passos no corredor. Depois, uma voz baixa, do outro lado da porta.

— Lara.

— O quê? — respondeu, cansada.

— Amanhã — disse ele — quero que esteja perfeita.

— Não sou perfeita.

— Para o mundo — corrigiu ele — vai ser.

Ela fechou os olhos, sentindo um arrepio percorrer-lhe o corpo.

— Boa noite, Rafael.

Houve uma breve pausa.

— Boa noite… esposa.

O coração dela falhou uma batida.

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