Tristan dormira mal. Charlotte estivera em seus sonhos novamente e mais uma vez ela chorava, pedindo que ele não embarcasse para a Arábia. Ela ofereceu-se para fugir com ele, mas ele negara. Não teria nada para oferecer a ela. Era um Marquês falido, não poderia comprometê-la. Sempre fora um homem reservado. Enquanto os amigos saiam para bebedeiras e farras com as mulheres, ele procurava fazer seu dever. Nunca fora um santo, mas também não era um libertino. Tivera, sim, suas amantes, mas sempre fora discreto. Quando Charlotte aparecera em sua vida, soube que a queria como esposa. Seu jeito meigo, sua beleza, sua educação, tudo indicava que seria a esposa e Marquesa perfeita. Era dócil, linda e o queria. Tristan, na época, ainda tinha esperança de reverter sua situação precária com a ajuda do Rei, por isso se permitiu cortejá-la. Mas o rei mudou os seus planos, oferecendo uma solução para seus problemas que impediria seu casamento com Charlotte. Teve que escolher entre a mulher que queria e o nome da sua família e, ali estava ele, vestindo-se agora para o início da sua cerimônia de casamento com outra mulher. Uma que nem sequer conhecia.
Bateram na porta.
— Quem é? – perguntou, irritado.
Viu Tony entrar no quarto e avaliau o local.
— Se todos os aposentos deste palácio forem como os nossos, o Palácio Real passará uma grande vergonha.
Tristan estava furioso demais para levar em consideração as palavras do amigo. Sabia e agora odiava toda a riqueza do Sheik de Ufaaha. Olhou ao redor, procurando por suas abotoaduras. Depois, colocou o anel com o brasão de sua família no dedo.
— Agora sim estou pronto para a forca. – Falou, olhando para Tony, que inspecionava seus trajes.
— Não sente nenhuma curiosidade para conhecê-la? – Tony falou, olhando-o com muito interesse em sua resposta.
— Meu amigo, quanto mais tempo passo longe desse casamento, mas feliz eu fico. — Respondeu irritado.
Tony não escondeu a contrariedade ao lhe responder.
— Pois não se case! — Ele disse se aproximando. — Tristan, não permitirei que se case com essa mulher para fazer a vida dela um inferno. Por Deus! Ela não tem culpa de nada. Foi obrigada pelo pai a se casar, ela deixará sua casa, seu país para te seguir à Inglaterra. É em ti que ela deve confiar. Se tratar ela com todo esse ódio, seu casamento, meu amigo, será um fracasso.
A raiva correu por Tristan, ainda mais por saber que as palavras de Tony eram verdadeiras.
— Sabes muito bem que eu não faria mal a essa mulher. — Disse irritado. Só não espere que eu fique feliz por não ter escolha!
Nesse momento, bateram na porta do quarto.
— Mas que inferno! Todo mundo resolveu ver o noivo hoje. – Falou, sem paciência, enquanto ouvia a voz de Mohamed do outro lado da porta.
— Lorde Brisden, a cerimônia terá início em instantes. O Sheik requer sua presença.
Tristan deu mais um olhar a Tony, que ainda estava contrariado, e se dirigiu em direção à porta.
Enquanto desciam as escadas, Tristan pôde ouvir a música que vinha do andar de baixo. Não soube identificar que instrumento produzia aquela melodia alegre e dançante. O murmúrio de vozes foi aumentando, o que indicava que o salão estava lotado. Tony vinha logo atrás e, quando chegaram na entrada do salão, puderam observar o que se passava. Cores. Um arco-íris de cores era representado pelas roupas das pessoas que estavam ali. Vários homens e mulheres conversavam e comiam. O enorme salão fora decorado com muitas tapeçarias e milhares de velas traziam muita luz ao local. Mesas estavam espalhadas pelo salão com muitas opções de comida. Em um canto, um grupo de homens emitia o som que Tristan ouvira nas escadas por meio de um instrumento estranho, enquanto mulheres faziam uma coreografia e eram acompanhadas por muitos convidados. No meio do salão estava o Sheik, sentado em uma espécie de trono, e ao seu lado haviam duas mulheres, uma jovem e outra mais velha. Pela roupa que a jovem vestia e a posição em que estava, a única coisa que podia avaliar era seu rosto. Era moldado por traços típicos das mulheres dali: pele morena, olhos levemente arqueados e negros. Não pode negar que era bonita e diferente de todas as mulheres inglesas que conhecia.
A moça foi a primeira a notar a presença dele na porta. Virou-se para o lado e falou alguma coisa ao Sheik. Ele olhou diretamente para a porta e levantou-se. Imediatamente a música parou e centenas de pares de olhos viraram-se justamente para onde Tristan estava. Agradeceu por Tony estar ao seu lado e por não ser o único diferente ali, pois as pessoas os olhavam como se fossem de outro planeta. O Sheik pronunciou algumas palavras em árabe e, então, as pessoas começaram a aplaudir. A música voltou a ser tocada e o Sheik andou em sua direção.