8 - Que oportuno!

Francine estava na despensa fingindo estar organizando algumas latas, mas os olhos não desgrudavam do relógio de parede.

Faltavam cinco minutos.

Cinco míseros minutos.

Ela respirava fundo, tentando manter o controle, mas o corpo todo vibrava como se estivesse prestes a explodir.

— Calma, Francine. Vai dar certo. Você já repassou todo o plano, sabe exatamente o que fazer. Se o Elias fizer a parte dele, vai dar tudo certo. Vai dar tudo certo...

Repetia o mantra entre os dentes como quem se agarrava a uma bóia no meio do mar.

Francine olhou pela janela da cozinha.

O carro preto de Dorian atravessando o portão principal da mansão.

— Merda, merda, merda...

A ansiedade virou pânico imediato.

Ela largou tudo e saiu em disparada pelos corredores, se esgueirando até a lateral da casa, onde ficava a caixa de energia.

Os dedos já tremiam sobre o disjuntor. Ainda não. Espera o momento certo...

Dorian entrou com passos decididos na sala de segurança.

Impecável como sempre, terno alinhado, expressão contida, mas os olhos revelando o foco de predador.

Elias se levantou da cadeira assim que o viu.

— Senhor Dorian.

— Quero ver as imagens da festa de ontem.

— Claro. São muitas câmeras... o senhor quer ver todas ou prefere alguma área específica?

Dorian cruzou os braços, olhando os monitores.

— Comece pela entrada do salão.

Elias engoliu seco.

— Sim, senhor.

Ele digitou alguns comandos, puxando as imagens da noite anterior. Avançava devagar, pulando partes irrelevantes.

Até que...

Ela aparece.

Vestido vermelho. Vindo da lateral da mansão.

Dorian inclinou levemente a cabeça.

— Volta essa imagem. Ela veio da lateral, não da frente?

Elias hesitou uma fração de segundo antes de obedecer.

Mas então...

PLOC!

Tudo apagou. Monitores. Luzes. Sistema.

Silêncio.

Dorian piscou uma vez, surpreso.

— Mas que...?!

Elias se levantou e abriu a porta da sala para deixar a luz natural entrar.

— Senhor... acho que teve uma queda de energia.

Dorian o olhou por cima do ombro. Longo. Firme. Suspeito.

— Que momento mais oportuno, não é?

Elias congelou.

Por um segundo, pareceu que nem respirava.

Mas logo disfarçou com um sorriso tenso, nervoso como café fraco.

— Se o senhor preferir... posso gravar todas as câmeras depois que o sistema voltar e mandar te entregarem o material. Assim o senhor pode assistir com calma, sem interrupções.

Dorian não respondeu imediatamente.

Apenas estreitou os olhos, como quem percebia que havia algo fora do lugar, mas ainda não sabia o quê.

Então, calmamente, ajeitou o relógio de pulso e disse:

— Faça isso.

Virou-se para sair da sala.

E no exato instante em que a porta se fechava atrás dele...

Elias desabou na cadeira.

Dorian deixou a sala de segurança com passos lentos, mas firmes.

Não era comum ele sair da rotina para investigar algo pessoalmente.

Mas também não era comum uma desconhecida fazer ele sorrir.

Caminhou pelo corredor até a entrada do salão principal, agora vazio, com os resquícios da festa discretamente apagados pela equipe da manhã.

Parou exatamente debaixo da câmera, e olhou para cima.

O visor ainda estava desligado, reflexo da queda de energia.

Mas ele lembrava bem da imagem.

A mulher de vermelho... vinha da lateral.

Virou o corpo naquela direção, repetindo mentalmente os passos que ela deu.

Seguiu em linha reta, contornando a estrutura do salão.

Chegou até a lateral da mansão. Ali, só havia o jardim externo e a porta lateral da cozinha.

Franziu o cenho.

— Não faz sentido.

Ali não era uma entrada comum para convidados. Era área de serviço.

Apenas funcionários e fornecedores circulavam por ali.

A menos que...

Dorian ficou parado por um tempo, os olhos fixos no caminho de pedras.

Depois, olhou para o portão da entrada principal, bem mais distante.

Ela não parecia uma convidada qualquer. E ao mesmo tempo... era exatamente isso que ela fingia ser.

O mistério começava a se desfazer. Mas o interesse? Esse só aumentava.

Dorian deu meia-volta, com o maxilar um pouco mais travado que antes.

— Se ela acha que venceu esse jogo... Mal sabe com quem está brincando.

Francine religou os disjuntores com o coração na boca.

Esperou alguns segundos, escutando os sons da casa retomando a vida elétrica.

As luzes voltaram. Os aparelhos apitaram.

O silêncio nervoso da mansão foi substituído pelo zumbido dos sistemas reiniciando.

Ela respirou fundo, deu meia-volta e se esgueirou de volta pelos corredores, se certificando de que Dorian já havia subido para o andar de cima.

Assim que a escada ficou livre, ela disparou em direção à sala de segurança.

Abriu a porta como uma bala, ainda arfando.

— Deu certo?

Elias estava jogado na cadeira, com a cabeça encostada no encosto e um olhar de trauma pós-guerra.

— Eu achei que aquele homem fosse me engolir.

Francine deu um pulinho de alegria, com um gritinho contido:

— Então deu certo!

— Ainda não. Ele quer as imagens. E dessa vez você não vai ter como escapar.

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