7 - Gravada

Dorian foi até a janela, cruzou os braços e fitou o reflexo do próprio rosto sobre a cidade lá embaixo.

— Se ela entrou na minha casa... Preciso saber com quem. Se foi deixada por alguém. Se tinha um carro esperando. Ou se... realmente veio sozinha.

— Tá dizendo isso como empresário — provocou Cássio — ou como homem atingido por um salto agulha no ego?

Dorian sorriu de canto.

— Estou dizendo isso como alguém que não gosta de ser feito de idiota.

Cássio ergueu as mãos, rendido.

— Ok. Tá autorizado então? Posso pedir pro pessoal de segurança separar as imagens da entrada?

— Não. Deixa que eu mesmo cuido disso.

— Claro. Mais emocionante quando o caçador participa da busca pessoalmente.

Dorian pegou o celular, como quem já traçava um plano.

— Não vou vê-la de novo por acaso, Cássio. Vou vê-la... por escolha.

Cássio apenas balançou a cabeça com um sorriso de lado.

— Boa sorte com isso, meu amigo. Você vai precisar.

[…]

A sala de segurança da mansão ficava num anexo discreto, com paredes revestidas de monitores e o som constante de gravações sendo revisadas em silêncio.

Lá dentro, Elias, o responsável pelas câmeras e segurança eletrônica da casa, tomava seu café com cara de segunda-feira eterna.

A porta se abriu devagar, e uma cabeça familiar apareceu no vão com um sorriso exagerado demais pra ser inocente.

— Elias... Sabe que eu te amo, né?

Ele nem tirou os olhos do monitor.

— Nem vem, Francine. Não vou perder meu emprego por sua causa.

Ela entrou, fechando a porta atrás de si com cuidado, já caminhando na direção dele com o andar de quem está pra aplicar golpe emocional.

— Eu só preciso saber se o senhor Dorian já passou por aqui hoje...

— O senhor Dorian?

Aí sim, Elias virou o rosto pra encarar ela com mais atenção.

— Não, não esteve. Por quê? O que você aprontou?

— Eeeeeu? — Francine arregalou os olhos, fingindo indignação. — Sou uma santa!

— Aham. E eu sou o anjo Gabriel.

— Que a sua fé seja forte, Elias...

Ele suspirou, já tirando os fones de ouvido, sabendo que não ia escapar daquilo fácil.

— O que a “santa” quer comigo, então?

Ela sorriu, teatral.

— Quero ver se por acaso... uma mulher de vermelho aparece nas filmagens da área externa da festa de ontem.

Elias arqueou as sobrancelhas.

— Tá brincando.

— Só uma checadinha, rápida. Sem salvar nada. Sem cópia. Sem vestígios. A gente vê junto e pronto.

— Francine, cê sabe que essas imagens são criptografadas. Tem registro de acesso, tudo. Se ele quiser saber quem viu o quê, ele descobre.

— Mas ele não vai querer. Não ainda. E se eu estiver certa... nem vai precisar. Por favor.

Ela fez uma carinha que misturava culpa, charme e desespero.

Elias a encarou por um bom tempo, analisando o risco.

Depois girou na cadeira, resmungando:

— Só porque você me dá um pão de queijo na cozinha de vez em quando...

— Eu sabia que um dia minha culinária ia me salvar!

— E só cinco minutos. Se aparecer alguma mulher de vermelho, você me avisa, e a gente finge que nunca aconteceu.

— Combinado.

Ela se abaixou ao lado dele, os olhos grudados na tela conforme ele começava a puxar os arquivos da noite anterior.

Francine nem piscava.

Sabia que aquela “santa” ia precisar de um milagre se aparecesse mais do que um fiapo do vestido.

O vídeo avançava com fluidez. Câmeras externas da mansão, ângulos de entrada, saída, jardim lateral...

Até que ali estava ela.

Francine.

Com a máscara. Vestido escarlate. Cabelos soltos. Saindo pela porta da cozinha como se fosse a estrela de um filme de ação infiltrada.

Elias pausou o vídeo devagar, os olhos arregalados.

Francine arregalou ainda mais.

— Merda.

— Francine...

— Eu preciso que você apague essa imagem!

— Você tá doida?! — Elias se virou pra ela, quase tropeçando no próprio fone de ouvido. — Claro que não vou apagar!

— Por favor, Elias! Meu emprego depende disso!

— O meu também!! Se ele descobre que eu apaguei uma imagem dessas, eu sou o primeiro a rodar!

Francine andava de um lado pro outro da sala, como uma leoa em jaula.

— Tô ferrada... Tô muito ferrada...

— Eu sinto muito, mas eu não posso te ajudar nisso.

Ela parou, olhou fixo pra ele.

— Pode sim. Você vai me ajudar. Você vai fazer o seguinte...

— Lá vem...

— Quando o Sr. Dorian chegar, eu vou desligar o disjuntor da mansão. Você diz pra ele que o sistema caiu com a oscilação e que vai fornecer as imagens assim que a energia voltar.

Elias arregalou os olhos.

— Isso não vai funcionar!

— Vai sim, vai por mim. Você vai ter tempo de preparar os arquivos, certo?

— Preparar...?

— Isso. Quando for gravar as imagens pra ele, você simplesmente pula essa câmera que mostra a cozinha. Mostra as outras. Diz que o sistema falhou justo ali, sei lá. Inventa qualquer coisa técnica. Você é o técnico, não é?

— Francine... isso é pedir pra ser demitido com pé na bunda e chave de cadeia!

— Elias, é só essa câmera! Ele nem deve lembrar que ela existe! Todo o resto você mostra! Finge naturalidade! A gente já teve pane em câmera antes!

Ele passou a mão no rosto, nervoso.

— Eu tô sendo arrastado pro inferno, né?

Francine juntou as mãos como quem reza.

— Elias... por favor. Se você não me ajudar, o senhor Dorian vai ver essa imagem. Vai me reconhecer. E vai me mandar embora. Sem carta de recomendação. Sem um centavo.

Silêncio.

Elias olhou pro monitor... depois pra Francine.

Suspirou como quem assinava a própria sentença.

— Você me deve uma vida.

Ela sorriu aliviada.

— Eu te dou até o pão de queijo especial com goiabada do reino.

— E a sobremesa.

— Fechado.

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