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capítulo 8-o jogo de Beatriz

A manhã seguinte à festa amanheceu cinzenta, como se o céu refletisse a tensão que pairava na mansão Monteiro. Camila acordou cedo, mas demorou a levantar da cama. O corpo estava pesado, e a lembrança da noite anterior insistia em martelar sua mente: o abraço de Ricardo, o quase-beijo, e, principalmente, o olhar de Beatriz na porta da biblioteca.

Ela sabia: nada passaria despercebido por Beatriz.

No café da manhã, o ambiente estava carregado. Beatriz, impecável em um vestido bege, sorvia o café com calma, como se tivesse todo o tempo do mundo. Ricardo lia o jornal, mas Camila percebia sua tensão pelo modo como virava as páginas rápido demais.

— Dormiu bem, Camila? — perguntou Beatriz, com uma doçura forçada que arrepiou os pelos da nuca da jovem.

Camila engoliu em seco. — Sim… um pouco cansada.

Beatriz sorriu, mas seus olhos eram frios. — É natural. Uma mulher grávida precisa de cuidados. — Fez uma pausa dramática. — Aliás, pensei em algo. A partir de hoje, quero que participe das reuniões sociais da família. Não deve se esconder.

Ricardo ergueu os olhos do jornal, surpreso. — Beatriz, isso não é necessário.

— Pelo contrário. — retrucou ela, firme. — Todos precisam ver como estamos felizes.

Camila baixou a cabeça. Já entendia o que aquilo significava: exposição, comentários cruéis, humilhações disfarçadas de interesse.

Duas tardes depois, Beatriz organizou um chá beneficente em prol de uma instituição de caridade. Na prática, era apenas mais uma desculpa para exibir seu poder social. Camila foi obrigada a comparecer, vestida de branco, como se fosse um símbolo de pureza.

O salão estava repleto de mulheres da alta sociedade. Perfumes fortes se misturavam ao aroma de doces finos e café caro. Camila se sentia sufocada.

Uma das convidadas, uma senhora de voz estridente, aproximou-se com um sorriso cínico. — Então é você a escolhida para gerar o herdeiro Monteiro?

Camila tentou sorrir. — Sim…

— Deve ser estranho, não? — a mulher prosseguiu, ignorando seu desconforto. — Carregar um filho que não será seu?

As risadinhas ecoaram em volta. Beatriz, de longe, observava com satisfação.

Camila sentiu o rosto corar, mas manteve a calma. — Estranho é… mas também é um ato de amor.

O comentário surpreendeu até mesmo Beatriz, que franziu a testa. Ainda assim, não deixou de aproveitar o momento para alfinetar. — Camila é muito dedicada. Está cumprindo lindamente sua função.

“Função.” A palavra cortou como uma faca. Camila apertou a xícara nas mãos, desejando desaparecer.

Quando o chá terminou, Camila escapou para os jardins da mansão. O ar fresco lhe trouxe algum alívio, mas as lágrimas não demoraram a escorrer.

Ricardo a encontrou ali, encolhida em um banco de pedra. — O que aconteceu? — perguntou, preocupado.

Ela balançou a cabeça. — Eu não consigo, Ricardo. Elas me olham como se eu fosse uma aberração… como se eu fosse nada.

Ele se sentou ao lado dela, aproximando-se. — Você não é nada disso. Você é a mulher mais forte que já conheci.

Camila o encarou, e por um instante esqueceu tudo. O jeito como ele a olhava não deixava dúvidas: havia desejo, havia ternura. Havia perigo.

— Não diga isso. — murmurou ela, tentando se afastar. — Você é o marido dela.

Ricardo suspirou, passando a mão pelos cabelos. — Eu sei… mas não consigo evitar.

O silêncio que se seguiu foi quebrado apenas pelo canto distante de pássaros. Camila sentiu o coração disparar, mas, antes que pudesse responder, ouviu passos.

Beatriz surgiu no jardim, sorridente, como se não tivesse acabado de destruir a confiança da jovem diante das amigas. — Aqui estão vocês! — exclamou, teatral. — Pensei que tinham se perdido.

Camila se levantou rápido, limpando o rosto. Ricardo permaneceu sentado, rígido.

Beatriz os observou com olhos estreitos. — Camila, querida, volte para dentro. Quero apresentar-lhe mais algumas pessoas.

Camila obedeceu, sentindo o estômago revirar. Mas, ao passar por Beatriz, percebeu algo naquele sorriso: não era apenas desconfiança. Era certeza.

Naquela noite, Beatriz entrou no quarto de Ricardo sem bater. Ele estava diante da lareira, com um copo de uísque na mão.

— Não me olhe assim, Beatriz. — disse ele, antes mesmo que ela falasse.

— Como quer que eu olhe? — retrucou, aproximando-se. — Encontrei você nos jardins, sozinho com ela, como um adolescente apaixonado.

Ricardo suspirou. — Você está imaginando coisas.

Beatriz riu, fria. — Não me subestime, Ricardo. Eu conheço esse olhar.

Ele se virou, encarando-a de frente. — E se for verdade?

A pergunta a atingiu como um tapa. Por um instante, Beatriz perdeu a fala. Depois, recuperou o controle. — Se ousar tocar nela, eu acabo com a vida dessa garota. E não pense que é ameaça.

Ricardo apertou o copo com força, mas não respondeu. Sabia que Beatriz cumpriria sua palavra.

Do outro lado da mansão, Camila não conseguia dormir. Revivia cada palavra cruel, cada olhar de julgamento. Mas, acima de tudo, sentia o calor do abraço de Ricardo, o jeito como ele a defendia.

Passou a mão pelo ventre e fechou os olhos. — No que estou me metendo? — sussurrou.

O bebê ainda nem havia crescido, mas já era o centro de um jogo de poder, traições e desejos proibidos. E Camila sabia: estava cada vez mais presa na teia de Beatriz.

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