capítulo 7- A Festa

A notícia da gravidez espalhou-se como fogo em palha seca entre os círculos sociais de Beatriz Monteiro. Para ela, aquilo não era apenas a realização de um desejo íntimo — era um troféu, um símbolo de status, a prova de que sua família, mesmo diante das dificuldades, continuava invencível.

Dentro de poucos dias, convites elegantes foram impressos em papel italiano e enviados para políticos, empresários e socialites. Era a “festa da continuidade da linhagem Monteiro”.

Camila recebeu a notícia com um aperto no estômago. — Festa? Para quê?

Beatriz, sentada diante do espelho enquanto uma maquiadora retocava sua pele, ergueu uma sobrancelha com desprezo. — Para mostrar ao mundo que conseguimos. Você deveria estar feliz.

— Não acho que seja uma boa ideia me expor dessa forma… — Camila tentou argumentar, com voz baixa.

Beatriz riu com desdém. — Você não está aqui para achar nada, Camila. Está aqui para cumprir o contrato.

As palavras caíram como pedras sobre ela.

Na noite da festa, a mansão Monteiro parecia um palácio iluminado. Os jardins externos estavam cobertos por luzes cintilantes, e os seguranças na entrada filtravam a chegada dos carros luxuosos. O som de violinos ecoava pelo salão, misturado ao burburinho de conversas elegantes.

Camila foi obrigada a vestir um vestido azul profundo, de tecido leve que marcava discretamente suas curvas. O decote era ousado demais para seu gosto, mas Beatriz insistira: “Precisa parecer deslumbrante. Afinal, é a estrela da noite.”

Diante do espelho, Camila mal se reconhecia. Os cabelos haviam sido soltos em ondas largas, a maquiagem destacava seus olhos verdes, e os saltos altos a faziam parecer mais segura do que se sentia.

Ricardo apareceu no quarto pouco antes do início da festa. Parou na porta, observando-a em silêncio por alguns segundos. Quando finalmente falou, sua voz estava rouca. — Você está… linda.

Camila desviou o olhar, tentando disfarçar o rubor nas bochechas. — É só maquiagem.

— Não. — disse ele, firme. — É você.

O silêncio entre eles foi quebrado apenas pelo som distante da música que já começava a ecoar no salão. Camila sentiu o coração disparar. Por um instante, quis acreditar que estava segura ao lado dele.

A festa foi grandiosa. Lustres de cristal refletiam as luzes, garçons passavam com taças de champanhe, e conversas animadas enchiam o ar com risadas forçadas e comentários sobre viagens exóticas.

Camila, no entanto, se sentia deslocada. Caminhava pelos cantos do salão, tentando se tornar invisível. Mas não demorou para que os olhares se voltassem para ela.

Uma mulher elegante, de vestido prateado, aproximou-se com um sorriso venenoso. — Então é você… a famosa barriga de aluguel.

Camila congelou, sem saber como responder. O comentário foi alto o bastante para que outros convidados ouvissem, provocando risadinhas maliciosas.

Beatriz, em vez de defendê-la, riu com suas amigas. — Sim, é ela mesma. Mas não se enganem: está em boas mãos.

O coração de Camila apertou. Era como se fosse exibida em uma vitrine, sem direito a voz ou dignidade.

Ricardo percebeu a cena à distância. Em passos firmes, aproximou-se e, sem pensar duas vezes, colocou a mão na cintura de Camila em um gesto protetor. — Ela não merece esse tipo de comentário. Tenham respeito.

O salão mergulhou em um silêncio constrangedor. O toque dele, ainda que breve, fez o coração de Camila disparar. Beatriz, por sua vez, apertou a taça em sua mão até quase estilhaçá-la.

Mais tarde, já cansada da exposição, Camila escapou para a biblioteca. O ambiente silencioso era um refúgio em meio ao caos. As chamas da lareira iluminavam o espaço com uma luz acolhedora. Sentou-se em uma das poltronas, abraçando os próprios joelhos, e finalmente deixou as lágrimas rolarem.

— Eu não aguento mais… — murmurou, a voz embargada.

Ricardo entrou pouco depois, encontrando-a em prantos. Aproximou-se devagar e, sem pedir permissão, envolveu-a em um abraço firme.

— Não chore. — sussurrou. — Você não está sozinha nisso.

Camila encostou o rosto no peito dele, sentindo o calor, o cheiro amadeirado de seu perfume. Por alguns segundos, esqueceu tudo: o contrato, Beatriz, o peso da situação. Era apenas ela, acolhida por braços que pareciam feitos para protegê-la.

Quando se afastaram, seus rostos estavam tão próximos que bastaria um sopro para que seus lábios se tocassem. O silêncio era denso, carregado de desejo contido.

Camila murmurou, quase sem voz: — Isso é errado…

— Eu sei. — respondeu Ricardo, olhando-a como se lutasse contra si mesmo. — Mas é impossível ignorar.

Antes que qualquer coisa acontecesse, passos ecoaram no corredor. A porta da biblioteca se abriu com violência.

Beatriz surgiu, imponente, com os olhos faiscando. — Interrompo algo?

Camila recuou imediatamente, o coração batendo descompassado. Ricardo, rígido, soltou-a e tentou manter a compostura.

O silêncio que se seguiu era mais eloquente do que qualquer resposta.

Beatriz não precisava de palavras. Ela já tinha visto o suficiente.

Naquela noite, deitada em sua cama, Camila mal conseguiu dormir. A festa, os olhares, o abraço de Ricardo, o veneno no olhar de Beatriz… tudo se misturava em sua mente como um turbilhão.

Sabia, no fundo, que tinha cruzado uma linha invisível. E que Beatriz jamais deixaria isso passar impune.

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