A madrugada caiu pesada sobre Santa Clara.
O chalé estava mergulhado num silêncio quase denso, quebrado apenas pelo estalar da lenha queimando na lareira.
Ricardo permanecia de pé, os olhos fixos na janela, observando o reflexo da própria inquietação no vidro.
Camila dormia no quarto ao lado, o bebê aninhado em seus braços.
Ela parecia tranquila, mas Ricardo sabia que, desde a mensagem na janela, algo dentro dela havia mudado.
Havia medo no olhar dela — e culpa, talvez.
Ele respirou fundo, o peito apertado.
Não podia permitir que o passado os alcançasse de novo.
No outro quarto, Camila abriu os olhos.
Não era o som da chuva que a despertara, mas algo mais sutil — o peso da preocupação.
Levantou-se com cuidado, cobrindo o bebê, e foi até a sala.
Ricardo ainda estava lá, imóvel.
A luz do fogo desenhava sombras no rosto dele, e por um instante ela teve a sensação de vê-lo envelhecido, cansado, como se carregasse o mundo nas costas.
— Você não dorme mais — disse ela, suavemente.
Ele se vi