O amanhecer chegou cinza, como se o céu tivesse decidido chorar no lugar deles.
Naquela manhã, Camila acordou com o som distante da chuva batendo na janela. O mundo lá fora parecia tão pesado quanto o que ela sentia por dentro.
A entrevista, as ameaças, o reencontro com Caio, a confissão de Ricardo — tudo se misturava dentro dela como uma tempestade sem fim.
Ela levantou devagar, segurando o ventre já um pouco mais saliente, e foi até a varanda.
O ar estava úmido, e o cheiro de terra molhada trouxe lembranças antigas: a infância simples, os dias em que acreditava que o amor era só coisa bonita dos livros.
Mas agora o amor tinha outro rosto.
Um rosto que ela via toda vez que Ricardo entrava em um cômodo.
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Na sala, Ricardo olhava fixamente para uma pilha de papéis. Desde o bilhete ameaçador deixado por Beatriz, ele quase não dormira.
O rosto cansado, os olhos sombrios.
Mas, por baixo de toda aquela tensão, havia algo mais: medo. Medo de perder o que mais amava, e talvez nunc