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Capítulo 2 — O Contrato

A noite havia sido um turbilhão. Camila não conseguiu dormir direito desde que saiu da mansão Monteiro. A cada vez que fechava os olhos, via o rosto frio de Beatriz, os olhos calculistas que a analisavam como se fosse apenas um corpo à disposição. Mas, acima de tudo, via o olhar de Ricardo. Aquele olhar silencioso, intenso, que parecia conter segredos demais.

Ao amanhecer, enquanto passava café na cozinha simples de sua casa, sentia o coração pesado. Meio milhão de reais. A quantia não saía da cabeça. Dinheiro suficiente para pagar o tratamento da mãe, quitar todas as dívidas e, quem sabe, começar uma vida nova. Mas qual seria o preço emocional? Conseguiria suportar nove meses sob vigilância constante, carregando um filho que não poderia chamar de seu?

— Minha filha… você está tão pálida. — A mãe surgiu no corredor, apoiada na bengala, a respiração cansada. — Está acontecendo alguma coisa?

Camila sorriu com esforço, escondendo a verdade. — Só cansaço, mãe. Nada demais.

Não tinha coragem de contar ainda. Como explicar que talvez estivesse prestes a “vender” seu corpo? A mãe, religiosa e conservadora, jamais entenderia.

Por volta das dez da manhã, a campainha tocou. Um motorista de terno escuro, enviado pela família Monteiro, estava à sua porta.

— Senhorita Camila? Vim buscá-la para a reunião. — Ele falou com respeito, mas seu olhar era impessoal.

O coração dela disparou. O prazo dado por Beatriz estava se esgotando. Respirou fundo, beijou a testa da mãe e saiu.

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O carro preto deslizou pelas ruas da cidade até novamente alcançar os altos portões da mansão. Quando Camila entrou, já não sentiu tanto deslumbramento como da primeira vez. Agora havia um peso no ar, como se cada detalhe luxuoso fosse uma corrente dourada prestes a prendê-la.

Beatriz estava na sala, impecável como sempre, folheando uma pasta de documentos. Ao lado, Ricardo parecia distraído, olhando pela janela. Ao ouvir os passos, voltou-se para ela e esboçou um leve sorriso. Camila sentiu as pernas fraquejarem por um instante.

— Decidiu, senhorita Camila? — A voz de Beatriz cortou o silêncio como uma lâmina.

Camila engoliu em seco. — Sim. Eu aceito o contrato.

Beatriz fechou a pasta com um estalo. — Excelente. Então vamos formalizar tudo.

A advogada da família apareceu com os papéis. As cláusulas eram claras: Camila deveria morar na mansão durante toda a gestação, submeter-se a exames periódicos, manter absoluto sigilo e abrir mão de qualquer direito sobre a criança após o nascimento. Em troca, receberia meio milhão de reais.

Enquanto lia, Camila sentia o estômago revirar. Era como assinar não apenas um contrato, mas também o destino de sua própria alma.

— Há alguma dúvida? — perguntou a advogada.

Camila ergueu os olhos e encontrou os de Ricardo. Ele parecia atento, quase preocupado, como se quisesse dizer algo mas se contivesse.

— Não — respondeu, firme. — Eu aceito.

Segurou a caneta, a mão trêmula, e assinou.

Beatriz sorriu pela primeira vez. — Seja bem-vinda à família, ainda que temporariamente.

Havia um veneno sutil em sua voz.

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Pouco depois, Camila foi conduzida até o quarto que passaria a ser seu. Um espaço amplo, com cortinas de seda, cama king-size e um closet vazio à espera de suas roupas. Parecia um sonho, mas para ela era um exílio.

Deixada sozinha, percorreu o ambiente devagar. Tocou os lençóis macios, abriu as gavetas, sentiu o perfume de lavanda no ar. Tudo parecia perfeito demais. Perfeito demais para ser real.

Estava sentada na beira da cama, ainda em choque, quando a porta se abriu.

Ricardo entrou, sem a esposa. Fechou a porta atrás de si, em silêncio.

— Não deveria estar aqui — murmurou Camila, nervosa.

Ele se aproximou, devagar, até parar a poucos passos dela. Seu olhar era profundo, carregado de algo que ela não conseguia decifrar.

— Só queria ter certeza de que você sabe no que está se metendo. — A voz dele era baixa, quase um sussurro. — Isso não vai ser fácil. Minha esposa pode ser… implacável.

Camila engoliu em seco. — Eu sei. Mas preciso desse dinheiro. Não tenho escolha.

Ricardo a observou por um instante que pareceu eterno. Seus olhos tinham uma intensidade que a deixava sem ar. Então, finalmente, ele desviou o olhar.

— Se precisar de algo, fale comigo. Não apenas como parte do contrato… — Fez uma pausa, hesitou. — Mas como alguém que entende o que é estar preso a uma vida que não escolheu.

O coração de Camila acelerou. Havia tristeza e verdade naquelas palavras.

Antes que pudesse responder, a porta se abriu de repente. Beatriz surgiu, elegante e severa, encarando os dois.

— O que está acontecendo aqui?

Ricardo recuou de imediato. — Nada. Só estava dando as boas-vindas.

Beatriz estreitou os olhos, desconfiada, mas não disse nada. Apenas sorriu, aquele sorriso cortante que escondia veneno.

— Muito bem, Camila. — A voz dela era doce demais para ser sincera. — Espero que aproveite sua estadia.

Camila forçou um sorriso, mas por dentro sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha. Tinha a estranha sensação de que acabara de entrar em uma prisão luxuosa… e que, de algum modo, Ricardo era tão prisioneiro quanto ela.

Naquela noite, deitada na cama macia, o peso da decisão a impediu de dormir. Olhava o teto alto e imaginava os próximos meses. O dinheiro estava garantido, mas sua liberdade e talvez seu coração… estavam em risco.

E, sem perceber, a jovem começava a ser arrastada para um jogo perigoso — onde desejos proibidos e traições seriam inevitáveis.

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