BABÁ POR ACIDENTE
BABÁ POR ACIDENTE
Por: Tônia Fernandes
###$PRÓLOGO

A VERDADE QUE DOEU DEMAISA.

A sala de brinquedos estava silenciosa demais para uma casa que abrigava trigêmeos de três anos e meio.

— Silenciosa… e triste, Meredith, Mark e Michael estavam sentados lado a lado no tapetinho colorido, cada um com as mãos no colo, sem brinquedos, sem nada estavam de Castigo. A babá, Berta, caminhava de um lado para o outro com os braços cruzados, bufando como se cuidar de três crianças fosse uma maldição pessoal.

— Olhem para vocês… — ela resmungou, balançando a cabeça, três pestinhas e pequenos demônios. Não tem jeito para vocês, é por isso que a mãe de vocês foi embora. Não aguentou vocês três nem por um segundo, e sumiu no mundo.

Os três levantaram a cabeça ao mesmo tempo. Meredith apertou os lábios, sentindo o coração bater dolorido. Mark puxou o ar, como se tivesse levado um soco e Michael piscou várias vezes, segurando o choro e Beatriz continuou, sem piedade: — A mãe de vocês largou vocês e o pai de vocês, ela foi embora porque vocês são indisciplinados mimados demais.

— Vocês acham que alguém suporta criança que vocês são? — Ah, meus queridos… ninguém gosta de criança que dá trabalho, e vocês, são especialistas em criar confusão.

Ela ajeitou o uniforme, virou-se para pegar o celular em cima da mesinha e disse: — Fiquem aí. Quem manda nesta casa sou eu, e se levantarem desse castigo, mais tarde ficarão sem sobremesa, entenderam?

Eles não responderam, nem conseguiram, a porta bateu atrás dela quando saiu para atender a ligação pelo corredor.

— O silêncio que veio depois era pesado. Muito pesado.

Mark foi o primeiro a desabar, uma lágrima caiu no tapete.

— Meredith… é verdade o que a bruxa falou? — ele sussurrou, soluçando. — A mamãe… não gostava da gente, ela foi embora?

—Michael esfregou os olhos com tanta força que ficaram vermelhos.

— A mamãe… deixou a gente, é verdade o que a bruxa falou?

Meredith respirou fundo, que o peitinho subiu devagar, a babá era má, ela só tinha cinco anos, mas naquele instante… parecia ter mais idade, e entendia mais do que qualquer adulto. Ela virou para os irmãos, limpou a lágrima do Michael com o dedinho e disse firme:

— A nossa mamãe não deixou a gente, nossa mamãe está no céu, ela ficou doente, muito, mesmo. O papai falou que ela era boa, e não foi embora porque não gostava da gente, ela amava a gente, e ela foi para o céu, e cuida de nós de la.

Os irmãos balançaram a cabeça, chorando baixinho, Meredith enxugou o próprio rosto, e foi aí que ela mudou. Seus olhos verdes ficaram sérios, determinados, com um brilho que só uma criança ferida e forte ao mesmo tempo poderia ter, ela se levantou devagar.

Os meninos olharam para ela, esperando que a irmã explicasse o que fazer. Meredith apontou para a estante onde ficava a caixa das tintas que o pai tinha comprado na última semana.

— Vamos pegar nossas tintas.

Mark arregalou os olhos, Michael abriu a boca num “oh”. — A gente… vai pintar? — Mark perguntou. — Meredith ergueu o queixo, igualzinho o pai quando está bravo.

— A gente vai ensinar uma coisa pra ela, gente malvada precisa aprender a tratar bem crianças.

Deu dois passos, decidida. — Quando ela voltar, a gente vai falar que tá arrependido… para ela tirar agente do castigo.

Meredith pôs as duas mãozinhas na cintura.

— Aí ela vai se abaixar… e a gente vai jogar tinta nela todinha.

— Michael soltou um risinho cúmplice. — Por quê, Meredith?

Meredith respondeu sem hesitar:

— Porque ninguém fala mal da nossa mamãe. Nunca, e quem falar não dela agente se vinga!

Mark se levantou também, Michael correu até a estante, e juntos, com aquela energia inocente e vingativa que só trigêmeos sapecas possuem, abriram a caixa de tintas coloridas. Meredith escolheu o pote azul, Mark pegou o vermelho e Michael escolheu para o amarelo, ela olhou para os irmãos, levantando o potinho como se fosse um escudo.

— Quando ela entrar… a gente dá um banho de tinta nela, porque a mamãe tá no céu… e a mamãe é um anjo. E essa mulher é má, e a gente não gosta de gente má.

Os meninos concordaram, decididos, e naquele instante o momento de união e dor… os trigêmeos Callahan deixaram de ser apenas crianças. — Eles se tornaram um trio inseparável. Prontos para defender uns aos outros e prontos para defender a memória da mãe e enfrentar o mundo inteiro, se precisasse.

Mas na mente de Meredith, havia algo mais, a ideia de que a mamãe, mesmo longe, sempre estaria com eles, como um farol de amor e esperança. Imaginando o que a mãe diria se estivesse ali, talvez rindo da travessura que estavam prestes a fazer, e isso deu a ela força, e confiança para eles três e resistência a um castigo, um lembrete de que, apesar de todos os desafios, eles ainda eram uma família.

E, enquanto as águas da confusão e tristeza os envolviam, aquele novo objetivo — enterrar a mágoa sob uma explosão de cores — lhes incutiu coragem.

Afinal, a arte era a maneira deles expressarem não apenas a raiva, mas o amor que ainda havia em seus corações infantis.

E assim, no fundo do silêncio, que antes parecia tão opressivo, a promessa de um ato de rebeldia e liberdade começou a florescer como um arco-íris após a tempestade.

Eles iriam mostrar que, mesmo pequenos, tinham voz e certas verdades nunca seriam caladas.

Ela explicou baixinho, com a precisão de quem provavelmente comandava o universo na vida passada:

— Quando ela voltar, a gente fala que está arrependido, que quer sair do castigo, aí ela vai se abaixar… e a gente j**a tudo nela.

Eles sentaram novamente no tapete, pinturinhas escondidas atrás das costas.

E esperaram, quando a porta se abriu, Beatriz voltou. —Meredith colocou a voz mais doce do mundo:— Tia Bea… a gente tá arrependido…

A mulher revirou os olhos.

— Aham, que bom, levantem logo—Meredith sorriu, os três se levantaram.

— Tia Bea, pode se abaixar pra gente te dar um abraço ? E ela se abaixou, e no segundo seguinte…

SPLASH!

Azul.

Vermelho.

Amarelo.

Tinta por todo o cabelo, rosto, roupa, braços, sapatos.

Beatriz congelou.

As crianças também.

E então…

os três comeram a gargalhar.

Gargalhadas tão altas que ecoaram pelo corredor inteiro.

— SEUS DEMÔNIOS! — Beatriz gritou, levantando-se suja da cabeça aos pés. — Vocês são demônios! Eu não fico mais aqui! DINHEIRO NEM UM ME FAZ TRABALHAR NESSE INFERNO!!!

Ela saiu correndo para o hall de entrada, arrastando a mala.

E foi exatamente nesse instante…que a porta da mansão se abriu.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
capítulo anteriorpróximo capítulo
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App