— Respira, Rachel, faça Força! — uma voz gritava.
— Cadê o Brent, quero o Brent, onde está o meu marido?! — implorei. — Ele está sendo atendido, os médicos estão cuidando dele! Concentre-se, querida, vamos, seu bebê vai nascer! A dor me consumia, era como se cada fibra do meu corpo se despedaçasse. — Empurrei, gritei e chorei. E no meio daquela guerra entre a vida e a morte, a lembrança dele me sustentava — o sorriso dele, beijo em minha mão, toque e amor. “Nosso filho vai nascer”, ele me dissera antes do acidente. E acreditei. — Está quase, Rachel, vamos força, o bebê precisa nascer! —Quero o meu marido, Brent onde você está amor?— sussurrei, sem forças. Mais uma contração, e o último empurrão, e o silêncio. — Silêncio absoluto, nem um som. — Por que não ouço o choro do meu bebê? — perguntei, com o coração acelerado. Ninguém respondeu, as enfermeiras trocaram olhares. — Ela está instável, o médico falou, precisamos sedá-la — ele disse. — Não, por favor , quero ver meu bebê, não façam isso! — gritei. — Pelo amor de Deus, meu bebê não chora por quê? Uma picada fria no braço, e o mundo se desfez em sombras. E a última frase que ouvi, antes que o escuro me engolisse, foi dita num tom baixo e apressado: — Cuida para ninguém entrar nesse quarto. Quando voltei a mim, o silêncio era sepulcral. O quarto, branco e vazio, nenhum som, ou choro de bebê, ninguém no quarto, ela estava sozinha. Tentei me sentar, mas o corpo doía demais. — Brent amor, onde você está? — chamei, com a voz rouca. — Brent, onde você está? A porta se abriu, uma mulher de semblante severo entrou, a reconheci: era a mãe dele. Atrás dela, uma médica de avental e expressão tensa. O olhar da minha sogra me atravessou como uma lâmina. — Onde está o Brent? Onde está o meu bebê? — perguntei, o coração disparado. Os olhos dela se encheram de raiva e dor. — Onde eles estão? — repetiu, com a voz fria. — Você os matou. — O quê? — minha voz falhou. — Não, pode ser! Ela avançou um passo. — Matou os dois, meu filho e o seu bebê! — Não! — gritei novamente — é mentira, não pode ser verdade, Brent e o bebê estão bem. Ele falou comigo! — Tire a genitora do marido dela daqui! — ordenou a médica, chamando as enfermeiras. A mãe dele foi retirada do quarto, ainda gritando. Eu chorava sem ar, sem chão. A médica aproximou-se e segurou minha mão. — Rachel, você precisa ser forte. — Forte?!— repeti, chorando — Como posso ser forte se perdi tudo? Eu perdi o meu marido e meu filho no mesmo dia? O dia que era pra ser o mais feliz de nossa vida! A última frase dele foi que estava feliz porque o nosso filho ia nascer. L Eu disse filha, e depois disso o carro bateu… A médica respirou fundo. — O motorista que bateu no carro de vocês estava embriagado. Foi uma tragédia, Rachel. Mas você não tem culpa. — E onde eles estão? — perguntei, a voz embargada. — A família do seu marido já levou os corpos. As palavras me atingiram como lâminas. Fechei os olhos, e as lágrimas me queimaram o rosto. — O que vai ser de mim agora? — sussurrei. — Primeiro, você precisa se recuperar — respondeu ela, pedindo que aplicassem o calmante. A agulha perfurou minha pele. A dor, a perda, o mundo inteiro começaram a se dissolver.