####A PROPOSTA

Quando acordei novamente, já não havia ninguém no quarto.

Apenas uma mulher loira, de expressão serena, ajeitando os lençóis.

— Olá, Rachel — disse ela, com um sorriso suave. — Eu sou Brenda.

— Onde estão todos? — perguntei, confusa.

Ela se aproximou, sentando-se ao meu lado.

— A equipe médica achou melhor deixar você descansar.

— Descansar? — ri, amarga. — Como alguém descansa depois de perder tudo?

Brenda baixou o olhar.

— Soube da  tragédia que aconteceu, sinto muito.

— Não tenho mais nada, perdi tudo — murmurei. — Ele era tudo o que eu tinha, não tenho pais. Cresci em um orfanato, Brent me tirou de lá, deu casou comigo,  agora ele se foi.

Um silêncio pesado se instalou entre nós.

Foi então que ela falou:

— Rachel, talvez isso não seja o momento certo, mas há uma possibilidade de você recomeçar.

— Recomeçar? — perguntei, sem entender.

— Minha prima teve uma bebê recentemente. Ela precisa de uma ama de leite,  Você  está produzindo leite, e isso pode ajudar a aliviar seu corpo, e talvez a sua alma. Ela paga bem, seis mil dólares por mês, oferece casa e alimentação.

Olhei pra ela, perplexa.

— Você acha mesmo que eu sou capaz de cuidar de uma criança agora?

Brenda segurou minha mão.

— Às vezes, é uma criança que devolve a força que perdemos.

Rachel ficou em silêncio por alguns instantes. O olhar dela era sereno demais, e aquilo me deixava inquieta.

— Não sei, Brenda — sussurrei. — Ainda estou de resguardo, meu bebê  nasceu há dois dias, nem sei se teria forças para cuidar de um.

Ela sorriu, paciente, como quem já esperava aquela resposta.

— Você está produzindo leite, Rachel. É natural. Seu corpo ainda acredita que tem um bebê para alimentar, e essa criança precisa ser amamentada, minha prima não quer fazê-lo.

Olhei para ela, confusa.

— Mas, o que ela vai pensar de mim? Que tipo de mulher se candidata para cuidar de um bebê enquanto ainda chora pelo seu próprio?

Brenda se aproximou e ajeitou uma mecha do meu cabelo com um gesto quase maternal.

— Ela não vai pensar nada, querida, já sabe da sua história e ficou comovida. Disse apenas que, se você aceitar, será muito bem tratada, vai ter um quarto, alimentação, acompanhamento médico e, acima de tudo, uma nova rotina. Você não pode ficar sozinha, Rachel.

Eu balancei a cabeça, tentando conter as lágrimas.

— Não sei se consigo cada vez que ouço o choro de uma criança, sinto como se fosse o meu.

Brenda apertou de leve a minha mão.

— Então talvez seja isso o que o destino quer. Que você cuide de alguém que também precisa de amor, pode ser o começo da cura.

— E se eu não conseguir me apegar? — perguntei num fio de voz.

Ela me olhou com doçura, mas o olhar trazia algo que eu não compreendia — uma sombra de urgência.

— Então talvez seja o destino lhe oferecendo uma segunda chance.

Meu coração vacilou,  ideia de segurar um bebê  me aterrorizava, mas ao mesmo tempo, havia um espaço em mim que pedia por isso. Um vazio tão grande, tão doloroso, que eu mal conseguia respirar sem sentir que algo estava faltando.

Brenda percebeu minha hesitação, endireitou-se e ajeitou as cobertas ao meu redor.

— Vou avisar que você aceita — disse, num tom seguro, como se já soubesse o final da minha indecisão. — O motorista virá buscá-la amanhã cedo.

Fiquei imóvel, apenas ouvindo o som distante da chuva batendo contra a janela.

Não disse que aceitava, mas também não a impede de sair.

E talvez, no fundo, já tivesse aceitado.

Aceitando a dor, e o destino.

 ela ia cuidar de um bebê que não era dela

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