A chuva caía com fúria, como se o próprio céu lamentasse algo que ainda estava por vir.
Cada gota que se estilhaçava no para-brisa parecia bater dentro de mim. Havia um pressentimento estranho, um aperto no peito que eu não sabia nomear. O som dos pneus contra o asfalto molhado formava uma música dissonante — um prelúdio da tragédia que estava prestes a se compor.
— Brent, por favor, vai devagar, está chovendo — pedi, a voz trêmula entre uma contração e outra.
Ele apertou minha mão e sorriu.
Aquele sorriso, o mesmo que me conquistou quando eu ainda cantava no coral da igreja..
— Calma amor, estamos quase lá, tudo vai dar certo, e nosso filho vai chegar em breve— disse ele, com o olhar vibrando de emoção. — É nosso primeiro filho, Rachel, ainda nem consigo acreditar que vamos ser pais.
Sorri de volta, com lágrimas nos olhos.
— Nem eu acredito. Só não corre tanto, vai devagar.
— Quero chegar logo — respondeu, rindo. — Quero ver o nosso bebê nascer.
— Ou a nossa menina — corrigi, e ele balançou a cabeça, divertido.
— Tanto faz, contanto que tenha o teu sorriso.
Ele levou minha mão aos lábios, e aquele pequeno gesto, tão simples e dele ficou marcado em minha memória e no tempo.
Foi nesse instante que o destino decidiu se mostrar impiedoso.
Um farol vermelho e luz ofuscante o carro que atravessou a avenida em alta velocidade.
Eu gritei o nome dele.
— BRENT CUIDADO!
O som do impacto foi ensurdecedor.
O mundo girou, o som de freios e metal contra metal, o estilhaçar dos vidros e o som do meu próprio grito se perdendo entre o barulho da chuva.
Fui arremessada contra o cinto, o ar fugiu do peito, nosso carro girou mais uma vez antes de parar, e o silêncio que veio depois foi pior do que qualquer ruído.
Tudo cheirava a gasolina, ferro e sangue.
— Brent? — sussurrei tentando mover a cabeça.
Ele estava ao meu lado, o rosto coberto de sangue, os cílios pesados, a boca entreaberta.
— Brent! — gritei, tentando alcançá-lo, mas o cinto travou. — Amor, fala comigo! Por favor, fala comigo!
Os olhos dele se moveram, vagos.
— Rachel nosso bebê… — sussurrou, e um filete de sangue escorreu pelo canto dos lábios.
— Não fala amor, por favor fique quieto! — implorei. — Vai ficar tudo bem, amor, nós vamos ficar bem.
A chuva entrava pelo vidro quebrado, fria como o medo que me tomava. Vi pessoas correndo na rua, luzes piscando, sirenes ao longe.
— Tem alguém vivo aí?! — ouvi um homem gritar.
— Aqui, meu marido está ferido! — berrei, com toda a força que me restava. — Aqui dentro, salvem o Brent!
Bateram na porta, o som de metal sendo forçado.
— Tem uma mulher grávida aqui! — alguém anunciou.
— E o homem, o pulso está fraco, o coloquem na UTI móvel, o pulso está fraco, possível trauma craniano.
— Levem ele primeiro! — supliquei. — Por favor, salvem o meu marido!
Ninguém me ouviu. Mãos firmes me puxaram e me colocaram numa maca.
Uma contração violenta me rasgou por dentro.
— Ela entrou em trabalho de parto! — ouvi um paramédico dizer.
— Brent! — gritei, enquanto as portas da ambulância se fechavam. — Não me deixa sozinha!
O hospital era frio, cruel, as luzes me cegavam, e as vozes soavam como ecos distantes, os
Médicos falavam, enfermeiras corriam, não via os rostos, só os vultos. A dor era lancinante, mandavam ela fazer força, ela só queria saber, se Brent estava bem.