— Dona Ana é difícil, melhor não.
— Certo — semblante preocupado —, te ligo mais tarde.
Plantei um beijo nos lábios saltados e quase não o permiti que partisse, pelo meu retrovisor assisti seu porsche tomar velocidade. Sozinha no meu carro perdi o sorriso, não me preparei para aquela conversa, para mais uma recusa, para o olhar decepcionado de mamãe.
Se eu pudesse e mandasse no meu coração, a protegeria das minhas escolhas e erros.
Girei a maçaneta de mansinho, sem ruído, corpo retraído e coração travado na garganta, pé em pé, pisei na sala e a encontrei escorada na bancada da cozinha enchendo sua xícara com café. Ela sentiu minha presença, sentiu meu cheiro, sem ao menos me destinar seu olhar. Habilidosa, prendi meus cabelos num coque bagunçado, o suor da minha nuca começou a incomodar. Analisei suas roupas, simples, nada demais, pelo visto ela não pretendia sair, respirei fundo, era a hora.
— Boa tarde, mãe! — Coloquei as chaves na mesinha e fui a passos calculados até a bancada. —