Toco-me quando entro no banheiro que me esqueci de perguntar o nome do boy, ele tem cara de Luís, Roberto, talvez Alex. Faço o que tenho que fazer, checo o visual e volto, só tem um detalhe, não volto pelo mesmo caminho, sei lá, deixo os pés guiarem meu corpo, resultado? Tentador por sinal. À frente há um canto curioso da UP, um que só se entra pessoas livres de qualquer pudor. O breu da entrada magnetiza meus olhos de tal forma, quando vejo minha pele já sente o frisson emanado das paredes, das pessoas, dos ruídos.
Théo comentou uma vez desse lugar, rola de tudo se permitido. Particularmente, gosto de olhar nos olhos de quem me toca ou me beija, por isso nunca entrei, até o momento atual, quando a curiosidade vence meu racional.
— Caralho… — O palavrão vaza como uma onda cálida de sexo da garganta de alguém. Minha pele arrepia com o que ouço logo depois. — Vocês dois me comendo assim gozo fácil…
Arregalo os olhos, mas ninguém nota, não há luz.
Alguém esbarra em mim, levando o meu corpo à frente, ouço um “desculpa” misturado com muitos gemidos, sacanagens, e não preciso de esforço para entender o que está rolando, muito sexo explícito.
Não hoje. Isso não significa que em algum momento do passado não tenha experimentado uma transa a três, depois de muito vinho e amigos tentadores. Dou um passo para trás e outro, me sinto de olhos vedados, mas não piso em ninguém pelo menos, nem sei se estão no chão, deve ter camas ou sofás por aqui, não? Dou outro passo procurando apoio, uma parede por exemplo, mas nada. Pretendia gritar e perguntar como sair, antes que eu cometa um crime se algum pau desgovernado tentar furar a minha bunda, só que rápido demais para uma reação, um corpo arrasta o meu, sinto a parede chocar minha coluna, a respiração quente massagear a pele do meu pescoço, um gosto de hortelã atiçar a ponta da minha língua e um perfume cítrico desnortear as direções do meu cérebro.
— Cara, melhor se afastar, não estou na vibe e não me pergunte como sei que é um homem, porque eu sei… e…
— É perigoso entrar aqui, garota… — O efeito da rouquidão da voz move meus ombros e tenho certeza de que todos os pelos do meu corpo se arrepiaram.
Eu fiz curso de defesa pessoal, nesse momento minha posição é a seguinte: estou encostada numa parede, de certo, o estranho barrando minha passagem — como se soubesse para onde seguir na escuridão, ok
—, ele não me segura, mas prensa seu corpo ao meu, se eu trouxer a perna um pouco para direta acerto seu pau num golpe súbito. Embora esse tom não me é estranho…— Para entrar aqui tem que ser uma garota corajosa.
— Sei quem é.
— Tenho certeza que sim.
Nicholas Queen.
Dou um empurrão nele, mas o desgraçado volta como um ímã ao meu corpo e em dois tempos, rápidos demais para o meu raciocínio acompanhar, estamos fora e novamente colados a outra parede.
— Você sabe muito bem como entrar e sair, não? — falo zonza tentando assimilar o que acabou de acontecer.
— Minha especialidade. — Tem a porra do duplo sentido nessa frase. — Por que entrou ali?
— Curiosidade.
— Não vejo em você tamanha inocência.
— E nem em você alguma gentileza.
— Isso eu tenho de concordar, o tipo de aproximação que permito a uma mulher não pede gentileza, não quando o sentido é arrancar gemidos muito mais agudos do que ouviu lá dentro. — Esse olhar é… tão azul e cretino, intenso e arrogante, cheio de sou o fodão, que me tira do sério. — Não acredito que não sabia o que rola lá dentro, seu cunhado trabalha pra mim, sei que comentou… — Os fios macios do seu cabelo raspam minha orelha quando sua cabeça se move entrando na linha do meu pescoço. — Queria participar, confessa!
— Lá dentro é bem escuro, não costumo transar sem olhar nos olhos, mesmo que seja casual, só sexo, preciso desse tipo de contato íntimo com quem me fode.
Ele inspira forte, ou se não me engano suga boa parte do calor da minha carne numa aspirada felina, eu não entendo por que gotas começam a se formar e trilhar a linha da minha barriga.
Não tem ar-condicionado nessa boate?
— Devia experimentar, às vezes o corpo expressa muito mais que um olhar — rebate.
— Duvido muito.
Vasculho no imenso mar azul algo que possa usar contra ele, uma fagulha do que chamo de além das máscaras, só que Nicholas bloqueia meu acesso, não é através dos seus olhos que conseguirei enxergar sua essência. Se há alguma, depois de ter seu coração partido. Conheço as origens das suas dores, apesar de não aceitar suas atitudes imbecis, o achar inconsequente e soberbo — talvez tenha herdado tais sinônimos depois do que passou —, o considero um sobrevivente, e isso, meus caros, não garante boa conduta a ninguém no final das contas.
Por que estou filosofando por causa desse cara?
— É, talvez tenha razão — concluo meio sem jeito. Ele, porém, mantém um contato no mínimo curioso, olhos semicerrados, permitindo somente uma faixa azul entre as pálpebras, se não estou louca tem um tom desafiador em toda a composição do seu rosto. Maxilar trancado coberto por uma barba por fazer, lábios retos com uma pequena curva em um dos lados, rosto anguloso, atraente, incapaz de não provocar os sentidos de uma mulher. Nicholas Queen é sem dúvida a combinação presunçosa do pecado.
Mas não o quero próximo de mim, sei demais sobre o moinho destrutivo do seu passado e, principalmente, do valor das suas apostas.— Preciso perguntar por que ainda continua impedindo minha passagem?
Meu filho, tem um gostoso à minha espera no bar.
Ele massageia os lábios um no outro, depois deixa a língua sair como uma serpente umedecendo cada esfera de sua boca. Fixo ali, meu peito sobe e desce, minha imaginação nada inocente aperta o meio das minhas pernas. Fora esse perfume que…
— Preciso confessar que meus olhos não desviaram da pista enquanto você dançava, estou fascinado…
— Quer me levar para sua cama, Nicholas?
Sem joguinhos, meu querido.
— Se não gostar de cama, tenho uma piscina aquecida maravilhosa lá em cima, champanhe no gelo e o que mais desejar.
— Já te disseram que é um cretino?
— Aurora sempre diz, e ela tem razão. — Seus olhos caem para meus lábios, os cobiçando, os seduzindo.
— Tenho certeza absoluta de que vai se divertir bem mais comigo do que com o cara que te espera no bar.
Mordo o canto da boca e o meço da cabeça aos pés.— Eu acho que não, ele tem swing. Dá licença. — Espalmo seu tórax abrindo passagem. Porra, é duro pra caralho! — O Luís está à minha espera.
Tenho certeza de que o nome dele é Luís.