Narrado por Daniel
O tempo aqui dentro passa como se tivesse preguiça. Cada segundo se arrasta, pesado, sujo, silencioso demais. A cela tem cheiro de ferro, de fracasso, de mim. As paredes me encaram com a mesma decepção que eu vejo no espelho todos os dias.
Não me arrependo. Não totalmente.
Eu só queria... Camila. Ela sempre foi o centro do meu mundo, mesmo sem saber. Mesmo sem nunca ter me dado um beijo, um sim, ou sequer um olhar de verdade. Mas ela era minha. Na minha cabeça, no meu coração torto, ela sempre foi.
A visita foi anunciada no meio da tarde. Eu nem me mexi no primeiro momento, achando que era engano. Ninguém me visitava. Ninguém.
Mas não era engano. Era Mariana.
Ela entrou com o rosto carregado, os olhos amargos, a postura dura. Me sentei na frente dela, separados pelo vidro grosso. Peguei o telefone.
— Mariana...
Ela não sorriu. Nem tentou.
— Vim te dar duas notícias. Uma boa e uma ruim. Quer ouvir qual primeiro?
Dei de ombros. Que diferença fazia?
— A ruim — murmurei