Théo

Théo Narrando

Meu nome é Theodoro Sullivan. Mas me chamam de Théo. Tenho vinte e nove anos e sou CEO da Sullivan Energy Corp, uma das maiores empresas de petróleo dos Estados Unidos. Não herdei nada. Nenhum centavo. Nenhum sobrenome de prestígio. O que construí veio de sangue, suor e da fúria que carreguei no peito desde a infância.

Cresci no inferno. Meu pai era um verme viciado em crack. Um monstro que achava que bater era forma de impor respeito. Minha mãe apanhava calada, tentando proteger a mim e meu irmão, Dylan. Eu era só uma criança, mas já sabia o que era sentir ódio. Não o tipo banal que as pessoas usam quando reclamam do trânsito ou do tempo. Falo de um rancor corrosivo, que destrói tudo por dentro e empurra você pra frente como um combustível instável.

A gente vivia num barraco de merda, cercado por dívidas, gritos e ameaças. Até que um dia os agiotas bateram na porta. Não era pra cobrar. Vieram pra matar. E mataram. Meu pai morreu no chão da sala, ensanguentado, com os olhos abertos como se estivesse surpreso por finalmente ter tido o que merecia.

Minha mãe agarrou eu e Dylan e fugimos naquela noite. Sem rumo, sem dinheiro, com medo até da nossa sombra. Dormimos em abrigos, estações, calçadas. Durante um tempo, achei que o mundo inteiro era feito de lama.

Foi no ensino médio que tudo mudou. Conheci Bryan, um garoto legal, certinho, filho de uma professora e de um advogado. Ele não tinha nada a ver comigo, mas, por algum motivo, se aproximou. Talvez tenha visto algo em mim. Um brilho na escuridão, sei lá. A verdade é que a família dele nos acolheu como se fôssemos parentes. Minha mãe conseguiu emprego como assistente administrativa e, pela primeira vez, tivemos uma casa decente, comida na mesa e um quarto com porta.

Com essa nova chance, prometi pra mim mesmo: nunca mais dependeria de ninguém.

Estudei como um condenado. Eu e Dylan mergulhamos nos livros, nas fórmulas, nas teorias. Entramos como estagiários em uma refinaria pequena no Texas. Trabalhamos como cães. Viramos noites, abrimos mão de festas, relacionamentos e conforto. Aos poucos, fomos acumulando conhecimento, contatos e um plano. Um ousado, arriscado, insano plano.

Montamos uma empresa minúscula com o que conseguimos juntar. E crescemos. Um contrato aqui, outro ali. Uma oportunidade que ninguém quis, mas a gente agarrou. E quando perceberam, a Sullivan Energy já era uma potência. Refinarias, plataformas, negócios em três continentes. E tudo administrado com mão de ferro por mim.

Eu era o cérebro. Dylan era a execução. Por muito tempo funcionamos assim, irmãos, sócios, quase inseparáveis. Até Mayra.

Ah, Mayra. A mulher mais linda que já passou pelos meus olhos. Inteligente, charmosa, cheia de atitude. Quando a conheci, me vi amolecer. Acreditei, pela primeira vez, que poderia ter alguém ao meu lado, que não fosse me trair, que não fosse me abandonar.

Casamos quando ela engravidou. Comprei uma mansão pra ela. Dei tudo. Joias, viagens, status. E fui traído da forma mais suja que alguém pode ser.

O filho que ela esperava, não era meu.

Era do Dylan.

Sim. Meu irmão. Meu sangue. O desgraçado que cresceu comigo, sobreviveu ao inferno comigo, dormiu no mesmo chão que eu. Me apunhalou pelas costas. E ela? Ela sabia o que fazia. Me olhava nos olhos e mentia com a frieza de uma víbora.

Quando descobri, não gritei. Não quebrei nada. Só tomei uma decisão: Dylan estava fora. A parte dele na empresa? Comprei com um empréstimo milionário, mas paguei com gosto. Valeu cada centavo. Expulsei ele do conselho, da diretoria, da minha vida. Mayra? Desapareceu com o filho nos braços. Nunca mais falei o nome dela em voz alta. Nem vou.

Desde então, construí muros. Altos. Intransponíveis.

Virei o CEO que todos temem. Arrogante? Talvez. Mas ser bom nunca me trouxe nada além de traições. Hoje, comando um império bilionário com a frieza de quem aprendeu que sentimentos são fraqueza. Não me envolvo. Não crio laços. Não confio em ninguém, com exceção de um: Bryan.

Meu velho amigo continua ao meu lado. Só ele. E talvez por isso eu ainda tenha um pingo de humanidade.

A mídia me pinta como vilão. Frio, distante, calculista. Estão certos. Me tornei assim por necessidade. No mundo corporativo, ou você engole ou é engolido. E eu não fui feito pra rastejar.

Tenho minha cobertura em Manhattan, carros que valem mais que bairros inteiros, ações em bolsa que dobram em valor toda semana. Mulheres se jogam aos meus pés, mas nenhuma fica. Não porque não queiram. Porque eu não deixo.

Amor? Eu vi o que ele faz. Confiança? Sei onde ela me levou. Família? Foi destruída por quem deveria protegê-la.

Então eu sigo sozinho. Imbatível. Intocável.

Mas às vezes, nas madrugadas silenciosas, com a cidade aos meus pés e o copo de uísque na mão, me pego pensando. E se tudo isso não for o bastante? E se esse império, construído com dor e desilusão, for apenas um castelo de areia esperando a próxima onda?

Afasto os pensamentos. Eles me enfraquecem.

Quando eu transferi a sede da empresa pros Estados Unidos, fiz questão de deixar o Texas e tudo que veio com ele pra trás. Não queria lembranças, raízes, nem fantasmas rondando meus passos. O passado ficou enterrado onde deveria: bem longe de mim. Minha mãe. Ela escolheu ficar. Disse que não podia abandonar tudo de novo, que já tinha estabilidade, amigos, uma rotina. Respeitei. Dei a ela o conforto que nunca teve enquanto apanhava de um marido podre ou trabalhava três turnos pra nos alimentar.

Hoje, minha mãe vive numa mansão que comprei à beira de um lago, com empregados, carro blindado e tudo que o dinheiro pode pagar. Ela não tem preocupações. Só aparece aqui uma vez por ano, fica comigo por um mês, me abraça como se ainda fosse aquele moleque sujo de poeira e fome, e depois volta pra vida sossegada que eu proporcionei. É o mínimo depois de tudo que ela passou.

Mas existe uma regra. Inquebrável. Dentro da minha casa, é proibido falar o nome daquele traidor miserável. Não aceito sequer menções, olhares carregados de saudade ou discursos de “ele ainda é seu irmão”. Porque pra mim, Dylan morreu. Enterrei junto com a confiança que destruímos naquela época. E minha mãe sabe. Aprendeu a respeitar meus limites, mesmo que seu coração de mãe insista em sangrar pelo canalha.

Sei que ela tenta equilibrar os dois lados. Sei que ela ama os dois filhos. Mas prefiro que respeite os limites.

Aquele mês que ela passa comigo é o suficiente. Não preciso de mais. Já aprendi a conviver com a solidão. Ela, pelo menos, não me trai.

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